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Quinze passagens do romance Ventos do Apocalipse, de Paulina Chiziane

Paulina Chiziane (foto: Nuno Ferreira Santos)


“Os corpos mergulham na dança imemorial e sem idade. Até as crianças, anjos humanos, se requebram nas costas das mães batendo palmas, abrindo e fechando as boquinhas de fome no compasso da melodia. Os gritos dos tambores despertam a terra que adormece, o povo anestesia-se com o lenitivo das suas vozes, as vibrações sonoras atingem o além-túmulo e o coração da selva que é a residência dos deuses, e estes, compreendendo os gritos e lamentos dos seus protegidos, respondem numa voz única que é o tumulto do seu sangue: Presente. E encarnam-se nos corpos dos seus protegidos, que entram em transe, uivam, gritam, rugem e falam numa língua que não se entende, linguagem dos deuses de Mananga e de todos os heróis adormecidos no Império de Gaza. As vozes continuam crescentes na música quente. (...) A embriaguez e o êxtase conduzem ao despudor. As mulheres de mãos na cintura agitam os vestígios de ancas para frente para trás num exorcismo erótico, balançando as mamas caídas. Os homens vitimados pelo incêndio de sangue vibram os quadris aproximando-se delas discretamente, para se roçarem acidentalmente nos seus traseiros.”


“(...) A vida é um longo caminho. Algumas vidas são caminhos de pedra, outras de asfalto, outras de areia tostada, de ervas, de tronco, de barco, de estrelas e curvas celestes. Mas todos os caminhos desembocam no mar, nas águas do oceano. Os caminhos por vezes ganham nomes e glórias quando o vento corre a favor da gente. E ficamos com a ilusão de que o mundo nos pertence e até a terra é nossa propriedade. Mas a terra é uma mãe estranha. Os mistérios dos homens acontecem nos olhos dela. Os caminhos dos homens traçam-se no dorso dela, mas esta mãe olha para tudo com uma indiferença absoluta, não protege nem desprotege e deixa que os insensatos se matem por ela e se proclamem heróis. Mas no seu eterno silêncio, parece que ela proclama ao vento: herói será aquele que mudar o caminho do sol, a direção dos ventos e a estrada das nuvens. Sianga foi régulo, marchou no caminho das estrelas, conquistou mundos e construiu impérios. Mas o que conquistou ele realmente? Nem o pedaço de terra para a sua última morada. Acabou na vala comum, como um gato, como um rato ou uma folha perdida.”


“(...) Talvez os meninos encontrem uma tia dedicada, uma família substituta e, quem sabe, talvez o governo tome conta deles e crie leis. Durante a infância talvez tenham proteção. Mas um dia serão homens, serão mulheres, abandonarão os orfanatos para conhecer o mundo, vaguearão desorientados sem destino e lutarão para sobreviver. Não têm família, não têm escola, e toda a sociedade lhes fecha as portas. Emprego não terão, com certeza. Que farão eles para sobreviver se todas as portas lhes estão vedadas? Primeiro tentarão viver com decência, mas sem resultado. Depois virá a revolta, a vingança e finalmente o crime. Eles matarão injustamente como os seus pais foram mortos. Revoltar-se-ão contra a vida. Insultarão os ventres que os trouxeram ao mundo ignorando que todos eles foram gerados com suspiros de amor. Vê-los-emos nas grades das prisões condenados a oito, doze, vinte anos de cadeia, por assassinatos, assaltos à mão armada, e os justos gritarão em nome da lei: matem os assassinos, prendam os malfeitores, torturem esses monstros!”


“(...) Falar dos defuntos não é falar dos corpos mortos, das caveiras, dos ossos, da cinza e do pó. Falar dos antepassados é falar da história deste povo, da tradição, e não do fanatismo cego, desmedido. Não há novo sem velho. O velho lega a herança ao novo. O novo tem a sua origem no velho. Ninguém pode olhar para a posteridade sem olhar para o passado, para a história. A vida é uma linha contínua que se prolonga por gerações e gerações. Aquele que respeita a morte respeita também a vida. Acreditar nos antepassados é acreditar na continuidade e na imortalidade do homem.”


