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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

Dez anos que ganhei o primeiro edital

Hoje, dez anos atrás, o Oi Futuro divulgou o resultado do edital nacional de patrocínios culturais incentivados, e, para a minha imensa surpresa, fui contemplado! Foi a primeira vez que ganhei um edital (na primeira vez que participava de um), com um projeto que criei sozinho (no Réveillon de 2006-2007 lá no paraíso de Barra Grande, Bahia). Considero essa data de 28/02/2008 um marco para mim, pois foi o começo da profissionalização da carreira de produtor cultural, que havia começado em 1999 (produtor de discos e bandas com minhas composições e agente de shows de bandas de rock), e que culminou na abertura de uma empresa – até chegar em 2013 , quando abri, com mais dois sócios, a Cali , o atual negócio. O projeto contemplado foi a 1ª edição de um prêmio voltado ao rock na Bahia. A tarja preta na imagem acima é porque o nome homenageava um grande ícone do rock nacional, que uma parte dos herdeiros se recusou a liberar o uso. Depois, em 26 de junho, ele seria renomeado para Prê

Os melhores versos do poema Umbigo, de Nicolas Behr — Parte 06

Nicolas Behr - Foto: Divulgação “minha poesia refloresta desertos com árvores de areia e planta sementes de ar ao vento” “minha poesia é o lado de dentro do lado de fora” “minha poesia é o descanso da morte” “minha poesia traduz a falta do que dizer” “minha poesia é a libertação do medo do ridículo” “minha poesia é um pouco de mim nos outros, um pouco de você em mim, nós diluídos no cosmo” “minha poesia é uma emoção que começa na célula, passa pela proteína, dá um alô pros neurônios e aí chega até você na forma de abraço” “minha poesia é meu filho desenhando um sapo” “minha poesia é o ar que entra pela sua janela” “minha poesia vaia o aplauso dos que não gostaram” “minha poesia rasga em pedacinhos o bilhete enviado pelo rapaz da mesa ao lado” “minha poesia não aceita os limites de criação impostos pela liberdade de expressão” “minha poesia encontrou uma maneira original de não dizer nada dizendo tudo” “minha poesia é à prova de fogo mas o poeta se

Cinco poemas e três passagens de Angélica Amâncio no livro Adagio ma non troppo e outras canções sem palavras

Angélica Amâncio - Foto: Divulgação Lamento em frame Angélica Amâncio Fotografias da África do sertão da guerra da fronteira. Crianças de ventre cheio de verme e vazio ratos em palafitas mulheres de seios tristes esgotos e olhos duros em homens que apanham café cortam cana domam cavalos. A pobreza não sabe distinguir Nikon de Canon não quer parede nem porta-retrato. A pobreza não se acha bonita. Se olha para a câmera é porque tem fome tem frio e clama. -------- Impressões em fuga Angélica Amâncio Numa fortuna de fotografias, ainda que tiradas do parapeito da mesma janela, o céu nunca se repete. Nem por palavras se permite possuir sendo tantas as tonalidades de cinza, laranja ou azul os acordes em que se dispõem as estrelas a densidade das nuvens e seu desejo de cobrir ou desnudar o sol. A lua afogada na poça de água é um sussurro de luz que não imitam meu verso a lábia do amante nem o piano melífluo de Claude Debuss

Cinco poemas e três passagens de Daniela Galdino no livro Espaço visceral

Daniela Galdino - Foto: Ana Lee Vagar lume Daniela Galdino a covardia como evangelho deita o amor na vala comum queima tardes promissoras nove adiamentos novos somos palavras conhecidas comprimindo o indizível giram os céus e os templos folhinhas anunciando virtudes: heroísmo fajuto a fazer desonras esperdicemos tubos de avidez aos dias nós obrigamos o esbanje depois, na janela de algum trem, (in)felizes veremos passar o desejo tocaremos a derradeira corda de um alaúde troncho e caminharemos apartados na vergonha de não termos sido -------- Arada Daniela Galdino ostento cara de terra espírito de poço índole mar remota felicidade sempre tive irrigada padeço estranheza, pra mim, é abre-te sésamo vagueio em cova funda porque estou semente gozo no sereno inerte numa pedra de amolar corro as sete freguesias e fastio não me alcança levo fachos de gritos aonde me querem muda replantando-me dou cestos fartos -------- Afluentes

