Maria do Rosário Pedreira - foto daqui
Mãe, eu quero ir-me embora — a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram —
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir-me embora — os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim — tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir-me embora — nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique —
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou-me embora — esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua — a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.
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Pai, dizem-me que ainda te chamo, às vezes, durante
o sono — a ausência não te apaga como a bruma
sossega, ao entardecer, o gume das esquinas. Há nos
meus sonhos um território suspenso de toda a dor,
um país de verão aonde não chegam as guinadas da
morte e todas as conchas da praia trazem pérola. Aí
nos encontramos, para dizermos um ao outro aquilo
que pensámos ter, afinal, a vida toda para dizer; aí te
chamo, quando a luz me cega na lâmina do mar, com
lábios que se movem como serpentes, mas sem nenhum
ruído que envenene as palavras: pai, pai. Contam-me
depois que é deste lado da noite que me ouvem gritar
e que por isso me libertam bruscamente do cativeiro
escuro desse sonho. Não sabem
que o pesadelo é a vida onde já não posso dizer o teu
nome — porque a memória é uma fogueira dentro
das mãos e tu onde estás também não me respondes.
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O meu amor não cabe num poema — há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto —
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer — é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome — é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.
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Ainda bem
que não morri de todas as vezes que
quis morrer — que não saltei da ponte,
nem enchi os pulsos de sangue, nem
me deitei à linha, lá longe. Ainda bem
que não atei a corda à viga do tecto, nem
comprei na farmácia, com receita fingida,
uma dose de sono eterno. Ainda bem
que tive medo: das facas, das alturas, mas
sobretudo de não morrer completamente
e ficar para aí — ainda mais perdida do que
antes — a olhar sem ver. Ainda bem
que o tecto foi sempre demasiado alto e
eu ridiculamente pequena para a morte.
Se tivesse morrido de uma dessas vezes,
não ouviria agora a tua voz a chamar-me,
enquanto escrevo este poema, que pode
não parecer — mas é — um poema de amor.
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Foto: Aurélio Vasques
Se alguém me perguntar, hei-de dizer que sim, que foi
verdade — que não amei ninguém depois de ti nem
o meu corpo procurou nunca mais outro incêndio
que não fosse a memória de um instante junto
do teu corpo; e que deixei de ler quando partiste
por não suportar as palavras maiores longe da tua boca;
e que tranquei os livros na despensa e tranquei a despensa,
acreditando que, se não me alimentasse, acabaria
por sofrer de uma doença menor do que a saudade, mas
a que os outros, pelo menos, não chamariam loucura.
Se alguém me perguntar, direi que foi assim, e não de
outra maneira, como alguns parecem supor — que permiti,
bem sei, que outros homens me amassem e me aquecessem
a cama, mas em troca lhes dei apenas um nome diferente
do que tinham e os vi partir desesperados a meio
da noite sem sentir maior dor que a de saber que, afinal,
também eles não existiam para além de ti; e que no dia
seguinte dava comigo a trautear sem querer essa canção
que amavas (como se ela, sim, se tivesse deitado
no meu ouvido), mas que a sua melodia, em vez
de me alegrar como antes, me escurecia mais a vida.
Se alguém me perguntar, nada desmentirei, nem negarei
que os frutos todos que me deram a provar na tua ausência
me pareceram demasiado azedos ao pé dos que explodiam
em sumo nos teus lábios; e que, por isso, nunca mais quis
um beijo de ninguém, nem sequer inocente, e não voltei
também a aceitar as flores que me traziam por me lembrar
que, em mãos assim, tão grandes para o afecto, o seu
perfume anunciava invariavelmente a chegada do outono.
E contarei por fim, se alguém quiser saber, que o teu silêncio
foi de tal densidade, de tal espessura, que não consegui
escutar nenhuma das vozes que vieram depois de ti e, pior
do que isso, me esqueci com indiferença das mais antigas,
pelo que as minhas noites se tornaram uma tão longa
e solitária travessia que ainda esta manhã acordei ao lado
da tua sombra e respondi baixinho, mesmo sem ninguém
me perguntar, que há coisas que uma mala nunca leva.