“A crise existe porque o povo perdeu a ligação com a sua história. As religiões que professa são importadas. As ideias que predominam são importadas. Os modos de vida também são importados. O confronto entre a cultura tradicional e a cultura importada causa transtornos no povo e gera a crise de identidade. Estamos tão sobrecarregados de ideias estranhas à nossa cultura que da nossa génese pouco ou nada resta. Somos um bando de desgraçados sem antes nem depois. O jovem que é eleito para a nova liderança leva dentro de si o conflito que irá desencadear a crise no sistema por ele dirigido. Vêm daí a ineficiência e a decadência. Se ele não sabe quem é nem de onde vem, logicamente que não saberá por onde deve caminhar. Qualquer desenvolvimento só é perfeito quando tem uma raiz que o sustenta. A árvore cresce bem quando repousa sobre o solo fértil e seguro.”


“(...) São todos iguais. Não há velhos nem novos, a turbulência da vida nivelou-lhes as idades. Não se distingue o homem da mulher pelos contornos do corpo. A fome comeu as curvas das ancas, as laranjas dos seios, deixando apenas os ossos. Nos homens cresce apenas a barba que supera a exuberância da floresta medonha. Os ventres de todos competem em volume com qualquer mulher no último mês de gestação. A imagem do homem saudável atravessando a estrada desperta-os para a nudez em que se encontram. Param uns instantes e pensam, mas como nos iremos apresentar perante a nova aldeia no estado em que nos encontramos? (...) não há nada a esconder, eles já nada são na superfície da terra. Perderam a família, os amigos e todos os haveres. Perderam o sonho, a esperança, e mesmo a realidade já não lhes pertence. Até a roupa que lhes confortava o corpo, os ramos e os arbustos roeram. A pele que protege os ossos os espinhos rasgaram, sangraram. O rei das trevas jogou com eles em cada noite. A fidelidade aos defuntos, as leis da tribo, o orgulho do homem, as normas mais elementares da vida humana, tudo quebraram. Perante tamanho sofrimento, a vergonha é um sentimento, fútil, desnecessário. Somos homens nobres, feitos à semelhança de Deus, minha gente! Mas à semelhança de Deus? É pouco provável. Se o homem é a imagem de Deus, então Deus é um refugiado de guerra, magro, e com ventre farto de fome. Deus tem este nosso aspecto nojento, tem a cor negra da lama e não toma banho à semelhança de nós outros, condenados da terra. O Diabo, sim, esse deve ser um janota que segura os freios da vida dos homens que sucumbem. Os peregrinos caminham com maior decisão. Aceitam entregar-se ao espetáculo de homens nus no meio da aldeia. (...) Correm em auxílio dos recém-chegados, alguns deles foram também viajantes involuntários. A aldeia inteira recebe-os e dá-lhes as boas-vindas. Por fraternidade. Por solidariedade. Por compaixão. Por curiosidade. Por recordação dos momentos atrozes que passaram, Deus sabe quando e como. Uns alargam os olhos na esperança de descobrir entre os recém-chegados os familiares desaparecidos no último ataque à aldeia natal. Outros esperavam ver de entre os homens o filho que partiu para o combate há mais de três anos e jamais regressou. Outros não esperam nada nem ninguém, simplesmente assistem ao dilema. Choram. Choram por si e por tudo aquilo que foi vida, porque hoje já nada são senão detritos de um temporal, restos fragmentados daquilo a que ontem tiveram orgulho de chamar vida. Os pensamentos de todos unem-se na recordação da mesma cena: homens fardados, fogo ardente, estrondos. Homens matando, embora conscientes de que ceifando vidas também se matam. Aldeias em chamas, colheitas incendiadas, usurpadas ou perdidas, gente estripada, ferida, morta às centenas ou aos milhares, lágrimas, ruínas, deslocações, miséria.”


