O clima psicodélico-progressivo da Orange Poem & Mateus Aleluia Filho para ambientar a voz sertaneja do Mestre Dedé a recitar os seus poemas filosóficos-existenciais. É o último registro da voz de Ildegardo Rosa (1931-2011), pai de Emmanuel Mirdad. Na experiência anterior, lançada em 2014, a música “Illusion’s Wanderer” tornou-se a mais escutada e comentada (mais de 270 mil views no YouTube) da Orange Poem, apresentando justamente essa mescla de poesia recitada com a ambiência sonora dos instrumentos laranjas e os vocais de Mateus Aleluia, o pai. Agora, em “Candeeiro”, Mateus, o filho, entoa o clima para o Mestre Dedé refletir os seus versos: “Sei que vim do vazio, do inominado, do sem forma, do misterioso. E aqui estou, neste mundo manifesto, preso a esta forma que se diz humana, e cercado de outras mil formas que nem mesmo em pensamento se esvaziam”. É a faixa de encerramento do EP “Andanças”, lançado em 2022.
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Candeeiro
(Ildegardo Rosa / Emmanuel Mirdad)
BR-N1I-22-00005
Sei que vim do vazio
do inominado
do sem forma
do misterioso
E aqui estou
neste mundo manifesto
preso a esta forma
que se diz humana
e cercado de outras mil formas
que nem mesmo em pensamento
se esvaziam
Para que eu possa viver a minha plena liberdade
e não ter de suportar
a ilusória vivência
de a cada momento apenas me transformar
sempre noutra forma
e nada mais
que outra forma
nada mais
que outra forma
Não sei a que distância e a que tempo estou
da minha realização de ser
só sei que estou aqui
neste mundo manifesto
vivendo a cada instante
como uma barata tonta:
ora sendo ou querendo ser isso
ora sendo ou querendo ser aquilo
e no fundo, sendo nada
ou quem sabe
sendo tudo
Andei... andei... andei...
E no andar fiquei
porque no andar
a nenhum lugar se vai
e ficando
em todo lugar se está
Andei...
E de ilusões vivi
porque no andar
ilusões se criam
e no ficar
as ilusões se esvaem
Andei... andei...
Andei ficando e ficando andei
nesse falso dilema do ser dividido
que não sabe se anda ou se fica
e nem mesmo em que lugar se está
Andei... andei... andei...
Quanto mais tento quebrar esses inexistentes grilhões
querendo me aproximar da realidade primordial
não percebo que é um jogo ilusório
e não preciso tentar me aproximar
pois sempre estive dentro dela
Quando estiveres, porém
vazio de todas essas coisas
e principalmente no vazio de tu mesmo
tu então estarás pleno de tudo
Porque o tudo é o vazio de todas essas coisas
na plenitude de si mesmo
E o nada é o cheio de todas essas coisas
do não ser de si mesmo
Aqui estou, eu, prisioneiro do meu próprio tempo e espaço
comprimido neste corpo esquelético
que apenas tem um lapso de duração que chamam de vida
só criando permanentes conflitos que oscilam a todo instante
(estou onde sempre estive)
E eu, inutilmente
buscando uma saída, quando saída não há
se a minha implosão interior
não me desencantar
da ilusão que nos envolve
e no vazio eu me encontrar
Estou onde sempre estive
no eterno vazio
sem começo nem fim
Sei que é preciso e urgente a saída
desse ilusório Vale das Sombras
que eu mesmo criei
ou me fizeram acontecer
por prêmio ou castigo
para estar no ser real
no eterno agora
onde verdadeiramente
no eterno agora
onde verdadeiramente EU SOU
Hoje sendo isso, amanhã sendo aquilo
na infinita brincadeira do Uno que se faz muitos
E, de repente, num instante mágico
se torna Uno novamente
no absoluto deleite de si mesmo
E de tudo que aparece e desaparece
No aqui, que é lugar nenhum
No agora, que é tempo nenhum
Parei
Faixa 05 - EP Andanças (2022), de Orange Poem & Mateus Aleluia Filho | Ildegardo Rosa – voz (in memoriam) | Mateus Aleluia Filho – voz | Emmanuel Mirdad – violão 12 cordas | Hosano Lima Jr. – bateria | Tadeu Mascarenhas – baixo, hammond, escaleta, synth bass, flauta e synth | Thiago Trad – derbake, djembê, conduíte e karkabou | Gravado, mixado e masterizado por Tadeu Mascarenhas no Casa das Máquinas, Salvador-BA | Produção musical: Emmanuel Mirdad e Tadeu Mascarenhas | Produção fonográfica: Emmanuel Mirdad | Arte: Movimento 1989
Composta por Emmanuel Mirdad em 15/10/2021, baseada em poemas de Ildegardo Rosa.
Letra formada por trechos de 10 poemas de Ildegardo Rosa, produzidos entre 1993 e 1997.
Melodia composta por Emmanuel Mirdad em 22/11/2005.
Poemas que formam a letra de “Candeeiro”: “A tirania das formas” (28/05/1995) / “O que deve ser” (03/03/1994) / “Andar ou ficar” (agosto de 1996) / “O prisioneiro da ilusão” (15/05/1994) / “O tudo e o nada” (14/09/1996) / “A saída” (1995) / “Onipresente” (14/08/1993) / “O círculo infernal” (09/04/1994) / “O sentido” (28/10/1997) / “O enigma I” (02/02/1993).
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