Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de março, 2019

Vinte e duas passagens de Clarice Lispector nas crônicas de 1968

Clarice Lispector - foto daqui “Mas quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no meio da noite e ter essa coisa rara: solidão. Quase nenhum ruído. Só o das ondas do mar batendo na praia. E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada. É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem aquele toque súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo. As nuvens se clareando sob um sol às vezes pálido como uma lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou talvez a primeira do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha. E sinto-me feliz por nada, por tudo. Até que, com o sol subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com meus filhos sonolentos.” “Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude.” “(...) Acho que aprendi o que vou contar com meu pai. Quando elogiavam demais alguém, ele resumia sóbrio e calmo:

Kátia Borges, a curadora da Flica 2019

Kátia Borges - Foto: Divulgação Flica anuncia nova curadora para a edição 2019 A escritora, jornalista e professora baiana Kátia Borges é a nova curadora da Flica , responsável por escolher as atrações das “ Mesas Literárias ”, considerada a principal programação da Festa Literária Internacional de Cachoeira . Ela substitui o escritor e fotógrafo baiano Tom Correia , que assinou a curadoria em 2017 e 2018. Mestre e Doutora em Literatura e Cultura pela Ufba, cronista do jornal Correio (com coluna fixa publicada aos sábados), Kátia Borges é um dos principais nomes da poesia contemporânea na Bahia, autora de seis livros, como “Ticket Zen” (vencedor do edital de literatura da Funceb), “Uma Balada para Janis”, “São Selvagem” e “O exercício da distração”. Seus poemas foram publicados em diversas coletâneas no Brasil e em outros países, como “Roteiro da Poesia Brasileira – Anos 2000”, “Traversée d’Océans – Voix poétiques de Bretagne et de Bahia”, “Mini-Anthology of Brazilian Poetry

Flica 2018 — Resumo oficial

Resumo da 8 ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira , a Flica 2018, que aconteceu de 11 a 14 de outubro, na charmosa cidade histórica de Cachoeira, recôncavo baiano. Ministério da Cultura e Governo do Estado apresentam Flica 2018, com patrocínio master da Bahiatursa, Secretaria do Turismo, Governo do Estado e BNDES, apoio da Prefeitura Municipal de Cachoeira e Caixa, realização da Cali , Icontent, Ministério da Cultura e Governo Federal. A livraria oficial foi a LDM. Site oficial aqui Registro audiovisual: Mulher de Bigode Filmes Não consegue visualizar o player? Veja no YouTube aqui Veja no YouTube da Cali aqui Balanço da Flica 2018 Não consegue visualizar o player? Veja no YouTube aqui Veja no YouTube da Cali aqui

Música para Escrever #27 — Avalon, December, Aesthesys, MoYaN, Stubborn Tiny Lights VS Clustering Darkness Forever OK, Loud Exit, Sairen, A Swarm of the Sun, Often the Thinker e Hope and Black Cloud

Mas a história da letra Æ remete a mil camadas para o céu. O vento do outono produz montanhas na areia. Alfa e Ômega na pluma do credo, o torso do pequeno mar lunar na Terra Nivium da Lua. O escuro cruza a linha da costa, essa luz fria do céu que nunca existiu. Ouve-se a queda hipnótica num EP. Num outro EP, o segundo regresso infinito. Como uma saída barulhenta, a grandiosa cidade fuma. À porta da noite de neve, os bosques, essa melhor parte do vício da vida longa de lado: há esperança e a nuvem negra. Confira o post #27 da série Música para Escrever , com os melhores sons de post-rock, a alumiar a mente e transcender em palavras. Avalon Haifa | Israel Bandcamp aqui Spotify aqui Foto daqui Melhor disco para escrever " En Saga " (2015) Ouça aqui Para continuar escrevendo " Æ " (2011) Ouça aqui " Thousand Layers to Heaven " (2014) Ouça aqui " Autumn Wind " (2017) Ouça aqui &quo

Estado de graça, trecho de Clarice Lispector

Estado de graça – Trecho Clarice Lispector Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à inspiração, que é uma graça especial que tantas vezes acontece aos que lidam com arte. O estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se existe. Nesse estado, além da tranquila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve porque na graça tudo é tão, tão leve. É uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Não perguntem o quê, porque só posso responder do mesmo modo infantil: sem esforço, sabe-se. E há uma bem-aventurança física que a nada se compara. O corpo se transforma num dom. E se sente que é um dom porque se está experimentando, numa fonte direta, a dádiva indubitável de existir materialmente. No estado de graça vê-se às vezes a profunda beleza, antes inatingível, de outra pessoa.  Tudo, aliás, ganha uma espécie de

Glauber Rocha por André Setaro

Glauber Rocha e André Setaro - Fotos daqui e daqui Hoje, 14 de março , caso estivesse vivo, o cineasta Glauber Rocha faria 80 anos . Para celebrar a data, publico o texto 30 anos sem Glauber , do mestre André Setaro (1950-2014), extraído do seu blog. Confira abaixo. Setaro eterno! Glauber também. 30 anos sem Glauber André Setaro (25/08/2011) Neste aziago mês de agosto, no vindouro dia 22, completa 30 anos (três décadas nada prodigiosas) da morte prematura do grande cineasta baiano Glauber Rocha. Nascido em Vitória da Conquista (interior da Bahia) em 14 de março de 1939, Glauber veio a falecer com apenas 42 anos de idade. Não vou, aqui, falar de sua obra, pois muitos já escreveram sobre ela, inclusive este que vos fala. Mas rememorar alguns encontros que tive com ele em Salvador, Bahia. Não sou da geração de Glauber, porque vim ao mundo (sem ter sido consultado para isso) em outubro de 1950, 11 anos depois do nascimento do artista. O primeiro impacto glauberiano, por