Pular para o conteúdo principal

Desengavetando canções nessa quarentena #01


A pandemia do novo coronavírus tá assolando no mundo. Tenho a sorte de ainda estar vivo, e resolvi desengavetar umas canções que não foram gravadas pela banda The Orange Poem, nem pelo projeto Orange Roots. Nessa primeira rodada, os xodós “Mirror” e “At Least a Wish II”, o blues “I’m a Silent Bird” e a recém-composta “ISO lamento” [quase dez anos que não compunha]. Som no tubo! E se cuidem!


Não consegue visualizar o player? Veja no YouTube aqui

Mirror
(Emmanuel Mirdad)

My one love, my only friend
This afternoon I thought about my life
Recalled I’m no longer the same
I guess the doubt is the only right thing
Among too many kinds of lies, I was crying, I was nude

My one love, my only friend
This afternoon I thought that the past was sad
But I deceived the memory playing being always right
I think I’m tired, I haven’t done anything since I knew evil 
I’ll never trust someone 

My one love, I’m so alone, I’m so afraid, I’m so dumb

My one love, my only friend
During sometime of my life I was afraid to be blind
I was blind when I was wrong
The evil is so strong when we’re wrong

This afternoon I’ll try to be happier 
But the world will infest my happiness
Maybe I’ll disguise my smile
I’ll disguise how awake I am

My one love, I’m so alone, I’m so afraid, I’m so dumb

My one love, my only friend

[Composta em 1º de outubro de 2001]

[Vídeo gravado em 18/07/2020]

Tradução

Espelho

Meu único amor, meu único amigo. Nesta tarde, pensei na minha vida, lembrei que eu não sou mais o mesmo; percebi que a dúvida é a única coisa certa entre tanto tipo de mentira [eu estava chorando, estava nu].

Meu único amor, meu único amigo. Nesta tarde, pensei que o passado era triste, mas enganei a memória brincando de ser sempre certo. Acho que estou cansado, não faço nada desde que conheci o mal [nunca mais confiarei em alguém].

Meu único amor, estou tão sozinho, tão amedrontado, tão mudo.

Meu único amor, meu único amigo. Durante algum tempo da minha vida, tive medo de estar cego; fui cego quando estive errado [o mal é tão forte quando estamos errados].

Nesta tarde, tentarei ser mais feliz, mas o mundo infestará a minha felicidade. Talvez eu vá disfarçar o meu sorriso [disfarçarei o quanto que estou acordado].

Meu único amor, estou tão sozinho, tão amedrontado, tão mudo.
Meu único amor, meu único amigo.

------

Não consegue visualizar o player? Veja no YouTube aqui

At Least a Wish II
(Emmanuel Mirdad)

If you don’t shine tonight, how can I have a quiet sleep?
…how can I forget the bad dreams?
…how can I be who I wish?
…how can I find my inner peace?
– Please come back home...

I don’t know what you do without me, if I’m still alive?
I breathe your fragrance in a strange silence
Why don’t you answer my dreams?
Why don’t you call and say goodnight? 
– Please come back home...
 
Someone was here and screamed
It was my hopeful hand at phone – Hello, I’m waiting...
I’ve got to imagine your voice saying patience to my caress
But I didn’t listen to your soul…
– Please come back home...
...I didn’t listen to your soul...please come back home…
...I didn’t listen to your soul...please come back home…

[Composta em 29 de setembro de 2001]

[Vídeo gravado em 18/07/2020]

Tradução

Ao Menos um Desejo II

Se você não brilhar hoje à noite, como eu posso ter um sono quieto? ...como posso esquecer os sonhos ruins? ...como posso ser quem eu desejo? ...como posso encontrar a minha paz interior? – Por favor, volte para casa...

Eu não sei o que você faz sem mim, se eu ainda estou vivo? Respiro a sua fragrância em um estranho silêncio... Por que você não responde os meus sonhos? Por que você não liga e diz boa noite? – Por favor, volte para casa...

Alguém esteve aqui e gritou; era a minha mão esperançosa ao telefone – Alô, estou esperando... Pude imaginar a sua voz dizendo paciência para o meu carinho, mas eu não ouvi a sua alma... – Por favor, volte para casa...

