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Quinze passagens de Jorge Amado no romance O sumiço da santa



“Inclusive sobre esta terra da Bahia para onde o destino o conduzira para nela viver e trabalhar. Terra onde tudo se mistura e se confunde, ninguém é capaz de separar a virtude do pecado, de distinguir entre o certo e o absurdo, traçar os limites entre a exatidão e o embuste, entre a realidade e o sonho. Nas terras da Bahia, santos e encantados abusam dos milagres e da feitiçaria, e etnólogos marxistas não se espantam ao ver imagem de altar católico virar mulata faceira na hora do entardecer.”


“No regaço do golfo, na brisa da península, plantada na montanha, eleva-se a Cidade da Bahia, de seu nome completo Cidade do Salvador da Bahia de Todos-os-Santos, enaltecida por gregos e troianos, exaltada em prosa e verso, capital geral da África, situada no oriente do mundo, na rota das Índias e da China, no meridiano do Caribe, gorda de ouro e prata, perfumada de pimenta e alecrim, cor de cobre, flor da mulataria, porto do mistério, farol do entendimento.”


“Na praça em torno à basílica e nas ruas ao sopé da colina, o povo dera início ao Carnaval: mês e meio de pândega e folia, de festa sem parar que ninguém é de ferro para aguentar durante o ano inteiro as agruras da vida, a miséria e a opressão, a desgraça vil e ilimitada. O dom de fazer a festa mesmo em tão calamitosas condições, próprio e exclusivo de nosso povo, é mercê de Senhor do Bonfim e de Oxalá: os dois juntos somam um, o Deus dos brasileiros, nascido na Bahia.”


          “Tendo dançado em frente a Obá Aré, Oiá estranhou não estivesse o velho babalaô sentado no lugar que lhe cabia de direito, junto da mãe de santo. Lá se encarapitara um desses modernos africanologistas feitos nas coxas, meia-tigela de conhecimento, toneladas de bazófia, a afirmar bobagens presumidas para uma récua de beócios que o cobriam de perguntas sobre misticismo, parapsicologia e negritude.
          Por que na ponta de um banco destinado a visitantes comuns e não numa das cadeiras de palhinha reservadas aos convidados de honra? ‘Sente-se ele onde se sentar aí estará o trono’, disse o ogã da sala, tentando explicar. Oiá concordou com o conceito correto, mas não se conformou com a desculpa esfarrapada para a negligência indesculpável. Com um gesto traçado no ar derrubou da cadeira o ousado que se atrevera a ocupá-la. O fulano viu-se sacudido com violência — Oiá, ventania que arranca as árvores e as joga longe —, levantado e atirado ao chão, sentiu um soco no peito, outro na boca do estômago, além de duas bofetadas na cara. Levantou-se abobalhado, respirando com dificuldade: recolheu sua tropa de beócios, era guia turístico, ganhou destino.”


          “— Contam os antigos, ouvi de minha avó, negra grunci, que Oxalá saiu um dia percorrendo as terras de seu reino e dos reinos de seus três filhos, Xangô, Oxóssi, Ogum, para saber como vivia o povo, na intenção de corrigir injustiças e castigar os maus. Para não ser reconhecido, cobriu o corpo com trapos de mendigo e partiu a perguntar. Não percorreu muito caminho: acusado de vadiagem, levaram-no preso e o espancaram. Por suspeito meteram-no no xilindró, onde, ignorado, viveu anos inteiros, na solidão e na sujeira.
          Um dia, passando por acaso defronte da mísera cadeia, Oxóssi reconheceu o pai desaparecido, dado por morto. Libertado às pressas, cercado de honrarias, antes de retornar ao palácio real, foi lavado e perfumado. Cantando e dançando, as mulheres trouxeram água e bálsamo e o banharam; as mais belas aqueceram-lhe o leito, o coração e as partes.
          Aprendi em carne própria as condições em que o povo vive no meu reino e nos reinos de meus filhos; aqui e lá e em toda parte, campeiam o arbítrio e a violência, regras da obediência e do silêncio: trago as marcas no meu corpo. As águas que apagam o fogo e lavam as chagas, vão apagar o despotismo e o medo, a vida do povo vai mudar: empenhou sua palavra, pôs em jogo seu poder de rei. Essa é a história das águas de Oxalá, passou de boca em boca, atravessou o mar e assim chegou à nossa capital baiana: muita gente que acompanha a procissão, carregando potes e moringas com água de cheiro para lavar o chão da igreja, não sabe por que o faz. Fiquem vocês sabendo e passem adiante, aos filhos e aos netos quando os tiverem: a história é bonita e contém ensinamento.”


