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Mostrando postagens de agosto, 2024

Quinze passagens do romance Ventos do Apocalipse, de Paulina Chiziane

Paulina Chiziane (foto: Nuno Ferreira Santos) “Os corpos mergulham na dança imemorial e sem idade. Até as crianças, anjos humanos, se requebram nas costas das mães batendo palmas, abrindo e fechando as boquinhas de fome no compasso da melodia. Os gritos dos tambores despertam a terra que adormece, o povo anestesia-se com o lenitivo das suas vozes, as vibrações sonoras atingem o além-túmulo e o coração da selva que é a residência dos deuses, e estes, compreendendo os gritos e lamentos dos seus protegidos, respondem numa voz única que é o tumulto do seu sangue: Presente. E encarnam-se nos corpos dos seus protegidos, que entram em transe, uivam, gritam, rugem e falam numa língua que não se entende, linguagem dos deuses de Mananga e de todos os heróis adormecidos no Império de Gaza. As vozes continuam crescentes na música quente. (...) A embriaguez e o êxtase conduzem ao despudor. As mulheres de mãos na cintura agitam os vestígios de ancas para frente para trás num exorcismo erótico, balan

60 contos e 200 poemas de Emmanuel Mirdad

Emmanuel Mirdad (foto: Leo Monteiro) O escritor Emmanuel Mirdad é leitor e autor dos livros “ oroboro baobá ” (romance), “ O grito do mar na noite ” (contos), “ Quem se habilita a colorir o vazio? ” (poemas), “ Abrupta sede ” (contos), “ O lampião e a peneira do mestiço ” (crônicas/memórias) e “ Olhos abertos no escuro ” (contos). Atualmente, prepara o lançamento da 2 ª edição de cada uma dessas obras, com previsão de lançamento em 2025 . Para não ficar sem as obras disponíveis no seu blog (com a feitura das novas edições, retirou do ar as postagens com o conteúdo das versões anteriores), compartilha, neste post , os seus 60 contos e 200 poemas , num formato genérico, sem edição de livro. Download no Google Drive aqui Download no Google Drive aqui

Dez poemas de Tiago D. Oliveira no livro Caramelo quer ver o mar

E se eu fosse você? Tiago D. Oliveira tentaria descrever sem palavras esta fome Ou com apenas uma delas, sentiria o mundo Ou recomeçaria a andar dentro da água [a mesma que mataria a sede Ou trocaria de lugar com os pombos da praça — quando alguém perguntou de onde tinha vindo o tir... Ou pararia o tempo que foi usado dos 30 aos 40 [incluindo as noites todas elas noites todas Ou esconderia dentro do fim todas as armas sobre os   armários Ou tentaria parar de insistir em aprender a voar Ou de fingir que gosta de todo mundo Ou desistiria de imaginar ou tentar lembrar [de como era antes do celular, da internet, do viagra,                                                                              do fogo Ou venderia todos os sonhos para o silêncio de uma caixa [o medo sempre é um bom amigo Ou pararia de exigir que você fosse igual a mim Ou atravessaria rindo a tarde mais difícil Ou saberia para sempre que alguém amado pode ser atropelado Ou que a carne dos outros não será a mesma na mem

Quinze passagens do romance Sobrevidas, de Abdulrazak Gurnah

Abdulrazak Gurnah (foto: Facundo Arrizabalaga) “Mesmo com a Schutztruppe perdendo soldados e carregadores em batalha, por doença ou deserção, seus oficiais seguiam lutando com uma obstinação e uma persistência loucas. Os askaris deixaram a região devastada, as pessoas passando fome e morrendo às centenas de milhares, enquanto eles lutavam com sua aceitação cega e assassina de uma causa cujas origens desconheciam e cujas ambições era fúteis e destinadas no fim a dominá-los. Um grande número de carregadores morreu de malária e disenteria e exaustão, e ninguém se deu ao trabalho de contá-los. Eles desertavam de puro medo, para morrer naquelas regiões rurais esgotadas. Depois esses acontecimentos seriam transformados em histórias de um heroísmo absurdo e desinteressado, um assunto secundário diante das grandes tragédias da Europa, mas para os que viveram tudo aquilo foi um tempo em que sua terra se encharcou de sangue e se cobriu de cadáveres.”           “Muitos askaris da tropa de Hamza e