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Ao sair esta tarde do teu quarto com a lentidão
de um rio sob a ponte e a boca triste a retalhar-lhe
o rosto, esse homem a quem tu chamas médico
(mas que é, na verdade, um mago que lê nas veias e
adivinha o futuro) encostou a porta devagar; e disse
depois muito depressa — como uma faca que se risse
num corpo ou um ponto de luz que se apagasse
no céu — que afinal já não irias ter tempo para ver
os frutos derramarem-se das árvores deste verão,
nem os barcos que fendem o mar quando se cruzam
com o crepúsculo, nem sequer o mosteiro onde,
se fosses crente, mandavas rezar missa pela tua mãe.
Se as lágrimas não me tivessem então estremecido
nos olhos e um vento glacial não desenhasse de repente
as formas do meu corpo no vestido (e isso, não sei porquê,
me intimidasse), ter-lhe-ia respondido que se enganara:
porque era eu quem não teria já tempo para salvar-te,
era eu quem morrera com a pancada seca da verdade.
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Nunca te esqueci — é este um amor maior
que atravessa a vida e resiste à cicatriz
do tempo. O que ontem me disseste agora
o ouço, como se nada tivesse interrompido
a magia do instante em que as nossas bocas
se aguardavam na distância de um beijo e
o olhar tocava o corpo antes da mão. Se
hoje vieres por esse livro que deixaste (e cuja
lombada acariciei todos os dias que durou a tua
ausência como uma nesga de sol acaricia um
rosto no inverno), encontrarás a sopa a fumegar
na mesa, e a camisa engomada no cabide, e os
lençóis da cama imaculados, e um corpo pronto
para qualquer aventura — e ainda o cão deitado
à porta, à tua espera, como na véspera de partires.
Porque os anos não contam para quem assim ama.
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à Avó
Ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos
que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.
E, desde então, as nossas feridas têm a espessura
do teu silêncio, as visitas são desejadas apenas
a outras mesas. Sob tua cadeira, o tapete
continua engelhado, como à tua ida.
Provavelmente ficará assim para sempre.
No outro Natal, quando a casa se encheu por causa
das crianças e um de nós ocupou a cabeceira,
não cheguei a saber
se era para tornar a festa menos dolorosa,
se para voltar a sentir o quente do teu colo.
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Se partires, não me abraces — a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.
Quando me abraças, pulsa nas minha veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces —
o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém — longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.
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Foto daqui
De que me serviu ir correr mundo,
arrastar, de cidade em cidade, um amor
que pesava mais do que mil malas; mostrar
a mil homens o teu nome escrito em mil
alfabetos e uma estampa do teu rosto
que eu julgava feliz? De que me serviu
recusar esses mil homens, e os outros mil
que fizeram de tudo para eu parar, mil
vezes me penteando as pregas do vestido
cansado de viagens, ou dizendo o seu nome
tão bonito em mil línguas que eu nunca
entenderia? Porque era apenas atrás de ti
que eu corria o mundo, era com a tua voz
nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo
do amor de cidade em cidade, o teu nome
nos meus lábios de cidade em cidade, o teu
rosto nos meus olhos durante toda a viagem,
mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.
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para José Luís Peixoto
Quem se afasta do mundo deixa a quem fica
um rasto de perguntas. Mas eu vi a morte dançar
tantas vezes no lago dos teus olhos que não pergunto
pelos teus passos à lama dos caminhos nem
pelos teus sonhos ao côncavo da cama. Quando
partiste, a solidão ficou nas coisas todas — no prato
que ia por vício para a mesa mas voltava vazio;
nas roupas escuras; nas sardinheiras secas; na dor
embrutecida do cão cego a ganir toda a noite à porta
do teu quarto; na casa fria; no livro aberto
ao meio no tapete (e que ninguém lerá, porque divide
a tua vida entre o que foi e o que podia ter sido se deus
fosse mais deus do que diziam); e ainda neste rosto
que me deste — e que é o teu no meu envelhecido.