“Não há dúvidas de que as palavras estão gastas, lá isso estão. Os homens devem esgaravatar a língua de modo a encontrarem maneiras de chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes. Existem dois sentimentos em contrabalanço que são o amor e o ódio. Estes dois inimigos são expressos com o mesmo fervor, quase com as mesmas palavras, como se se pudesse cozinhar o mel e o fel na mesma panela. Fala-se de amor, liberdade, justiça, fraternidade, quando se pratica o amor. Torna-se a falar de amor, liberdade, justiça e fraternidade, tanto na guerra como na paz. A linguagem dos homens é curta, imperfeita.”


“Os moribundos sabem que nada têm e nada são. Desesperadamente procuram o culpado da sua situação para colocar-lhe nos ombros o peso da maldição. As culpadas são as mães que os trouxeram ao mundo da desgraça. Os culpados são os reis e os régulos que se preocupam com o poder e esquecem a felicidade dos seus semelhantes. Os culpados são eles que não souberam defender-se, que não fugiram a tempo, que não se esconderam. que não se acautelaram e se deixaram apanhar pelas balas assassinas. Os culpados são os deuses, são os defuntos que não os protegeram. Os culpados são todos. O culpado não é ninguém. A culpada é a imperfeição da natureza humana. O homem ama a sua própria vida, mas desde o princípio do mundo que se diverte em tirar as vidas alheias.”


“(...) O amor é uma fantasia inventada pelos homens, não existe e nunca existirá, isso é claro e evidente. No passado, os homens organizaram exércitos e mataram-se por amor à terra, em defesa do território, da soberania, e agora que a coitadinha já não tem nada, deu tudo o que tinha a dar, foi terrivelmente sugada, os homens abandonaram-na porque está na desgraça. Os mais fortes foram trabalhar nas minas das terras do Rand e um dia voltarão com motorizadas, bicicletas e roupas baratas para aliciar as mulheres da terra.”


“No passado, os grandes homens da Europa em sessões magnas, festins e banhos de champanhe dividiram o continente negro em grandes e boas fatias, escravizaram, torturaram, massacraram e deportaram as almas destas terras. Hoje, gente oriunda das antigas potências colonizadoras diz que dá a sua mão desinteressada para ajudar os que sofrem. É preciso acreditar na mudança dos homens, eles sabem disso, mas a sabedoria popular ensina que filho de peixe é peixe e filho de cobra cobra é. Toda a gente sabe que, neste mundo cruel, ninguém dá nada em troca de nada. Os mais velhos sentem o dever de instigar os novos a dizer não a essa ajuda. Mas a situação é crítica, eles sabem que para viver mais um dia terão que sofrer a humilhação da esmola que vem não se sabe de onde. Os velhos sentem que a outra face da ajuda é um mistério maldito que trará aos homens novas amarguras na hora da sua descoberta.”


“(...) O povo desespera-se. As casas são incendiadas. Os homens são os primeiros a correr na saraivada de fogo na busca desesperada de um abrigo, Só depois de alcançar a proteção da savana é que as mães se lembram dos bebés nas palhotas em chamas, demasiado tarde para reparar o erro. O estalo das pedras atingidas pelas balas fez saltar o coração, produzindo no sangue fluxos de arrepio. Na confusão e pânico desvenda-se o rosto dos agressores. O choque é fantástico; o povo descobre que está a ser massacrado pelos filhos da terra. É o Manuna, o Castigo, Madala, Jonana e todos os que saíram de casa à procura de vida. As pessoas caem como cajus maduros. As mulheres estão habituadas a gritar esperando que os homens tomem a sua defesa. Veem os maridos e os filhos a cair. Na instintiva fúria de fêmeas tentam o impossível, lançam-se na refrega, mãos nuas contra tiros de canhão, morrem lutando, com os rostos carregados de ódio.”


“Telepaticamente os pensamentos comunicam. Minosse também pensa, vou morrer. E o que será desta criatura sozinha no mundo? Busca a resposta no céu, nas nuvens. Pede a Deus a bênção da longa vida. Mas o céu é um vácuo, é oco, não responde. Sente que Deus não está no céu, mas na terra entre os homens. Como encontrá-lo? Sente a alma aprisionada pela impotência humana perante o próprio destino. Boceja. Move os lábios num balbucio suave que o vento arrasta até o coração do universo e suspira: como seria bom esquecer para sempre as amarguras passadas. Como seria bom passar a vida a rir e a sorrir. Lançar à terra sementes de amor. Criar filhos e fazê-los homens. Encher o estômago. Vazar o estômago e a bexiga com segurança e prazer. Quem dera que as águas dos rios não desembocassem no mar, mas no deserto onde a água faz mais falta.”


