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Composições de Emmanuel Mirdad: Last Fly


Mãe da Orange Poem, foi a primeira composição laranja, que originou o retorno de Mirdad às composições e à aventura de formar banda e tentar seguir carreira musical. Representa a jornada introspectiva de um ser angustiado, que se depara com a infância problemática. Foi a música mais conhecida da primeira fase Orange Poem, com destaque para o climão e os solos criados pelo guitarrista Fábio Vilas-Boas. A simplória passagem do acorde de F#m para F# é a grande onda da harmonia. Rajasí Vasconcelos, o primeiro baixista efetivo, criou uma linha de baixo tão íntima à canção que todos os baixistas que vieram depois tiveram de reproduzi-la – e fizeram com satisfação. O grande Raja participa da gravação com risadas psicodélicas floydianas. E as vozes fluidas do cantor e compositor Glauber Guimarães, esbarrando como ondas nas pedras dos tímpanos, vieram no EP Ground, lançado em janeiro de 2014 (e está presente no álbum Orange Poem, disponibilizado nas plataformas digitais em 2021) para eternizar a mais laranja canção do poema.



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Last Fly 
(Emmanuel Mirdad)
BR-N1I-14-00002

I knew
The lost ground
I talked at night
With the little sad child

I knew
The Way-69
I walked in the sky
With bright eyes, my secret fly

Sad child, last fly, lost cry, last fly

I knew
Brothers and souls
I cried for us
For my numb, numb mind

I knew
The love-underground
I lied to myself
When I wanted to escape in the last fly

Sad child, last fly, lost cry, last fly

Fly


Faixa 01 - EP Ground (2014) | Faixa 06 - Orange Poem (2021) | Composta e produzida por Emmanuel Mirdad | Glauber Guimarães - voz | Mirdad - violão 12 cordas | Zanom - guitarra | Fábio Vilas-Boas - guitarra | Hosano Lima Jr. - bateria | Artur Paranhos - baixo | Participação especial: Rajasí Vasconcelos - risadas | Gravado, mixado e masterizado por Tadeu Mascarenhas no Casa das Máquinas, Salvador-BA | Encarte EP Ground: Rafael Rodrigues (foto) e Glauber Guimarães (design) | Capa 2021: Meriç Dağlı (foto) e Emmanuel Mirdad (design)



CONTEXTO

Na metade do mês de julho do ano 2000, começaram as aulas do curso vespertino de pré-vestibular do hoje extinto PhD (fiz o 2º grau neste colégio em Salvador de 1996 a 1998), um reloaded pra mim. Tinha abandonado Psicologia na UFBA no meio do ano anterior, sem nem completar o primeiro semestre do curso, por uma aventura musical chamada Pássaros de Libra que, por uma grande desorganização, fracassou em abril de 2000. Ou seja, larguei a universidade por uma banda de rock (que nem era uma banda mesmo, apenas um disco gravado com minhas músicas com um parceiro cantando: o músico Juracy do Amor, conhecido na época como Beef) que não deu em nada. 19 anos, sem estudo, sem emprego. Minha mãe quase enfartou.

Foi sincronicamente imprescindível voltar ao PhD para fazer um novo vestibular. Graças ao professor de espanhol Rodolfo Ramirez, que tinha uma banda chamada Mamutes (insisti para apresentar minhas músicas, já que eles só tocavam covers), conheci o baterista Hosano Lima Jr. Graças à insistência das indicações do colega de sala Maurício Borges, conheci o guitarrista Jesus (apelido de Marcus Vinícius Borges, o Zanom), que também estudava no cursinho PhD, só que pela manhã. Graças ao papo fortuito numa das incontáveis mesas de dominó no intervalo, que um solidário desconhecido de nome Tiago anotou o telefone do guitarrista Fábio Vilas-Boas em um papelzinho (e às diversas esnobadas de Jesus [Zanom] na época, focado no vestibular, que me fizeram procurar outro guitarrista). Graças a uma breve visita ao irmão Chicão, meu colega de mesma sala de cursinho, reencontrei o baixista Álvaro Maia Valle após várias tentativas frustradas de conseguir seu telefone.

