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Mostrando postagens de setembro, 2022

Discografia Emmanuel Mirdad: Single “Just to Remember” (2022) — Jahgun

“ Just to Remember ” é o primeiro single do “ Silent Dreams ”, novo disco do cantor Jahgun , baiano radicado em Los Angeles. Solar, gruvada & alto astral, é uma canção para curtir à beira-mar, a trilha da superação de um amor que acabou, um recadinho de que tá tudo bem agora, segue a vida, próximo ciclo. Com uma voz melodiosa e suave, Jahgun embala esse lovers estradeiro, um xamego soul que pulsa na vibração do sol & mar. “ Just to Remember ” foi gravada na Bahia e em Los Angeles, produzida por Emmanuel Mirdad (que também é o compositor da música) e Átila Santana (multi-instrumentista que toca de guitarra a percussão na faixa), e conta com a participação especial da lenda-viva do reggae Fully Fullwood , jamaicano do Soul Syndicate, no baixo, e a enciclopédia do reggae Iuri Carvalho na bateria. Um lançamento do selo Surforeggae , disponível em todas as plataformas. Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Ouça na Apple Music aqui Ouça no Deezer aqui Ouça no Tidal aqui Ficha

Dez passagens de Jorge Amado no romance Gabriela, cravo e canela

          “(...) Seu Nacib era bom, pensava ela, tinha ciúmes. Riu, enfiando o dedo por entre as grades, o pássaro assustado a fugir. Tinha ciúmes, que engraçado... Ela não tinha, se ele sentisse vontade podia ir com outra. No princípio fora assim, ela sabia. Deitava com ela e com as demais. Não se importava. Podia ir com outra. Não pra ficar, só pra dormir. Seu Nacib tinha ciúmes, era engraçado. Que pedaço tirava se Josué lhe tocava na mão? Se seu Tonico, beleza de moço!, tão sério na vista de seu Nacib, nas suas costas tentava beijar-lhe o cangote? Se seu Epaminondas pedia um encontro, se seu Ari lhe dava bombons, pegava em seu queixo? Com todos eles dormia cada noite, com eles e com os de antes também, menos seu tio, nos braços de seu Nacib. Ora com um, ora com outro, o mais das vezes com o menino Bebinho e com seu Tonico. Era tão bom, bastava pensar.           Tão bom ir ao bar, passar entre os homens. A vida era boa, bastava viver. Quentar-se ao sol, tomar banho frio. Mastigar as

Nova reunião: 23 livros de poesia, de Carlos Drummond de Andrade

Monumento a Carlos Drummond Andrade (RJ) Foto: Donatas Dabravolskas Em 2022, devorei o calhamaço “ Nova reunião: 23 livros de poesia ” (Companhia das Letras, 2015), do mestre poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), resolvendo essa pendência que me incomodava desde que eu fui um estudante do Colégio Drummond nos anos 1990. Peneirei bastante e divulguei um monte de post por aqui. Segue abaixo os 150 poemas do Drummond que eu mais gostei, presentes em 20 livros . Boa leitura! “Boitempo III (Esquecer para lembrar)” (1979) Leia poemas aqui “O que a gente procura muito e sempre não é isto nem aquilo. É outra coisa. Se me perguntam que coisa é essa, não respondo, porque não é da conta de ninguém o que estou procurando” -------- “Boitempo II (Menino antigo)” (1973) Leia poemas  aqui “Viver é saudade prévia” -------- “As impurezas do branco” (1973) Leia poemas  aqui “Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde” -------- “A

Cinco poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro Farewell

Diante de uma criança Carlos Drummond de Andrade Como fazer feliz meu filho? Não há receitas para tal. Todo o saber, todo o meu brilho de vaidoso intelectual vacila ante a interrogação gravada em mim, impressa no ar. Bola, bombons, patinação talvez bastem para encantar? Imprevistas, fartas mesadas, louvores, prêmios, complacências, milhões de coisas desejadas, concedidas sem reticências? Liberdade alheia a limites, perdão de erros, sem julgamento, e dizer-lhe que estamos quites, conforme a lei do esquecimento? Submeter-me à sua vontade sem ponderar, sem discutir? Dar-lhe tudo aquilo que há de entontecer um grão-vizir? E se depois de tanto mimo que o atraia, ele se sente pobre, sem paz e sem arrimo, alma vazia, amargamente? Não é feliz. Mas que fazer para consolo desta criança? Como em seu íntimo acender uma fagulha de confiança? Eis que acode meu coração e oferece, como uma flor, a doçura desta lição: dar a meu filho meu amor. Pois o amor resgata a pobreza, vence o tédio, ilumina o dia

Cinco poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro O amor natural

À meia-noite, pelo telefone Carlos Drummond de Andrade À meia-noite, pelo telefone, conta-me que é fulva a mata do teu púbis. Outras notícias do corpo não quer dar, nem de seus gostos. Fecha-se em copas: “Se você não vem depressa até aqui, nem eu posso correr à sua casa, que seria de mim até o amanhecer?” Concordo, calo-me. -------- Para o sexo a expirar Carlos Drummond de Andrade Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante. Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo. Amor, amor, amor — o braseiro radiante que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo. Pobre carne senil, vibrando insatisfeita, a minha se rebela ante a morte anunciada. Quero sempre invadir essa vereda estreita onde o gozo maior me propicia a amada. Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe? enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer antes que, deliciosa, a exploração acabe. Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo, e assim possa eu partir, em plenitude o ser, de sêmen aljofrando o irreparável ermo. --------

Cinco poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro Amar se aprende amando

O amor antigo Carlos Drummond de Andrade O amor antigo vive de si mesmo, não de cultivo alheio ou de presença. Nada exige nem pede. Nada espera, mas do destino vão nega a sentença. O amor antigo tem raízes fundas, feitas de sofrimento e de beleza. Por aquelas mergulha no infinito, e por estas suplanta a natureza. Se em toda parte o tempo desmorona aquilo que foi grande e deslumbrante, o antigo amor, porém, nunca fenece e a cada dia surge mais amante. Mais ardente, mas pobre de esperança. Mais triste? Não. Ele venceu a dor, e resplandece no seu canto obscuro, tanto mais velho quanto mais amor. -------- Amor Carlos Drummond de Andrade O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo acha a razão de ser, já dividido. São dois em um: amor, sublime selo que à vida imprime cor, graça e sentido. “Amor” — eu disse — e floriu uma rosa embalsamando a tarde melodiosa no canto mais oculto do jardim, mas seu perfume não chegou a mim. -------- O poema da Bahia que não foi escrito Carlos Drummond de Andrade

Cinco poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro Discurso de primavera e algumas sombras

A palavra mágica Carlos Drummond de Andrade Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. -------- O constante diálogo Carlos Drummond de Andrade Há tantos diálogos Diálogo com o ser amado                     o semelhante                     o diferente                     o indiferente                     o oposto                     o adversário                     o surdo-mudo                     o possesso                     o irracional                     o vegetal                     o mineral                     o inominado Diálogo consigo mesmo                     com a noite                     os astros                     os mortos                     as ideias                     o sonho                     o passado