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Vamos ouvir: Agora eu sou o silêncio, do TRATAK

Agora eu sou o silêncio (2012), de TRATAK



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Release do CD, por Elson Barbosa, disponível no site do TRATAK:

Segundo a Wikipedia, "tratak" é um termo em sânscrito, que significa lágrima. Difundido também como técnica de meditação, compreende em "fixar o olhar em algum objeto sem piscar, favorecendo a meditação".

Já na música, Tratak é um "projeto coletivo de um homem só". Idealizado em 2010 pelo músico catarinense Matheus Barsotti, Tratak é um projeto sem formação fixa. Baterista por formação, Matheus passou por bandas como Margot, Alfajor, Labirinto e Stella-Viva, até encontrar no violão e voz novos instrumentos de expressão. Das dezenas de ideias esparsas gravadas no celular, onze tomaram forma com o envolvimento do arranjador baiano Heitor Dantas (Dorothy) e do músico curitibano Fernando Rischbieter (Stella-Viva).

Com produção e arranjos do próprio trio Tratak, gravado por Yury Kalil no estúdio Totem (Cidadão Instigado, Siba, Thiago Pethit), mixado por Sergio Soffiatti (estúdio O Grito) e masterizado por Gustavo Lenza (YB Estúdios), Agora Eu Sou O Silêncio tem como melhor definição uma brincadeira do próprio autor – é um disco de "axé fúnebre". 

Com base na MPB mas com cores experimentais, tem referências que vão desde o samba de Cartola e a poesia de Fernando Pessoa até as dissonâncias do Radiohead e o experimentalismo ácido do Mars Volta – referências que muitas vezes aparecem em uma mesma música. 

À primeira vista o clima é de festa, mas a mensagem é sombria. A leitura mais atenta entrega – Agora Eu Sou O Silêncio é um trabalho conceitual sobre morte. Da desilusão de "Irrealidades Vãs" e "Querida", passando pelo ápice fundo-de-poço com pitadas de insanidade de "Orquídeas" e "Apenas Rotina", até a faixa-título – não por acaso a última do disco –, Agora Eu Sou O Silêncio é uma espiral descendente, finalizando uma sincera despedida. A história parece pesada, mas basta um replay para afastar o tom sombrio. E começar a descida novamente.

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