Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2015

Olhos abertos no escuro — Epígrafe de Mayrant Gallo e dedicatória

A frase foi retirada do livro de contos Pés quentes nas noites frias  (Funceb-EGBA, 1999), de Mayrant Gallo , pg. 31, conto Noite em Brotas , para ser a epígrafe do meu livro de contos  Olhos abertos no escuro . Foi difícil escolher uma epígrafe, pois Mayrant tem diversas frases geniais (veja esse compilado especial para títulos que peneirei aqui ) . Formando o meu contexto para a criação deste livro, li Mayrant Gallo, Hélio Pólvora, Nelson Rodrigues, Anton Tchekhov, Dino Buzzati, Guy de Maupassant e Gonçalo M. Tavares. E o escrevi ao som do duo norte-americano Hammock. Dedico-o, com reverência, ao escritor, mestre e grande amigo Mayrant Gallo.

Origem do título Olhos abertos no escuro

Título extraído do conto Gravidade , página 23 do livro O inédito de Kafka (Cosac Naify, 2003), de Mayrant Gallo , escritor, mestre e exímio contista homenageado do livro Olhos abertos no escuro  (Via Litterarum, 2016) de Emmanuel Mirdad , a ser lançado aqui . Olhos abertos no escuro no traço do seu autor.

Cinco passagens de Bruno Liberal no livro Olho morto amarelo

Bruno Liberal (foto daqui ) "Eles conversam animadamente entre si. Todos gesticulando, comendo, bebendo, rindo. E o velho na ponta da mesa observando a todos com seus olhos de panda, tentando reconhecer cada um daquela mesa. (...) A dificuldade de resgatar na memória os rostos deixa-o cansado. (...) Perde o interesse. (...) Fixa os olhos no prato vazio. (...) Havia uma consciência cega de fazer parte daquilo tudo e, ao mesmo tempo, não ser parte de coisa alguma. Um pedaço de osso arrancado da carne macia e suculenta e deixado de lado. Fazia parte geneticamente, mas não havia unidade. (...) Batucando com ossos na mesa de madeira maciça. Ossos que serão enterrados em pouco tempo. Ossos que servirão de alimento ao infinito. (...) Ossos de carbono. (...) E a mesa é barulhenta e farta no Natal. (...) Ele, o velho, poderia falar qualquer coisa. Gritar qualquer besteira. Mas a última coisa que disse foi há 40 minutos. (...) Batuca sua música antiga e sente a invisibilidade da velhi

Seis passagens de Victor Mascarenhas no livro Um certo mal-estar

Victor Mascarenhas Foto: Vinícius Xavier "(...) Naquele momento, Geraldo percebeu que nem ele, nem sua ex-namorada ou qualquer um dos seus amigos de juventude, mesmo os mais brilhantes, bonitos ou talentosos, escaparam da vida real e da sua mediocridade opressiva. Geraldo viu os melhores da sua geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos e arrastando-se pelas ruas como um exército de contadores, advogados, funcionários públicos, bancários, donas de casa e outras ocupações opacas e bem diferentes do futuro luminoso que todos haviam sonhado. (...) Seus pensamentos foram interrompidos por um leve cutucão nas suas costas. Era um senhor mais interessado no arroz à grega do bandejão do que em devaneios sobre as ilusões perdidas da juventude de quem quer que seja. (...)" "(...) Ninguém no grupo que ele e Bia integravam tinha lido o livro, mas alguém falou que conhecia uma pessoa que parece que tinha lido e dito que era racista, que o autor era um re

Quatro passagens de Márcio Matos no livro Ave Noturna

Márcio Matos Foto: Divulgação "As cores estremecidas da atmosfera percorriam um século de pequenas partículas de poeira, esfumando discretamente a paisagem. Quando há tempo, há sempre uma remota chance de humanidade, mesmo nos locais mais hostis, onde as pessoas apenas respiram na certeza de que alguém ou algo infinito lhes guarde um futuro glorioso." "Ao ver o corpo estirado, o coveiro se refestelou. Atirou-se sobre a mulher e abriu a braguilha da calça com agonia. A expiração que vinha dos pulmões subia até a garganta em direção ao ar, alagando narinas e boca como um vômito incontrolável de gás e calor. Estrebuchava feito verme no lodo, o sangue misturado ao suor dos corpos, mas, para a sua sorte, calhou de não haver nenhum sepultamento naquela tarde." "A incrível sucessão de escusas não tinha fim. Contagiava inocentes úteis, parasitava o raciocínio de pessoas mais lúcidas, avolumava-se na consciência do promotor. Para Prudente, o caso se transf

Dedicatórias: Livros de Victor Mascarenhas, Márcio Matos, Bruno Liberal e Ferreira Gullar

Livros de Victor Mascarenhas, Márcio Matos, Bruno Liberal e Ferreira Gullar 2015 –  Um certo mal-estar (Solisluna, 2015) Victor Mascarenhas "Para Mirdad, o maior e mais ativo escritor e agitador cultural da Bahia e adjacências. Abraço, Victor. 19/11/15" ----------- 2015 –  Ave noturna (Via Litterarum, 2015) Márcio Matos "Para um comparsa de vôos memoráveis! Obrigado por tudo, velhão! Forte abraço! Márcio Matos. 12.11.15" ----------- 2015 –  O contrário de B. (Confraria do Vento, 2015) Bruno Liberal "Para Emmanuel Mirdad, esta inversão que também é realidade. Abraço do amigo Bruno Liberal. 05.11.15" ----------- 2015 –  O prazer do poema – Uma antologia pessoal (Edições de Janeiro, 2014) Organizada por Ferreira Gullar Presente de Sarah Fernandes "Feliz (que estou pelo afeto que fez morada aqui) aniversário! Sarah, da tua menina. 07/10/2015"