          “Outra coisa não se viu ao entardecer daquela quinta-feira. As velas infladas, o Viajante sem Porto sobrevoava o Forte do Mar, cortava as nuvens como se cortasse as águas mansas do golfo. Vinha dos começos do Brasil, dos tempos da colônia, cruzara mares nunca dantes navegados, lusos e africanos, baldeara no porto de Viana do Castelo, nos ancoradouros de São Vicente, em Cabo Verde, de Dakar, no Senegal, os porões repletos de ódio, amor e poesia, cargas de vida e morte.
          Navegação de cabotagem nos derroteiros da Bahia de Todos-os-Santos, o Viajante sem Porto circulou sobre as ilhas, sobrevoou Maragogipe e Cachoeira, depositou os heróis da Independência em Itaparica. Ao leme, uma negra nua em pelo, ora vestida com o ouro do sol, ora com a prata da lua: carapinha de veludo, seios de ébano e a bunda maior do que a popa do saveiro. Media ao menos sete metros, os pés na barra do Paraguaçu, a cabeça nas dunas de Itapuã, nas águas escuras do Abaeté.
          O Viajante sem Porto navegava na rota dos conventos e dos terreiros e em todos eles, negrabranca, brancanegra, Bárbara Oiá desceu do barco e demorou em terra. No convento do Desterro dançou com Vilhena no baile frascário de freiras e fidalgos, ai que pagodeira mais gostosa! No convento das Arrependidas, carpiu com as descabaçadas em vésperas e matinas, horas canônicas. Abriu os portões da abadia de São Bento aos estudantes perseguidos, aos padres denunciados como partidários da conjuração.
          Tomou a bênção de mãe Menininha do Gantois, Oxum da Bahia, mãe da bondade, salvou Stella de Oxóssi em seu trono do Opô Afonjá e, no terreiro de Portão, apertou nos braços mãe Mirinha que incorporara o Caboclo Pedra Preta. Navegou nos subterrâneos da cidade, nos rios da memória, na luz do meio-dia, na escuridão da meia-noite, era a imaginação e a consciência, o sonho dos poetas e dos romancistas.”


“Da Igreja da Conceição da Praia, junto ao Elevador Lacerda, até a Basílica do Bonfim, na colina sagrada, a distância medeia dez quilômetros, um pouco mais, um pouco menos, depende da devoção e da cachaça. Milhares de pessoas, o cortejo é um mar de gente, estende-se a perder de vista. Automóveis, caminhões, carroças, jumentos enfeitados com flores e folhagens, levando ao dorso barris repletos: não pode faltar água de cheiro. Nos caminhões grupos animados, famílias inteiras, blocos e afoxés. Músicos empunham seus instrumentos: violões, acordeons, cavaquinhos, tamborins, berimbaus de capoeira. (...) Ricos e pobres se misturam e se acotovelam. Na cidade mestiça da Bahia existem todas as nuances de cor na pele dos viventes: vão do negro, azul de tão retinto, ao branco de leite, alvo de neve, e a infinita gama dos mulatos — todos comparecem. Quem não é devoto do Senhor do Bonfim, os milagres incontáveis, quem não se pega com Oxalá, os ebós infalíveis? (...) banqueiros, fazendeiros de cacau, executivos, senadores, deputados. Alguns desfilam em negras limusines, outros, porém — o governador, o prefeito, o capitão da indústria do tabaco, Mário Portugal — acompanham a pé, junto com o povo. Também a malta dos demagogos, candidatos nas próximas eleições, percorre os quilômetros na paleta, distribuindo abraços, sorrisos e palmadinhas nas costas dos possíveis eleitores. (...) O cortejo ondula ao sabor da música dos trios: hinos religiosos, cantigas de preceito, sambas e frevos de carnaval. O acompanhamento cresce pelo caminho, avoluma-se a multidão: desaba gente pelas ladeiras, esvazia-se a feira de São Joaquim, desembarcam retardatários dos ferryboats e das lanchas, chegam nos saveiros. Quando a cabeça da procissão atinge o sopé da ladeira, na colina, do Trio Elétrico de Dodô e Osmar uma voz se eleva, conhecida e amada — o silêncio se faz, o cortejo se detém, Caetano Veloso entoa o hino ao Senhor do Bonfim.”