A tua morte foi como um espelho partido contra o verão;
e nenhum vento que atravessasse o mundo varreria
de mim os seus estilhaços. Por isso, perguntar não mais
seria do que tecer uma armadilha para as memórias.
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Vejo brilhar uma estrela que,
pelos vistos, já morreu — assim a
minha vida: luminosa e, porém,
assombrada pela escuridão. Sorte a
daqueles que só conhecem a morte
pelas mãos frias — toda a vida fiz luto
por corpos ainda sãos. A felicidade
faz-me, apesar de tudo, infeliz —
é sempre a ideia do fim que traz
a música certa para os meus versos.
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Os seus vestidos pretos fechados
no armário lançam uma sombra
funesta nos meus dias. A sua voz
eterna na fita do telefone é outro
espinho cravado no meu silêncio.
Roubei-lhe, sem saber, todas as
palavras que te disse — porque,
num beijo meu, são ainda os seus
lábios que procuras, é dela o corpo
que abraças quando me abraças.
Se adormecer ao teu lado mais
esta noite, sei que os seus olhos
hão-de pousar gelados nas minhas
pálpebras, roubando-me a secreta
ilusão desse repouso. E amanhã,
se por acaso saíres antes de mim,
vão esses olhos perseguir-me pelos
corredores, como a expulsar-me
para sempre desta casa. O tempo
é implacável com quem aguarda
em segredo o esquecimento de
uma morte. Deixa-me, por isso,
aguardá-lo contigo; e, entretanto,
basta que me mintas, sim, mente,
mas nunca me digas o seu nome.
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Foto daqui
Não voltei a esse corpo; e não sei
se aqueles que o vestiram antes e depois
de mim souberam nele o verdadeiro calor
e lhe conheceram os perigos, os labirintos,
as pequenas feridas escondidas. Não voltarei
provavelmente a sentir a respiração
palpitante desse corpo, desse lugar onde as ondas
rebentavam sempre crespas junto do peito, do meu peito
também, às vezes.
Uma noite outro corpo virá lembrar essa maresia,
o cheiro do alecrim bruscamente arrancado à falésia.
E eu ficarei de vigília para ter a certeza de quem me
recolheu,
porque os cheiros tornam os lugares parecidos, confundíveis.
Quando a manhã me deixar de novo sozinha no meu quarto
trocarei os lençóis da cama por outros, mais limpos.
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A Última Ceia
Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa.
Trouxe-as dentro das mãos fechadas (alguns disseram
que apenas escondia as feridas do silêncio).
Pousou-as na mesa e começou a abri-las devagar,
tão devagar como passa o tempo quando o tempo
não passa. E depois distribui-as pelos outros,
multiplicou-se em dedos, em palavras (alguém disse
que chegariam a todos, ultrapassariam os séculos e
teriam a duração do tempo quando o tempo perdura).
Ceou com todos pão que não levedara e vinho áspero
das videiras magras do monte que os ventos dizimavam.
Quando se ergueu, havia ainda palavras sobre a mesa,
coisas por dizer no resto do pão que alguém deixara,
feridas fundas nas mãos que fechou em silêncio e devagar.
Perto dali uma figueira florescia. À espera.
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Não têm nome — são corpos que o frio
esfaqueia ao virar das esquinas, sombras
que tiritam dobradas no cobertor da noite.
