Emmanuel Mirdad no local onde escreveu “oroboro baobá” “Amanhece. Três homens se preparam, na foz do rio Caraíva, para zarpar à lida no mar. Alderico, líder dos pescadores e dono do barco Correnteza, reclama da perda de trabalhadores para a hotelaria. Enquanto arruma a rede, colocada a bordo por Josias, o índio Burianã Pataxó expõe a fratura: — Servir turista dá mais dinheiro. No mar, só vai quem ama. Ou se é infeliz. O Correnteza navega, paralelo à praia. É cedo, e a paisagem, mesmo camuflada pela rotina, ainda é capaz de inebriar Burianã, que canta sobre uma lenda em que o magnífico se materializa na forma de um ente que distorce o tempo e habita o espaço entre as palavras. Josias reconhece a melodia e tenta acompanhar, mas desafina e desiste; começa a descascar uma cana-de-açúcar. Alderico guia a embarcação, a praguejar contra os forasteiros que investem na Vila de Caraíva. O pataxó termina de cantar, e o som reverbera, por dentro, o encanto:
O lampião e a peneira do mestiço