Formei o embrião do Orange Poem com as sincronias do PhD. Fábio só veio no início do ano seguinte e se tornou o fiel escudeiro, sonhando o mesmo delírio FloydZeppelinMaideano. Mas foi Hosano e principalmente Álvaro que participaram dos primeiros meses da saga pra montar a laranja, a partir de outubro, quando conclui a composição do 1º repertório. Jesus (Zanom) só fez me esnobar, diversas vezes, pois seu foco era passar no vestibular de Medicina na UFBA (perdeu e no ano seguinte destrancou o curso de Fonoaudiologia/UFBA, onde se formou). Mas o TOP começou mesmo com "Last Fly", a mãe.

Papel original digitalizado da letra escrita na contracapa do módulo do PhD, mas com as correções da última versão.


ORIGEM

Compus "Last Fly" na quinta 24 de agosto de 2000. Era manhã, estava ensaiando para a gravação de um demo com canções de amor dedicadas à namorada da época. Entre uma música e outra, fiquei tocando notas a esmo no violão "Alhambra" de minha mãe (o mesmo em que ela tocava Bossa Nova comigo na barriga pra espantar o tédio da gravidez em casa). Por um acaso (ou uma quase psicografia), passei do meu acorde preferido menor para o maior (de F#m para F#) e segui pela harmonia A, E, F#m e G#m duas vezes. Simples e triste. Lento e fluido. Um voo. Segui cantando palavras em inglês a esmo. Coincidentemente (ou sincronia?) o módulo de estudos do cursinho PhD estava aberto na disciplina de inglês (que nem era a minha, pois fiz espanhol), lição de verbos. O primeiro que meu olho bateu: to know. Cantei a lição: "I knew...".

Empolgado com a melodia, parei para escrever a letra, diretamente em inglês com alguns erros gramaticais. "Last Fly" ficou pronta, um presente do inconsciente que provocou uma bagunça no desejo. Mostrei primeiro ao colega de PhD Maurício Borges (o que insistiu por Zanom). Opinião: "Tá bem Pink Floyd". Orgulho bateu. Resolvi gravá-la então no demo de canções para a amada da época. Muito nervoso, só consegui relaxar ao gravar primeiro "Last Fly", que me tranquilizou o suficiente pra concluir as outras (sessão única no esquema ao vivo voz e violão no estúdio do amigo André Magalhães, que tinha gravado "O Primeiro Equilíbrio", o disco encalhado do Pássaros de Libra).

Daniel Andrade (à esquerda), Mirdad e Zanom – com o violão "Alhambra" de Dona Martha – em outubro de 2001.


Mostrei então para o amigo Daniel Andrade, "baterista" do meu 1º projeto de banda, que nunca chegou a tocar de verdade e só fazia escrachar as minhas composições. Surpresa: Daniel deu parabéns por "Last Fly". Foi muito importante pra mim, pois com a aprovação do principal crítico, motivei-me a seguir compondo em inglês. Quando compus "Flowers in My Way" semanas depois e fiquei satisfeito também, à beira dos 20 anos, retomei o sonho de viver de música, amortecido depois do fracasso do início do ano. Dessa vez, não mais pop rock na língua nativa e sim uma banda de rock inglês depressivo, no estilo da banda predileta Radiohead (a proposta sonora inspirada na psicodelia do Pink Floyd só foi efetivada a partir da entrada do guitarrista Fábio Vilas-Boas). Montei o projeto mentalmente: gravar um CD e criar um site para divulgar o trabalho no mundo. Simples, não? Insistir no mesmo erro: registrar antes de tocar (continuo cometendo a sina, depois de 1 CD com Pássaros de Libra, 2 com Orange Poem e 1 com Pedradura). Começava aí a obsessão de sair do país e fazer carreira lá fora, o que nunca aconteceu.


O POEMA... LARANJA!