Os dez melhores poemas da revista Organismo #03

Diga trinta-e-três Angélica Amâncio Ontem 33 caralhos invadiram o corpo doído e dopado de uma menina de 16 anos na cidade maravilhosa. No Brasil, a cada 11 minutos, uma mulher é violada – são 9 no tempo de uma partida de futebol com acréscimos. 50 mil mulheres são as que declararam terem sido violentadas no espaço de 12 meses num beco num quarto de criança numa cama de casal com crucifixo em cima. Outras 90% se calam já que dos estupradores 6% em 26 estados e um distrito federal são levados a julgamento. Ontem 33 caralhos invadiram o corpo dopado e doído de uma menina de 16 anos na cidade maravilhosa. Hoje 33 é um número doente. Seria menos triste se tivessem sido 33 tigres 33 tubarões farejando sangue 33 ratos de esgoto... Mas eram homens. -------- O deserto vermelho Simone Teodoro Em minha solidão mora um mar de água transparente e uma praia carmim Como num filme de Antonioni Chego ao mesmo tempo que o Sol Parto

Os melhores versos do poema Umbigo, de Nicolas Behr — Parte 05

Nicolas Behr - Foto: Divulgação “minha poesia sabe que todas as verdades são falsas” “minha poesia se torna presente na ausência” “minha poesia corre pro abraço, cai, quebra a cara” “minha poesia é explosão vulcânica pra dentro” “minha poesia é a casca tatuando o corpo da árvore” “minha poesia perde as folhas e aí dá sombra” “minha poesia fala através das próprias ruínas” “minha poesia já foi longe demais. melhor voltar” “minha poesia decreta: amai-vos uns aos outros e o resto que se foda” “minha poesia têm um papel higiênico a cumprir” “minha poesia é uma palavra que resolveu ter cor” “minha poesia faz com os pés o autoexame dos seios” “minha poesia tem estilo. o problema são as moscas” “minha poesia é colagem, miragem, ilusão, efeito” “minha poesia seca as mãos com água, limpa as mãos com terra, corta as mãos com agulha” “minha poesia admira a paisagem dos elevadores” “minha poesia são palavras frias que são flores secas que são frutos podres q

Cinco poemas e três passagens de Izabela Orlandi no livro Vão dos bichos

Izabela Orlandi - Foto daqui Izabela Orlandi era claro e havia o bicho e só quando escuro havia o homem era claro e havia o silêncio e só quando escuro havia a palavra você insistiu em negar todas as noites e a exatidão me perguntava todos os significados mas eu te fiz o escuro de olhos abertos sente só: o ar que eu passei entre os seus dedos, só assim é bicho e homem é silêncio e palavra e mar -------- Inevitável Izabela Orlandi Visito à noite um cemitério, se aqui você pudesse me tocar sem palavras sem objetivo sem relógio espreitando a morte celebraríamos a vida? Aqui me dispo dos toques que guardei e inebriada pelo álcool o cheiro da morte escorre fervendo pela pele. Por estar sozinha se torna secreto o visível gozo da fuga. (já se desfaz a lembrança de onde estamos.) Mal-me-quer bem-me-quer: Sei que você não enxerga nenhuma flor aqui. (eu destruí todas) Se desfaça com calma da brasa que te queima e faz viver a sua e

Mapa de influências de Emmanuel Mirdad

Achei interessante o viral da vez, e resolvi testar também. Seguem abaixo as minhas principais influências na literatura, música, cinema e série audiovisual (pelo menos as que eu me lembrei enquanto montava os mosaicos). Se quiser brincar também, o link é esse aqui  (mas você vai ter que baixar no Google as fotos ou as imagens das influências). LITERATURA MÚSICA CINEMA SÉRIE AUDIOVISUAL

Seleta: Puddles Pity Party

Puddles Pity Party (foto daqui ) O cantor que mais admiro no momento é um palhaço triste: Puddles Pity Party . Interpretado pelo cantor, músico e ator norte-americano Big Mike Geier (Philadelphia, 1964), um talentoso gigante de mais de 2 metros, apresenta-se em vídeos curtos no YouTube, com uma excelente resposta de público para um artista independente (atualmente, o canal Puddles Pity Party tem mais de 47 milhões de views e mais de 350 mil inscritos ), interpretando canções reconhecidas como Wish You Were Here , do Pink Floyd (primeiro vídeo que conheci o seu trabalho) e Losing My Religion , do R.E.M. , seja num café voz e violão, ou com banda completa. Estou muito fã do timbre grave da sua voz, e a interpretação precisa, na dosagem do encanto. Aproveitei e fiz uma seleta com as melhores 34 canções interpretadas por Puddles Pity Party , confira: Ouça no Spotify aqui  [não tem todas as músicas] Veja no YouTube  aqui 01)  Wish You Were Here  [Pink Floyd] 02)  The Sound of Silence

Os dez melhores poemas da revista Organismo #02

Izabela Orlandi eu sempre te disse que queria morrer em um lugar devastado como dentro do seu útero. um lugar sem som em que meus olhos encarassem o vazio que vi enquanto você adormecia eu tenho certeza que sentiria o mesmo prazer de quando senti o seu pau e a noite e você sentiu os meus braços e a essência eu tenho certeza que essa morte seria vazia e nossos restos não produziriam mais um único som nós estaríamos mais próximos da carne e não a usaríamos como desculpa obrigação e refúgio neste lugar colaboraríamos com o silêncio como sempre desejamos em vão -------- Chapeuzinho Vermelho Carollini Assis Enquanto seu lobo não vem, visito o lenhador. -------- Cântico dos cânticos Lívia Natália Sua boca banha minha outra boca nela, os lábios desabrocham como pétalas perfumosas. Sua boca banha minha outra boca, enquanto minha mãos rasgam, no ar, as sutilezas. Sua língua lambe minha palavra mais secreta que, ereta, canta o vigor desta es