          “Oiá entrou no barracão vestida com as cores do crepúsculo, na testa a estrela vespertina, verde perfume de mar nos seios de ébano. Não a esperavam, mas não houve surpresa ou rebuliço, apenas o som dos atabaques cresceu, e na roda dos santos ebômis, equedes e iaôs curvaram-se em reverência. Pelo caminho, recolhera injustiças e malfeitos, trazia-os num feixe sob o sovaco esquerdo, na mão direita os raios e os trovões.
          Desembarcados de um táxi, Maria Clara, mestre Manuel e o obá de Xangô Camafeu de Oxóssi afastaram-se para que ela passasse: Eparrei, Oiá! Também o chofer inclinou-se, saudando. Chamava-se Miro, vivia rindo, um debochado; declarava-se filho de Ogum, mas as más línguas espalhavam aos cochichos que o dono de sua cabeça era Exu, indícios e provas não faltavam. Fuxicos correntes nas rodas de preguiça e vadiagem, cada qual é livre para acreditar.
          Apoiando-se nos quadris e no antebraço, Oiá estendeu-se aos pés de mãe Menininha do Gantois, mãe da bondade e da sabedoria, rainha das águas mansas, imensa e majestosa. Grande assim para acolher no colo de vales e montes os queixumes, os penares, as súplicas de seus filhos e filhas, o povo da Bahia. Sentada em sólio pobre, poltrona de braços, de alto espaldar, empunhava o adjá: as filhas de sangue, Carmem e Cleusa, uma de cada lado, os demais filhos e filhas, os de santo, pelo mundo afora. Menininha do Gantois, a Oxum mais formosa, a incomparável. Oiá a seus pés, estendida.
          A ialorixá tocou-lhe a testa e, tomando-a pelos ombros nus, a levantou e acolheu no peito. Então Oiá ergueu-se inteira, volteou o corpo, seios e bunda, dava gosto vê-la e desejá-la, mas o grito de guerra impôs silêncio, fez estremecer o mais afoito, foi ouvido nos extremos da cidade: viera para guerrear, soubessem todos. As mãos na cintura, salvou a roda e a orquestra e, a seguir, salvou alguns antigos e notáveis, detendo-se diante deles para abraçá-los, peito contra peito, coração contra coração.”


“(...) nos piores anos da ditadura militar (...) Havia uma realidade oculta, um país secreto, não noticiados. (...) Proibição total de qualquer noticiário, da menor alusão, a respeito do quotidiano de prisões, torturas, assassinatos políticos, violações dos direitos humanos, de comentários sobre a censura de espetáculos e livros, assim como referências a greves, manifestações, passeatas, protestos, movimentos de massa e tentativas de guerrilha. Nada disso acontecia na pátria feliz sob a égide dos generais e coronéis, a acreditar-se na leitura dos jornais. Alguns deles preenchiam os espaços em branco, devido ao corte de matérias palpitantes, com a publicação de receitas de cozinha (...) A censura, a corrupção e a violência eram as regras de governo, carece recordar pois existe quem já tenha se esquecido. Tempo da ignomínia e do medo: os cárceres repletos, a tortura e os torturadores, a mentira do milagre brasileiro, as obras faraônicas e a comilança, a impostura e o venha a nós — há quem tenha saudade, é natural.”