...eu não ouvi a sua alma... por favor, volte para casa... eu não ouvi a sua alma... por favor, volte para casa...

------

Não consegue visualizar o player? Veja no YouTube aqui

I’m a Silent Bird
(Emmanuel Mirdad)

I traveled for many places
I knew so much moonlights
I dreamt in all rivers and skies

I saw the beginning of your cities
I denied religions and money
My God was a simple life

I learnt the border of my hunger
I had so many weird families
But my pain told me the other way 
My destiny is to find myself

I go, I go inside my eyes
To prove that I have a soul
To prove that I can find myself

I go and I’ll fight for my faith
To prove that exists only face
To prove that I can find myself

[Composta em 2001]

[Vídeo gravado em 18/07/2020]

Tradução

Eu sou um Pássaro Silencioso

Viajei por tantos lugares, conheci muitos luares, sonhei em todos os rios e céus.

Avistei o início das suas cidades, reneguei religiões e dinheiro; o meu Deus era uma vida simples.

Aprendi a fronteira da minha fome, tive tantas famílias estranhas, mas a minha dor me disse o outro caminho: o meu destino é me encontrar.

Eu vou, eu vou para dentro dos meus olhos, para provar que eu tenho uma alma, para provar que eu posso me encontrar.

Eu vou e lutarei pela minha fé, para provar que existe uma só face, para provar que eu posso me encontrar.

Eu sou um pássaro silencioso.

------

Não consegue visualizar o player? Veja no YouTube aqui

ISO lamento
(Emmanuel Mirdad)

Aqui estou
Ainda vivo
Com medo do vírus
Vivendo por uma tela
Lavando as compras
Cozinhando a comida
Faxinando o apê
E o dinheiro acabando
Não quero morrer
Nem enlouquecer
Só a arte é que salva
Ainda há muito o que viver

[Composta em 05 de agosto de 2020]

PS: Fui trocar a corda do violão e uma melodia se apresentou. À beira dos 100 mil mortos no Brasil, escrevi a letra, formei o blues “ISO lamento” e gravei esse vídeo. Forçaê, se cuidem.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão

Dez passagens de Clarice Lispector nas cartas dos anos 1950 (parte 1)

Clarice Lispector (foto daqui ) “O outono aqui está muito bonito e o frio já está chegando. Parei uns tempos de trabalhar no livro [‘A maçã no escuro’] mas um dia desses recomeçarei. Tenho a impressão penosa de que me repito em cada livro com a obstinação de quem bate na mesma porta que não quer se abrir. Aliás minha impressão é mais geral ainda: tenho a impressão de que falo muito e que digo sempre as mesmas coisas, com o que eu devo chatear muito os ouvintes que por gentileza e carinho aguentam...” “Alô Fernando [Sabino], estou escrevendo pra você mas também não tenho nada o que dizer. Acho que é assim que pouco a pouco os velhos honestos terminam por não dizer nada. Mas o engraçado é que não tendo absolutamente nada o que dizer, dá uma vontade enorme de dizer. O quê? (...) E assim é que, por não ter absolutamente nada o que dizer, até livro já escrevi, e você também. Até que a dignidade do silêncio venha, o que é frase muito bonitinha e me emociona civicamente.”  “(...) O dinheiro s

Dez passagens de Jorge Amado no romance Mar morto

Jorge Amado “(...) Os homens da beira do cais só têm uma estrada na sua vida: a estrada do mar. Por ela entram, que seu destino é esse. O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiro que não viajam mais, e, apenas, remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor e vem a morte. E não é sobre o mar que a lua é mais bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos homens dos saveiros. Qual deles já teve um fim de vida igual ao dos homens da terra que acarinham netos e reúnem as famílias nos almoços e jantares? Nenhum deles anda com esse passo firme dos homens da terra. Cada qual tem alguma coisa no fundo do mar: um filho, um irmão, um braço, um saveiro que virou, uma vela que o vento da tempestade despedaçou. Mas também qual deles não sabe cantar essas canções de amor nas noites do cais? Qual d