Cinco poemas e três passagens de Ruy Espinheira Filho no livro Babilônia & outros poemas

Ruy Espinheira Filho - Foto: Marina Silva O passado Ruy Espinheira Filho É verdade, escrevo muito sobre o passado, porque nele é que está tudo em seu lugar e ninguém se foi. O passado. Que é, na verdade, o que possuímos, pois o presente acabou de passar e o futuro é um sonho que jamais alcançaremos simplesmente pelo que é: futuro. É, enfim, o que temos, o que somos: o passado. Que, como se sabe, sendo passado, não passa. E às vezes é doloroso, como aquela janela alta de onde nunca desceram sobre mim os longos cabelos da amada. Que não me amou, mas, por isso mesmo, se fez musa por toda a vida. O passado. Que é também o que um dia morreremos, quando morrermos de verdade. No meu caso, subindo pelos longos cabelos lançados da mais alta janela sobre mim. -------- Importância Ruy Espinheira Filho Há os que chegam ao momento em que dizem, com verdade, que já mais nada importa. Com verdade, sim, acredito. Mas eu, se disser a mesma coisa

Os melhores versos do poema Umbigo, de Nicolas Behr — Parte 04

Nicolas Behr - Foto: Ésio Macedo Ribeiro “minha poesia é o acupunturista usando parafusos” “minha poesia é a pedra no estilingue do menino palestino morto com um tiro na cabeça” “minha poesia faz silêncio na cama pra ouvir o barulhinho gostoso do orgasmo” “minha poesia desnuda a alma mas não tira a roupa” “minha poesia é a umidade da amazônia que você sente no interior da paraiba” “minha poesia é como uma árvore rara, solitária, florida, esquecida, no meio do sertão da bahia” “minha poesia deixa o tempo chuvoso no piauí” “minha poesia pede aos que tiveram a mão decepada que levantem o dedo” “minha poesia é a preferida das traças” “minha poesia é uma árvore-da-felicidade com depressão nas folhas, esquizofrenia nas flores” “minha poesia na sala de espera do analista rasga a revista, chuta a porta e pula do edifício” “minha poesia é o bilhete do suicida arrependido” “minha poesia salva-vidas mas afoga os mortos” “minha poesia são unhas roendo dentes”

Zygmunt Bauman, preciso

Zygmunt Bauman (1925-2017) - Foto daqui “Foi o conhecimento de que tinham da morte, da brevidade inegociável do tempo, da possibilidade de as visões permanecerem irrealizadas, de os projetos não serem concluídos e as coisas não feitas que instigou os seres humanos à ação e fez sua imaginação voar. Foi esse conhecimento que tornou a criação cultural uma necessidade e transformou os seres humanos em criaturas da cultura. Desde os primórdios da cultura, e através de sua longa história, seu motor tem sido a necessidade de preencher o abismo que separa transitoriedade e eterno, finitude e infinito, vida mortal e imortalidade, ou o ímpeto de construir uma ponte que permita a passagem de uma extremidade à outra, ou o impulso de capacitar os mortais para imprimir na eternidade sua presença contínua, nela deixando a marca de nossa visita, ainda que breve.” Presente em Cegueira moral — A perda da sensibilidade na modernidade líquida (Zahar, 2014), página 124, livro de diálogos com

Cinco poemas e três passagens de Daniela Galdino no livro Inúmera / Innumerous

Daniela Galdino - Foto: Ana Lee Rotina Daniela Galdino Não preciso de alguém que a mim defina. Definho... Mergulho na grande cesta de lixo Misturada às flores machucadas Mas eu driblo o destino irreciclável. Permaneço onde não se supõe. Escapo da morte cosendo melodias singulares. Reinvento a poética na travessia das manhãs. Madrugo vagareza comendo as folhas do tempo. O estopim do verde basta às minhas necessidades. Devoro com vigor o produto da minha fertilidade. Eu também sou o meu principal nutriente. Em prolongados silêncios refloresto-me. Em desmedidos gestos refloresço-me. Espalho aromas e rompo o casulo: em minha casa todos os dias eu viro borboleta. -------- Ardil Daniela Galdino recolher a matéria que é de silêncios: eu não quero levantar a palavra em vão porque... quando eu falar irão despregar todas as estrelas do meu céu da boca. -------- Obra de fricção Daniela Galdino Gosto de homens que têm buceta imagin