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Mostrando postagens de maio, 2021

Poética de Smetak

Foi lançado no final de abril o site “ Poética de Smetak ”, uma excelente oportunidade para conhecer uma parte da obra literária do mestre baiano-suíço Walter Smetak (1913-1984), inédita até então, com a curadoria dos músicos Uibitu Smetak , Icaro Smetak e Tuzé de Abreu . São seis poemas musicados e catorze declamados, interpretados por uma galera massa, como Rebeca Matta , Nancy Viégas , Carlinhos Brown e Adriana Calcanhotto . Tive a sorte de ser convidado, e declamei o metafísico “ Eu sou ”. Acesse aqui Poética de Smetak tem a direção geral de Elaine Hazin , a direção executiva de Andrea Amado , a consultoria técnica de Bárbara Smetak  [equipe completa aqui ] e o apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

Seleta: Alpha Blondy

O artista musical da África que mais gosto é o cantor e compositor Alpha Blondy . Nascido Seydou Koné no primeiro dia de 1953 em Dimbokro , no centro da atlântica Costa do Marfim , filho de mãe muçulmana e pai cristão, é um ícone, uma lenda-viva; atualmente, é a estrela do reggae mais importante no mundo, com milhares de fãs na Bahia e no Brasil . Habitué de eventos na minha cidade natal (tanto que compôs “ Bahia ” para homenagear os fãs em 2007), Alpha Blondy tem um repertório “mais pra frente”, com uma pegada rocker, e canta em várias línguas. Em atividade desde os anos 1980 , com mais de 20 discos lançados (entre estúdio, ao vivo e compilações), tem um timbre vocal único, incrível e sublime para a transcendência do reggae , e um discurso que alia mensagens de paz a questionamentos sócio-políticos (cunhou o termo “ démocrature ”, se referindo às ditaduras travestidas de democracias). Sou fã de Alpha Blondy . Para homenageá-lo, batizei uma personagem do meu romance “ oroboro bao

Dez trechos da revista Laroyê #03

“na rua deserta, borboletas voam no esforço pela continuidade da vida. alheias às angústias e medos, elas enfeitam a tarde. tão miudinhas. tão frágeis. verdinhas-translúcidas, amarelas-branquinhas, livres e leves, elas dançam, elas giram, elas resistem, elas salvam a moça que assiste a tudo sozinha do lado de dentro da janela. (...) uma moça. duas moças. três moças. quatro moças. tantas moças, todas negras, sobem apressadas, logo cedo, a ladeira do morro do gato. e descem no final da tarde, exaustas, após servirem por horas a fio homens e mulheres de bem que defendem no twitter o distanciamento social, o auxílio emergencial e dormem tranquilos em suas camas king size cobertas por lençóis de algodão egípcio 400 fios. (...) tricentésimo nono dia. escrevo para habitar meu desespero. (...) cinquenta por cento do pulmão comprometido. por que ele e não eu? por que não o prendi no meu abraço? quem escutará os meus silêncios? quem me fará rir até chorar?” [ Mônica Menezes ]           “A senhor

Dez trechos da revista Laroyê #02

“ei, você que não é branco, mas, com as melhores intenções, pode dar conselhos sobre como o tal movimento negro, assim, único e fixo, pode ir mais adiante com sua grande ideia que você, de graça me oferece para poder, grato, repassar (...) ei, você que não é branco, mas sempre que possível associa negro(a) e bom(a) de cama em uma sentença como se fosse pura gentileza falar sempre rindo do seu gesto especificado a uma raça que você coloca na gaveta junto a outras peças de sex shop, ei, você que não é branco, mas quando raramente me pergunta sobre o que eu penso do racismo me interrompe na segunda frase” [ Alex Simões ] “Salvador, procuro provas improváveis de como tudo não se deu no passado mas no mesmo fim de um começo que não é meu sem arremedos dos becos das bocas e buracos cavados no alto dos morros para onde se foge e se morre de dor alegria e sonho perdido (...) Salvador, procuro transpirar no teu mar que já foi céu já foi terra e hoje é ar que respiro por trás da máscara pegada à

Seleta: Habib Koité

Habib Koité (foto: Dirk Leunis) Conheci o belíssimo trabalho do violonista, cantor e compositor malinês Habib Koité no final dos anos 2000, quando tive a sorte de trabalhar na rádio Educadora FM e descobrir um monte de artistas incríveis, principalmente os africanos, graças ao programa Rádio África . Passeando nos vários estilos & países, fui fisgado pelo Mali , e o seu blues do deserto. Ao ouvir “ Foro Bana ”, “ Sirata ” e “ I Mada ”, me tornei muito fã de Habib Koité , o predileto dentre tantos gênios africanos. Violonista espetacular, ele descende de uma linhagem nobre de griots Khassonké , trovadores tradicionais que fornecem inteligência, sabedoria e entretenimento. Com mais de 400 mil álbuns vendidos, quase 2 mil shows ao redor do mundo, desde os anos 1990 que Habib Koité , acompanhado pelo grupo Bamada , divulga as ricas e diversificadas tradições musicais do Mali (que nos presenteou com gigantes como Salif Keita , Ali Farka Touré, Tinariwen, Boubacar Traoré, Kélétigui Di

Oito trechos da revista Laroyê #01

“(...) hoje, apesar dos desmantelos e de saber que não há motivos para festa, ora esta, não sei rir à toa, a verdade, esta traquina menina nostálgica que não salva nem liberta, é uma só: sobrevivemos. Ou, para usar outro axioma do antigo Raso da Catarina: bebemos e não morremos.” [ Franciel Cruz ]         “‘Veja se sou errada: tô bem garotinha, sentada na paz de Jeová no ônibus, quando encosta um senhor do meu lado e começa a falar: ‘Ah, agora todo mundo quer o auxílio emergencial, nunca trabalhou e vão tudo pra frente da Caixa. Hoje, fui pegar meu FGTS e tive que enfrentar uma fila enorme por causa desse povo.’         ‘Qual foi mesmo desse homem, Ana?’         (...)         ‘Não! Levantei a cabeça, cravei meu olhar nele, e completei: olhe, tô há dois meses sem sair pra passar minha rifa no bairro. Tenho três filhos, dois poodles, meu marido foi embora, me deixou sozinha... e o senhor, boazudo, vem pra cá me dizer o que não sabe. Seja sensível, nem precisa ser demais, mas seja... porq