Abdulrazak Gurnah (foto: Joel Saget - AFP/Getty Images) “Aonde quer que fossem agora, eles descobriam que os europeus tinham chegado antes e instalado soldados e oficiais que diziam ter vindo para salvar aquelas pessoas de seus inimigos, que só queriam escravizá-las. Falavam como se ninguém soubesse o que era comércio antes deles. Os mercadores falavam dos europeus com espanto, admirados com a ferocidade e crueldade deles. Levam as melhores terras sem pagar nem uma miçanga, forçam as pessoas a trabalhar para eles usando alguma manobra enganosa, comem de tudo, mesmo que seja duro ou esteja podre. O apetite deles não tem limite nem decência, parecem uma praga de gafanhotos. Imposto para isso, imposto para aquilo, senão o inadimplente vai para a cadeia, ou para o chicote, ou até para a forca. A primeira coisa que eles constroem é uma prisão, depois uma igreja, depois um galpão para o mercado assim não perdem o controle das vendas e depois podem cobrar impostos. E isso antes mesmo de ergue
O lampião e a peneira do mestiço