“(...) Confreiras licenciosas e sentimentais, cochichavam-se segredos sobre a última aventura de cada uma delas: os caprichos de Olímpia, as gamações de Sylvia, em meio a risinhos, exclamações, suspiros. Temas candentes e exaltantes, de confidência em confidência, informavam-se sobre especialidades, aptidões e atributos dos parceiros, detalhes físicos e morais, íntimos e peregrinos, referidos na linguagem atual, precisa e clara, de uso corrente entre as mocinhas e as senhoras, riam de morrer. Aconselhavam-se: em tendo ocasião, garota, não perca, a língua de Telésforo é divina, por isso chamam ele de beija-flor, o chuparino do século. Gilbertinho, menina, é um desmarcado, tem um cacete de jumento, pensei que não ia entrar. E entrou, garota? Todinho, menina, até a raiz dos ovos. Por aí afora, na conversa matinal e instrutiva, menina para cá, garota para lá, língua, cacete, o olho do cu e o papa-rola.”


          “Estrebuchando, olhos lacrimosos, coração em agonia. Dadá se perguntava: será que ele me ama ou só deseja usufruir de meu corpo? Por que quer tomar de mim a pulso? Por que não tem paciência de esperar? Doíam-lhe os lábios, os de cima e os de baixo, mordidos uns, molestados, pelotados, ultrajados os outros, na constante esfregação, nas incessantes tentativas de romper-lhe a resistência e o hímen. Estava cansada, deprimida, as forças começavam a lhe faltar, era um casulo de medo.
          Como poderá um cidadão brasileiro, casado no padre e no juiz, em cerimônia simples porém decente, após seis meses de namoro e mais de um ano de noivado, transcorridos no bem-querer e na compreensão, como poderá ele entender que na noite de núpcias a esposa se recuse, se negue, se debata, tranque as pernas e se ponha a chorar? Durante o namoro e o noivado, Danilo aceitara, conformara-se com as limitações impostas por Dadá, educada nos rígidos cânones da Igreja pela madrinha beata e até se comprazia com tais princípios, provas de retidão e honradez. Mas tudo no mundo tem limites, eram esposos de papel passado, as noções de imoralidade e de desonra tornavam-se descabidas, intoleráveis. Será que me enganei e ela não me ama, me namorou e me aceitou de noivo pela vaidade de se exibir pelas ruas, de braço dado com o craque de futebol, o príncipe dos gramados, o ídolo das multidões?”


          “Exílio? Sim, exílio era a palavra exata. Nascido nas brumas da Alemanha, depois de ter palmilhado os caminhos do mundo, Europa e Ásia, a América do Norte, naufragado em tantos portos, esfalfando-se no trabalho, no estudo, buscando conviver, fora descobrir no sol a pino da Bahia a pátria de adoção, aquela que o agasalhou e cumulou, a terra prometida. Na viração do mar baiano, na exaltação, na inventiva, na cordialidade, na arte da gentileza, nos ritos da amizade, na mestiçagem, como condição de vida, fonte de humanismo, ele se encontrara e permanecera: atravessara o deserto e a tempestade para se reconhecer.
          Na noite de cão, no cais ermo do sumiço da santa, Edimilson na demência das visões, dom Maximiliano, estupefato e perdido, clamara aos céus, maldizendo da hora em que Deus o trouxera às terras da Bahia, para nelas viver e trabalhar. Apostrofara contra a nação onde tudo se mistura e se confunde, onde ninguém distingue os limites entre a realidade e o sonho, onde o povo abusa dos milagres e da feitiçaria. Boca de praga, ingrata, mal-agradecida, língua de trapo, o cagarolas não sabia o que falava, não tardou a arrepender-se. Ao constatar que poderia ser obrigado a ir-se, a deixar a cidade e a gente morena e doce que a habitava, aquele povo, soube que qualquer outro chão seria o exílio.”


“(...) Ao ouvir os ecos do destempero de Adalgisa, chegou à janela, baixou os óculos de ler, descansou a vista nos quadris da vizinha irritadiça. (...) Irritadiça mas boazuda, tudo tem sua compensação. Na medíocre paisagem do beco desprovido de quintais e jardins, de árvores e flores, a compensação maior era a bunda de Adalgisa a reafirmar a beleza do universo. Balaio de Vênus, rabo de Afrodite, digno de um quadro de Goya (...) Uma pena a expressão agressiva: no dia em que Adalgisa perdesse o jeito arrogante, de mofa e desprezo, o ar de superioridade, deixasse em paz as cinco chagas de Cristo e sorrisse sem rancor, sem afetação, ah! sua beleza arrebataria os corações, inspiraria versos aos poetas.” 


