Julio Cortázar, interferido por Mirdad
"Acho ridículo que um romancista tenha úlcera no estômago porque seus livros não são suficientemente famosos e organize minunciosas políticas de autopromoção para que os editores ou a crítica não o esqueçam; diante do que nos mostra a primeira página dos jornais quando acordamos diariamente, não será grotesco imaginar esses esperneios espamódicos visando a uma "duração" cada vez mais improvável frente a uma história em que os gostos e suas formas de expressão terão mudado vertiginosamente em pouco tempo?"
"Quando a Life me pergunta o que penso do futuro do romance, respondo que não dou a mínima; só o que importa é o futuro do homem."
"O futuro dos meus livros ou dos livros alheios me é absolutamente indiferente; esse entesouramento tão ansioso me faz pensar nesses doidos que guardam suas aparas de unhas ou de cabelo; no terreno da literatura também é preciso acabar com o sentimento de propriedade privada, porque a literatura só pode servir para ser um bem comum."
"Um escritor de verdade é aquele que tensiona o arco a fundo enquanto escreve e depois o pendura num prego e vai tomar vinho com os amigos. A flecha já está no ar, e se fincará ou não no alvo; só os imbecis podem pretender modificar sua trajetória ou correr atrás dela para dar-lhe empurrõezinhos suplementares rumo à eternidade e às edições internacionais."
Trechos de Julio Cortázar, extraídos do livro Papéis inesperados (Civilização Brasileira, 2010).
Comentários
Lia Presgrave