Kátia Borges (foto: Érica Ribeiro) “Dentro do caos, os discursos organizam o contato humano possível, como nas gavetas se alinham, irregulares, as facas e os garfos. Para que algo seja descrito como perfeito, há sempre de haver ali algum erro, alguma perda. Só é verdadeiramente vivo aquilo que não se completa: a linha descontínua, o encontro adiado, os doze minutos que faltavam até a chegada em segurança ao heliporto. (...) Tudo se estende, tecido tênue em frágeis vigas. O que parece sólido apenas parece, perece, resiste por milagre. Por breves segundos ou bilhões de anos, o que desaparece projeta-se no tempo, movimenta-se no espaço, traço indelével entre passado e futuro. Pura magia que recusamos pela lógica. Como os peixes cegos que se guiam por antenas nos recantos mais profundos do Oceano ou as montanhas que se erguem no solo da Lua, formando vales no satélite.” “Eu penso que, neste exato instante, o Universo inteiro se expande e nem sabemos até onde. E que as estrelas que nós vemo...
O lampião e a peneira do mestiço