"Last Fly" não foi a primeira música que compus em inglês. No final de 1999, produzi a doidona "Spiral", que brotou um surto provisório de canções britânicas. Envolvido com a gravação do CD "O Primeiro Equilíbrio", apenas registrei uma demo voz e violão no gravadorzinho caseiro de fita K7, com 11 músicas de melodias sofríveis. Pra não ficar sem nome, batizei a K7 de "the poem – Flower of Cross" e engavetei. Essa leva serviu de matéria prima para cinco músicas que foram registradas no "Shining Life, Confuse World" (2005), primeiro álbum da Orange Poem – dentre elas, o blues "Wideness". Além disso, "Flower of Cross" virou Flor da Cruz (assinatura do realizador do 1º Prêmio Bahia de Todos os Rocks em 2008 e nome da empresa com Marcus Ferreira em 2012 que virou depois a Mirdad Cultura com Edmilia Barros em 2013), e the poem batizou a nova futucação musical provocada por "Last Fly" (quando decidi montar a nova banda, primeiro ato foi fuçar a fita pra ver se aproveitava algo – como sempre, reciclando).



Mas como o poema se tornou laranja? O acaso. Em pleno ano 2000, ainda não tinha um PC (que só chegou em agosto de 2001), e precisava mendigar ajuda alheia para digitar a produção. Na casa da namorada da época, depois de passar pro Word o novo repertório, resolvi brincar com o design do nome the poem, tentando criar uma logomarca pitoresca no primal "Paint". Por coincidência (ou sincronia?), coloquei um fundo laranja e escrevi the poem em azul. Achei o nome pequeno (ah? como assim?) e decidi aumentá-lo. Só por isso. Como o fundo laranja me pareceu bonito (freak), digitei: the orange poem – de novo em caixa baixa, como manteria pelos próximos sete anos. Verbalizei: Dê orãnji pô~em. A harmonia da pronúncia me encantou. Perfeito. O rock já tinha vingado o sabá negro, o roxo profundo, o fluido rosa, a pimenta malagueta vermelha. Era a vez do poema laranja. Quando a namorada apareceu, protestou bastante. Achou a mudança ridícula e infantil. Enquanto ela esbravejava, eu fiquei olhando para o monitor e a onda bateu: uma energia muito forte emanava daquelas palavras juntas. Foi a eletricidade? Foi o desprendimento de uma reclamação feminina? Não. Estava sagrado o nome do meu primogênito: the orange poem, filho de "Last Fly". O namoro acabou meses depois e o garoto se aproxima dos seus 14 anos.


CONSTRUÇÃO

2001, o ano 1 do Orange Poem. "Last Fly" esteve presente em todos os ensaios preliminares com os músicos laranjas (eu a considerava o 1º single do TOP, o que de fato sempre foi): primeiro com o guitarrista Fábio Vilas-Boas em janeiro, que assumiu o posto de braço-direito a partir do mesmo dia em que o baixista Álvaro M. Valle pulou fora, e afiou toda sua psicodelia de delays, camas etéreas, palhetadas simulando o voo de pássaros e solos viajandões desde os primeiros arranjos da canção; depois em fevereiro com o baixista Rajasí Vasconcelos (indicado pelo jazzista Maurício Uzêda), que criticou e dispensou várias músicas do repertório inicial menos "Last Fly" (que lhe arrancou aplausos quando a ouviu pela primeira vez), criando uma linha sentimentalmente precisa, uma prova de amor à mãe laranja que, quando compreendi, fiz questão de incorporá-la definitivamente à canção; por fim, em março, com o guitarrista Zanom (reincorporado ao poema para ser base apenas, graças à insistência mais uma vez de Maurício Borges) e o baterista Hosano Lima Jr. (por vergonha de não dar certo de novo, tentei outros bateristas, como Alan Abreu, mas a vaga sempre foi do bom amigo).

Sábado, 31 de março de 2001, 1º ensaio do Orange Poem. No post em comemoração aos 10 anos da banda, relembro como foi esse dia. "Last Fly" teve a pior execução, o TOP demorou pra compreendê-la, e só a partir do 8º ensaio que ela foi acontecer satisfatoriamente.