“Arma de defesa, nascida nas senzalas, criação dos escravos bantos, a capoeira esteve sujeita à mais feroz perseguição: proibido seu exercício, castigados seus cultores. Considerada, junto com o candomblé, expressão de barbaria: toda a matriz africana da cultura brasileira era então repudiada, obliterado seu conhecimento, defesa sua manifestação. Todavia a capoeira, camuflada em dança coletiva, subsistiu ao som dos berimbaus de barriga, impôs sua eficácia e sua beleza, balé de passos mágicos, luta de golpes mortíferos, ganhou foros de arte. A cada dia abriam-se novas escolas, mestres exímios destacavam-se. Custara trabalho reuni-los, mas mestre Pastinha estava habituado a vencer dificuldades e não havia quem lhe negasse a maestria sem igual e a honradez extrema. ‘Ser humano feito de generosidade e de civilização, é um dos grandes, dos ilustres da Bahia’, escrevera Glauber Rocha a seu respeito na revista Mapa, e o povo o venerava.”


          “Nas rotas de Aiocá, navegou no fundo do mar, de cais em cais, águas erradias da memória apagada como se fora mancha vil no corpo da pátria. Peripécias e lonjuras, sons recuperados, gestos, sentimentos, as areias do deserto, o húmus da floresta, a encantação, o sortilégio. O barco retornava da etapa quotidiana, carregado de vestígios, de cores, de ritmos, de ecos e indícios, de joias e cascalho, coisas boas e más que compõem uma nação, e as iaôs as acumulavam no chão sagrado do jurá oluá, do santuário. Vadiavam de renascer e renasciam, assentavam o santo, aprendiam os pontos e os sotaques, o trote e o galope, tropa de cavalos jovens, montarias. Manela e seu erê nos trabalhos de Iansã.
          A cabeça raspada pela navalha do efum, porta larga de entrada, porta aberta de saída, e os pelos do sovaco e os pentelhos da xoxota, portas estreitas, esconsas, postigos para visitações inesperadas para despachos. Manela aprendeu as cantigas, sete para cada santo quando menos, os diferentes toques da orquestra de atabaques, rum, rumpi e lé, do alujá ao adarrum, nas dezessete jornadas de circunavegação, antes que mãe Menininha determinasse o dia do oruncó.
          O dia mais festivo e glorioso, o dia de dar o nome, quando Iansã, no barracão do Gantois superlotado, por fim saltou, se ergueu no ar toda em rubis e uvas moradas, e anunciou pela primeira e última vez o nome da recém-nascida, o Oiá de Manela. O Oxalá de Gildete, majestoso, a Iansã de Adalgisa, poderosa, acompanharam-na no percurso da revelação.
          O nome se ouve e se esquece, jamais se repete e ninguém o decora, somente a mãe e a filha, a iá e a iaô, conhecem-lhe a pronúncia. O nome de Iansã de Manela foi proclamado, grito rouco, ouvido e esquecido numa festa grande e bonita, de muito aparato e certa soberbia.” 


Presentes no romance “O sumiço da santa” (Companhia das Letras, 2010), de Jorge Amado, páginas 48, 22, 65, 40, 61-62, 235-236, 57-58, 39-40, 139, 224-225, 191-192, 312-313, 52, 275 e 391, respectivamente.


Aforismos de Jorge no romance

“Quem mais sabe menos fala”

“O que é bom é raro e dura pouco”

“A vida é feita de inesperados, deles provém sua graça, não é mesmo?”

“A tolerância e a alegria, o bom da vida”

“O amor não é agravo, não ofende a Deus, não é maldade, coisa feia e suja, não é pecado nem maldição”

“Nenhuma palavra pronunciada contra a violência e a tirania é vã e inútil: alguém ao ouvi-la pode superar o medo e iniciar a resistência”

“Quem ganhar come de graça, quem perder paga os foguetes”

“Por ser demasiada, a claridade não permitia ver com os olhos que um dia a terra há de comer”

Aforismos presentes no romance “O sumiço da santa” (Companhia das Letras, 2010), de Jorge Amado, páginas 145, 121, 23, 42, 396, 62, 353 e 103, respectivamente.

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