Os 50 melhores contos do livro Os cem melhores contos brasileiros do século

Seleção feita por Mirdad em outubro e novembro de 2015, da seleção de Ítalo Moriconi publicada no ano 2000 01) A nova Califórnia   (1910) — Lima Barreto Transformar ossos em ouro. O que pode acontecer numa cidadezinha do interior diante tamanha descoberta tentadora? "A religião da morte precede todas e certamente será a última a morrer nas consciências." 02) Feliz aniversário  (1960) — Clarice Lispector A numerosa família se reúne para celebrar o aniversário de 89 anos da matriarca, que resume bem a sua felicidade pelo encontro: "Que o diabo vos carregue, corja de maricas, cornos e vagabundas! Me dá um copo de vinho, Doroty!" 03) Linda, uma história horrível  (1988) — Caio Fernando Abreu O filho, à beira dos quarenta, retorna à casa da velha mãe. Carrega o peso de uma terrível revelação, mortal. Será capaz de compartilhá-la? "— Mãe — ele começou. A voz tremia. — Mãe, é tão difícil — repetiu." 04) Entre irmãos  (1959) — José J. Veiga

Olhos abertos no escuro — Posfácio de Carlos Barbosa

Carlos Barbosa - Foto: Sarah Fernandes O escritor e jornalista Carlos Barbosa , autor dos livros Obscenas e Beira de rio, correnteza , entre outros, escreveu o posfácio do livro Olhos abertos no escuro  (Via Litterarum, 2016), de Emmanuel Mirdad . Veja abaixo (após as imagens do posfácio no livro, texto na íntegra): O que se conta de Olhos abertos no escuro “A partir de agora, só escrevo romance”. Começo com essa notícia propalada por Emmanuel Mirdad. Depois deste livro, cuja leitura você encerrou há pouco, nunca mais contos mirdadianos. E este é apenas seu terceiro livro do gênero. Veio bem, faço o registro, até esta parte que ora diz encerrar. Mas daqui me pergunto se o conto foi consultado. O conto que também é trezentos, trezentos e cinquenta. E que tem lá suas múltiplas exigências. Pois me vem a lembrança da lenda que flui de certo poeta alexandrino: preparava-se no horário do almoço para escrever poemas, e a poesia não se fazia pres

Olhos abertos no escuro — Orelha de Victor Mascarenhas

Victor Mascarenhas - Foto: Facebook do escritor O escritor e roteirista Victor Mascarenhas , autor dos livros Um certo mal-estar , A insuportável família feliz e Cafeína , escreveu a orelha do livro Olhos abertos no escuro   (Via Litterarum, 2016), de Emmanuel Mirdad . Veja abaixo (após a imagem da orelha na capa do livro, texto na íntegra): Um milenar ditado chinês diz: “Procure acender uma vela em vez de amaldiçoar a escuridão”. Não sei se li isso num velho livro ou num biscoito da sorte, mas o conselho pode ajudar você na leitura de “Olhos abertos no escuro”, de Emmanuel Mirdad, uma coleção de contos que apresenta uma plêiade de personagens que vagueiam por aí, levando sua escuridão particular a qualquer hora do dia e da noite, assombrando e tirando o sono dos incautos leitores. E quem haveria de dormir estando obcecado por uma ninfeta que nada na raia ao lado ou remoendo os anos dourados do sucesso fugidio? Como pegar no sono assombrado por zumbis delirantes ou sen

Catorze passagens do mestre Guy de Maupassant no livro As grandes paixões

Guy de Maupassant (foto: Internet – interferida por Mirdad) "Ordens gritadas por uma voz desconhecida e gutural subiam ao longo das casas que pareciam mortas e desertas, enquanto por trás das venezianas cerradas olhos espreitavam estes homens vitoriosos, donos, por 'direito de guerra', da cidade, das fortunas e das vidas. Em seus quartos escurecidos, os habitantes sentiam o desespero dos grandes cataclismos, as grandes convulsões terrestres, contra os quais eram inúteis a sabedoria e a força. Sensação idêntica reaparece cada vez que se subverte a ordem estabelecida das coisas, a segurança deixa de existir e tudo que era protegido pelas leis dos homens ou da natureza se encontra à mercê de uma brutalidade inconsciente e feroz. O terremoto que esmaga populações inteiras sob os escombros das casas; o rio que transborda e carrega camponeses afogados juntamente com cadáveres de bois e traves arrancadas dos tetos; ou o exército glorioso dizimando aqueles que se defendem, ap

Vinte e oito passagens do mestre Dino Buzzati

Dino Buzzati Foto: Divulgação | Arte: Mirdad "Seu quarto permanecera idêntico, assim como o deixara, nem um livro fora deslocado. Porém, pareceu-lhe alheio. Sentou-se na poltrona, escutou os rumores dos carros na rua, o intermitente vozerio que vinha da cozinha. Deixou-se ficar só no quarto, a mãe rezava na igreja, os irmãos estavam longe, todo mundo vivia então sem ter necessidade nenhuma de Giovanni Drogo. Abriu uma janela, viu as casas cinzentas, telhado atrás de telhado, o céu caliginoso. Procurou numa gaveta os velhos cadernos de escola, um diário que mantivera por anos, algumas cartas; espantou-se por ter escrito aquelas coisas, nem se lembrava delas, tudo se referia a fatos estranhos e esquecidos. Sentou-se ao piano, ensaiou um acorde, tornou a baixar a tampa do teclado. 'E agora?', perguntava-se." "Aos poucos a fé se enfraquecia. É difícil acreditar numa coisa quando se está sozinho e não se pode falar com ninguém. Justamente naquela época Drog