Hosano, Rajasí, Mirdad, Zanom e Fábio
no 1º ensaio TOP em 31/03/2001.


A versão com os arranjos concluídos 100% só rolou a partir de 27 de outubro de 2001, durante a gravação do 1º demo, em que sugeri e Fábio começou a música com o seu voo nos delays e Zanom surpreendeu com o slide. A partir daí, a mãe atravessou prontinha os três anos de amadorismo, em que tentamos por seis vezes gravar o álbum "Shining Life, Confuse World" e todas deram merda. Só em 2004, treinados após uma temporada de sete shows, que entramos num esquema profissional no estúdio de Tadeu Mascarenhas.


GRAVAÇÃO

Final de novembro de 2004. O baterista Hosano Lima Jr. gravou "Last Fly" em sua primeira sessão (27/11). O guitarrista Fábio Vilas-Boas, que sempre teve uma grande dedicação pela mãe laranja, também gravou seus solos, pontas e voo na sua 1ª sessão (30/11), com muita atenção e carinho, já que era uma das músicas em que era o "ator principal" do 1º repertório TOP. Veio dezembro. O guitarrista Zanom gravou rapidamente sua participação de coadjuvante com a base pesada na 2ª sessão (14/12) e o slide na 3ª (28/12). O baixista Artur Paranhos ralou pra gravar "Last Fly" em sua 1ª sessão (18/12), porque meu perfeccionismo chato de produtor musical do disco queria que o arranjo de Rajasí Vasconcelos fosse registrado 100% igual – não ficou com a sonoridade que eu pretendia, mas ficou eficiente. Ironicamente deixei a faixa 1 do álbum por último, e gravei o violão 12 cordas na minha 2ª sessão, pouco antes do ano acabar (30/12).

Rajasí e Zanom gravam em "Shining Life, Confuse World" no início de 2005, no primeiro estúdio "Casa das Máquinas".


Não tinha como "Shining Life, Confuse World" ser gravado sem a presença de Rajasí Vasconcelos. Pois na terça 11 de janeiro de 2005, o amigo gravou suas participações na canção "Dubious Question" (foto) e depois da gravação de minha voz em "Last Fly" (em que inovei e registrei uma versão com voz completamente rasgada, diferente do jeito que sempre cantava – foi o timbre mais estranho do álbum), tive um insight. Pedi pra Raja gravar sua risada no intervalo entre a volta do refrão e o recomeço da 2ª parte (essa ideia do riso do baixista foi de Zanom, presente também nessa sessão de gravação, que tinha sugerido isso anteriormente quando gravavam "Dubious Question"). Um pouco tímido, Rajasí aceitou o convite, mas não sabia como rir, assim, de forma programada. Aí entrou em cena o comediante Zanom, que ficou do aquário fazendo palhaçada. Raja riu e então registramos eternamente sua risada ingênua, singular e melancólica, que ajuda a evidenciar a estética floydiana em "Last Fly".

Glauber Guimarães grava "Last Fly" em dezembro de 2013, no segundo estúdio "Casa das Máquinas".


VERSÃO FINAL

Depois de ser lançado em setembro de 2005, "Shining Life, Confuse World" pouco circulou e foi pra gaveta. Mesmo assim, "Last Fly" foi a mais executada, inclusive por programas de rádio e TV, a mais conhecida pelo pequeno público do TOP e até entrou na coletânea Canções do Leste, uma compilação do rock baiano produzido entre 2000 e 2012. Depois de uma pausa de sete anos, The Orange Poem voltou com o EP Ground (2014) e a proposta de novos vocalistas. O amigo Glauber Guimarães (ex-Dead Billies e atual Teclas Pretas e Glauberovsky Orchestra) realizou um sonho antigo meu e topou gravar três músicas laranjas com a sua voz. A versão final de "Last Fly" foi eternizada em dezembro de 2013, com uma pequena mudança sugerida por mim: uma pausa na banda antes do solo final, para que as diversas vozes de Glauberovsky pudessem preparar o voo com mais calma. Vamos decolar? Em um último voo?

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