Paulina Chiziane (foto: Nuno Ferreira Santos) “Os corpos mergulham na dança imemorial e sem idade. Até as crianças, anjos humanos, se requebram nas costas das mães batendo palmas, abrindo e fechando as boquinhas de fome no compasso da melodia. Os gritos dos tambores despertam a terra que adormece, o povo anestesia-se com o lenitivo das suas vozes, as vibrações sonoras atingem o além-túmulo e o coração da selva que é a residência dos deuses, e estes, compreendendo os gritos e lamentos dos seus protegidos, respondem numa voz única que é o tumulto do seu sangue: Presente. E encarnam-se nos corpos dos seus protegidos, que entram em transe, uivam, gritam, rugem e falam numa língua que não se entende, linguagem dos deuses de Mananga e de todos os heróis adormecidos no Império de Gaza. As vozes continuam crescentes na música quente. (...) A embriaguez e o êxtase conduzem ao despudor. As mulheres de mãos na cintura agitam os vestígios de ancas para frente para trás num exorcismo erótico, balan
O lampião e a peneira do mestiço