“Um bando de corvos grasna feliz e faz voozinhos rasteiros mesmo à altura do chão. Estão no banquete supremo, Sixpence reconhece. Os malditos só colocam as patas no solo quando algo de extraordinário os atrai. Dá uns passos curiosos naquela direção e os bichos abalam para a segurança do céu. Olha. Chama a atenção dos outros para olhar. Meu Deus! Há um cadáver a apodrecer e tem a cabeça decepada. Cinco passos adiante a cabeça está tombada de olhos abertos. Uma criança de nove ou doze meses segura-a forte com os frágeis dedinhos, vira-a e revira-a nervosamente soltando guinchos de fúria. Parece que brinca com ela, mas não, não brinca. Tenta desesperadamente despertar a mãe para a vida. Vejam este rasto, do tronco do cadáver para a cabeça, da cabeça para o tronco. De gatas, o bebé arrastou-se para cá e para lá, o rasto é bem nítido, legível. Tenta puxar a cabeça e juntá-la ao corpo, quer acordar a mãe, reclama o alimento e o carinho que as mãos desumanas usurparam. Esta não morreu agora, a poça de sangue se tornou pedra. A criança está demasiado nojenta, está cagada, mijada, as crostas de sangue coagulado cobrem-lhe as mãos, os dedos, os cabelos, é preciso chamar a coragem de todos os deuses para poder segurá-la porque até os homens mais corajosos se arrepiam perante o expoente máximo do incrível. Lá ao fundo está o corpo da mulher de quem tirámos esse bebezinho que dorme. Vão até lá. Desmanchem da cintura o pano que lhe cobre as ancas, ela já não precisa. O sexo de uma defunta não excita, apenas comove, que Deus nos perdoe. (...) Recolhem a criança com a capulana da outra morta. (...) No meio do grupo há muitas mulheres que perderam os filhos que ainda mamavam. Elas são boas e cuidarão desta com muito amor.”


“(...) O chefe da aldeia gira a cabeça por todas as direções e faz um balanço preliminar. Espirra. A brisa matinal espalha no ar partículas de cinza e odor de carne assada, carne humana. (...) O chefe da aldeia assiste à atividade incessante dos aldeões. Pragueja. Ele nunca fora moldado para as lutas, muito menos para as guerras. Fora parar ali por ironia dos deuses. Dirige os olhos para os que o rodeiam. Os rostos transportam uma expressão vaga, amarga. Dá uns passos e observa, a coragem foge-lhe. (...) A tortura invade-o, vaza-lhe o cérebro, revolve-lhe o estômago e causa uma dor infinita. Sente medo e raiva. O sangue sobe-lhe aos olhos, não consegue acreditar na destruição do seu império. Nunca antes avaliara a importância que tinha na sua vida aquela aldeola pobre e pacífica. Pensa em si. Nunca fizera nada por aquela aldeia e sempre neglicenciara todos os problemas a ela referentes. (...) A população aguarda uma palavra, uma ordem, mas ela não vem, está encravada no fundo da garganta. Apenas uma respiração nervosa, ruidosa, balançando o ventre farto. Os nervos formigam-lhe numa agitação febril. (...) O povo surpreende-se com a descoberta da nova face de quem os dirige: o chefe é mais humano do que pensávamos. Reconhecem nele um homem comum, humilde e com sentimentos de nobreza, a dor mudou-lhe a face. Nada melhor do que a dor para eliminar a arrogância e a vaidade. (...) As lágrimas do chefe são de amargura, de solidariedade, as mulheres fazem coro e choram com ele. O povo sente-se reconfortado mas inseguro. Se o mais alto chora, quem nos dará a coragem? O chefe da aldeia chora, as lágrimas lavam-no e purificam-no e o povo perdoa-lhe com o perdão perfeito que só os pobres e humildes sabem dar. (...) Como quem vai ao mar e se abeira sem dar o devido mergulho porque a maré vazou a água. De grandes massacres, ouvira falar até demais, mas nunca se imaginara na presença de um. É que ele não acreditava na brutalidade humana, e as histórias que ouvira julgava-as fantasias de loucos com a mania de exagerar tudo.”