Se porventura chegaram a ver a luz, o clarão
cegou-os para sempre e perderam-se como
os anos que somam todos os anos sem saber
quantos são. Não os chamamos — os seus
rostos vincados pelos dias são espelhos que
desafiam o labor do tempo; têm os olhos
perdidos nas olheiras, e o olhar perdido, e as
mãos perdidas nos bolsos onde ficaram as
migalhas de outras vidas que alguém lhes
estendeu como a acenar-lhes com a promessa
de um inverno mais quente. Não sabemos
quem são — se porventura chegaram a ter
um nome, também já o perderam; nada lhes
resta senão o medo com que os olhamos de
longe e o próprio medo — e, se acendem
fósforos exaustos contra a escuridão, é por
saberem que mesmo as estrelas são da noite.
Deitam-se sós nas camas que inventaram,
esquecidos de que choraram por dias inteiros
todos os corpos bonitos que perderam. Afagam
os ossos cansados antes do sono e, por não
terem já quem lhes peça um abraço, passam
a noite a fazer companhia à solidão e acordam
com um braço perdido no outro braço.
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Diz-me o teu nome — agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão
com os teus dedos — como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,
como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro — assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o
nos meus lábios devagar; é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.
Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo — um nome sim.
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Mãe, agora que guardaste na arca
as blusas pretas e os teus olhos
voltaram a ser azuis; que os meus
irmãos dormem no seu quarto um
sono de poderem ser felizes; que
já conseguimos dizer uma à outra
o nome dele no meio de um sorriso
porque a morte, afinal, é uma coisa
tão longe — deixa-me perguntar-te
porque não há retratos do meu pai
comigo ao colo, como os dos meus
irmãos que ele trazia sempre junto
ao peito e tu depois dividiste pela
casa para ele poder saber que ainda
te lembravas; ou então debruçado
no meu berço — que tu escondeste
no sótão ainda eu era pequena e te
sentavas a embalar vazio quando ele
não entendia porque estavas tão
triste. Mãe, eram tão azuis os olhos
do meu pai no dia em que levou os
meus irmãos à escola e tinham tanto
medo do que pudesse acontecer-lhes;
são tão azuis também os olhos deles
debaixo do seu sono, e os meus tão
negros de dúvidas — porque foste
sempre tu que me levaste sozinha
para as coisas difíceis da minha vida,
que o meu pai nem nunca quis saber
que coisas eram. Mãe, estão hoje tão
azuis os teus olhos com essas roupas
claras, e eu ainda tenho o nome do
meu pai entre as minhas lágrimas, mas
agora, que os meus irmãos descansam
no seu quarto, que já todos podemos
dizer o nome dele sem nos cortar os
lábios, diz-me a verdade: esse homem
que chorámos era mesmo meu pai?
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Levanta-te e amaldiçoa o tempo —
amanhã tão depressa e quase nada
para ficarmos juntos até à escuridão.
Tantas manhãs terrivelmente lentas
antes de ti, tantas tardes de retratos
exaustos sobre as mesas, noites que
nunca abriam fendas para o sonho; e de
repente os dias a fugirem como água
de dentro de uma mão, amanhã tão
depressa. Não te conformes: amaldiçoa
o tempo. Se for preciso, grita com Deus —
a mim ouviu-me enquanto te esperava.
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Na tua boca cantou subitamente uma voz.
E, ao dizeres o meu nome na rede de um abraço,
o rio que outrora bordava o campo emudeceu
com as suas pedras lisas. Então, foi possível
ouvir o vento soprar nas asas das borboletas
e os lagartos recolherem-se nos veios dos muros
e o sol ferir-se nos espinhos das roseiras.
Sobre a colina quente passou uma nuvem
e uma ave poisou, perplexa, no fio do horizonte —
por um instante, o dia mostrou as suas pálpebras tristes;
e, na brancura cega desse entardecer, a tua mão
escorregou pela inclinação do sol e veio contar
as sombras no meu decote.
São assim as mais pequenas histórias do mundo.
Presentes no livro Poesia reunida (Quetzal Editores, 2012), de Maria do Rosário Pedreira, páginas 111-112, 183, 94, 240, 140-141, 123, 143, 36, 101, 199, 128, 248, 173, 67, 22, 229-230, 156, 184-185, 245 e 91, respectivamente.
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