Hoje é aniversário deste cabra aí. Conheci Marcus Vinícius (Jesus, Zanom, Zanomia, etc.), natural de Itapuã, no ano 2000, no cursinho pré-vestibular do PhD, em Salvador. Em março de 2001, estreou comigo a The Orange Poem, com mais três cabras que não se conheciam. Durante seis anos, tocou uma guitarra espetacularmente sensível e psicodélica, um Hendrix floydiano bluseiro sem exageros, suficiente no feeling, sem falsa estrelinha, raridade nessas terras d’acá. Além disso, dividiu sua sabedoria musical, e me instruiu muito, ampliando meu senso de admiração aos deuses da música, como Hermeto, Sivuca, Gismonti, etc. Graças a esse cabra aí, tenho hoje um discernimento musical mais coerente (tento!) e atuante, que me faz canonizar gênios como Tiganá e Mou Brasil, o que seria, talvez, pouco provável de acontecer sem a influência desse amigo irmão de Libra acima.
Zanom hoje mora no Rio, vive uma história de amor real, é fonoaudiólogo mestre, e tem uma bela obra musical autoral pouquíssima conhecida, engavetada, já que não tem a terrível disposição de encarar as armadilhas de uma carreira profissional na música. Escreve bonito também, e tem os dois blogs, este e este, que estão aguardando uma visita de vocês.
Parabéns, meu amigo! Longa vida a tua música e literatura. Ainda produzirei um disco teu, caso deseje assim também. Tal como está no teu Orkut, desde 2006, “eu te admiro profundamente”.
Segue abaixo mais uma série Pílulas com o trabalho de Zanom.
"...
Damos forma ao objeto
para o vazio que o contém
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Um verso sozinho já faz poema
(...)
E antes só do que mal acompanhado
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Não sei
se escrevo
ou
se escravo
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Os partidos são como facas
e nós somos os re-partidos
Entre a Esquerda ou a Direita
É você que vai tomar bem ali no meio
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O amor pra mim
como sempre imaginei
é morar na mão do outro.
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Em seu último dia
Inverno se fez presente
Na tentativa de esfriar
Os corações aquecidos
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São infinitas mulheres infelizes
queixando-se do quão escroto
todos são.
Se ele soubesse,
subia no cordão umbilical
e voltava ao ventre
daquela que
também reclama dele
só que pelos outros
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Fazendo cara de quem tudo sabe
A médica chegou com o seu estetoscópio
aproximou do peito do homem, e disse :
- Ele morre ainda hoje, vou avisando ao necrotério.
Minha mãe quase morreu junto
afinal, o homem era meu pai
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De fato, tem sempre um momento
que apoiando-se nos joelhos
ele pensa
Porque me levanto?
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Em tudo aquilo
em que estás, baseado
Eu trouxe, trago e também passo
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Quem muito se acha acaba se perdendo.
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Tens Coragem de Amar?
Pouco importa
Será inevitável
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De longe o que se vê
É um complexo de luzes
A favela é o céu no inferno
Existem ali, milhões de estrelas
Impedidas de brilhar livremente
com violência, fome e desprezo
Mas quando as pessoas acenderem suas luzes
não haverá homem que não se emocione
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Fazer da pele
um imenso tapete
Imerso em plumas
Abrir os poros
Para que as almas passem
e os corpos passeiem
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Minha felicidade ao acordar
é ouvir o bater das folhas
ver as sombras que invadem
Escancarar a janela
Para que as árvores entrem
e façam parte daqui de casa
..."
Trechos dos poemas O Vazio, Destinos - No Centro - Milagres, Deixa Eu Cuidar de Ti, O Inverno, A História da Culpa e da Reclamação, Será que Existe um Convênio Entre a Morte e os Médicos?, Encontro, Luzes, Sumiço e Árvores das Laranjeiras, e a íntegra dos poemas Um Verso, Não Sei, Queda, Ele Traz, Eu Trago e Coragem..., de Zanom (Marcus Zanomia), publicados no blog O Poema Nosso de Cada Dia (2009). www.opoemanossodecadadianosdaihoje.blogspot.com
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