          “Os grupos em fuga estabeleceram normas de segurança: é proibido falar, tossir ou espirrar no esconderijo. Podes borrar-te, ou mijar-te, mover-te é que não, porque é perigoso. As crianças são livres, nada as detém. Quando têm fome, choram até enrouquecer a voz. Quando têm sede, berram até enervar, e quando estão felizes, cantam até demais. Não suportam a fome, a sede e o calor e choram. As vozinhas dos meninos ouviram-se no espaço, em direção aos tímpanos atentos dos heroicos guerreiros, que seguiram as ondas do som até descobrir o esconderijo. A vingança foi implacável, e até os fetos foram estripados dos ventres das mães. Deste modo estabeleceram-se novas normas de segurança: é preciso silenciar o choro dos meninos.
          A caminho do novo abrigo, os maridos aproximavam-se delicadamente das esposas com crianças de colo e transmitiam a ordem: mulher, o menino vai chorar e seremos descobertos. Mata este, que depois faremos outro.
          Nos momentos de perigo, a solidariedade é a lei: ou morre um por todos ou todos por um.
          Com gestos desesperados, a mulher puxava a ponta da capulana, sufocando a criança que se batia até a paragem respiratória. O menino morto era escondido na vegetação, não havia tempo para enterrar os mortos. Cuidado, mulher, é proibido chorar, mas também não vale a pena, a quem comovem as lágrimas no tempo de guerra?
          O marido abraçava carinhosamente a mulher, sussurrando ao ouvido: coragem, mulher, tinha que ser assim. Este já morreu, amanhã faremos outro.”


Presentes no romance “Ventos do Apocalipse” (Companhia das Letras, 2023), de Paulina Chiziane, páginas 96-97, 244, 247, 252, 254, 176 a 178, 46, 194-195, 64, 224-225, 111, 215, 161-162, 114 a 116 e 13-14, respectivamente.


Aforismos de Paulina Chiziane em “Ventos do Apocalipse”

“A vida é assim, muitos destroem e só poucos têm coração para construir”

“Pouco falta para ser o que sempre fui, o que não sou e o que sempre serei”

“Nada melhor do que a dor para eliminar a arrogância e a vaidade”

“A recordação viaja passo à frente, passo atrás, que o presente é pedra morta”

“O tempo irá apagar a dor como o sol rasga o manto da noite”

“A mulher é a mãe do universo”

“Nessa coisa de morrer, cada um despede-se da vida conforme as marcas do seu destino”

“Algumas vezes a verdade é tudo o que é dito para agradar o rei”

“A morte da terra é a morte da gente”

“A vida só tem interesse quando a bola da vida gira no centro do nosso mundo”

“O homem negro é camaleão depois do pôr do sol, comungando a sua cor com a cor da noite”

“Na casa onde há fome todos ralham e ninguém tem razão”

“Até as pedras tomam a figura humana dos inimigos quando a morte caminha em galope desenfreado no nosso encalço”

“Ao estrangeiro, ao caminhante, podem contar-se todos os segredos porque não ficam remorsos, partirá, e são muito poucas as possibilidades de novos encontros”

“Mais importante que o passo acelerado é o tato de quem caça para não ser caçado”

“A porta da casa não se abre a um estranho quando o chão ainda está frio, os feitiços funcionam melhor no ventre da madrugada”

“Homens e bichos são feras fabricadas pelo mesmo diabo”

Aforismos presentes no romance “Ventos do Apocalipse” (Companhia das Letras, 2023), de Paulina Chiziane, páginas 162, 57, 115, 241, 194, 93, 157, 85, 61, 57, 10, 11, 144, 238, 147, 22 e 59, respectivamente.

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