A ideia de promover diálogos entre artistas de várias expressões culturais surgiu a partir de um desejo do produtor Emmanuel Mirdad em transpor os nichos onde cada arte se enclausurava. “Observei que os artistas ficavam cada um no seu nicho sem muita interação ou presença em eventos de outras artes. Foi aí que pensei no Culturaê, um evento que pudesse reunir esses artistas numa troca divertida conduzida por alguém com expertise em várias linguagens. E a CAIXA Cultural, por anos o lugar de encontro de múltiplas manifestações, é o cenário ideal para encantar as pessoas em conversas inesquecíveis”, revela Mirdad, criador, sócio e coordenador geral do Culturaê, diretor da Mirdad Cultura.
“Em seus 163 anos de história, a Caixa apoiou variados projetos de música, artes visuais, literatura e de todo tipo de expressões. Ao acreditar em reunir as artes em um único evento, apoiando o Culturaê justamente em janeiro de 2025, mês de seu aniversário de 164 anos, a Caixa mostra como se mantém focada em inovação e antenada às demandas de uma sociedade em constante transformação”, comenta Thiago Fontes, diretor da produtora Fontes de Negócios, sócia do evento.
Programação da etapa Salvador
Culturaê 2025 — Etapa Salvador
Programação | Curador: Renato Cordeiro
Sábado, 25/01
Oficina | 10h
“Desenvolvimento de coleção de moda”
Pedro Batalha (Dendezeiro)
Inscrição gratuita aqui
Tendo à frente Pedro Batalha, estilista, CEO e Diretor Criativo na Dendezeiro, a oficina de desenvolvimento de coleção de moda visa o desenvolvimento de uma coleção de moda por todos os participantes da atividade. O objetivo final é instruir os participantes do processo criativo em torno da criação de uma coleção e construir um produto coletivo, onde todos compartilharam e contribuíram para a realização. Os participantes irão aprender desde o processo de pesquisa, a como organizar suas referências e transformá-las em pedaços essenciais para o design de roupas que construirá a coleção final. Serão usados recortes e colagem de imagens e tecidos para ilustrar melhor as referências e atiçar a criatividade. O produto final será um mural-moodboard com colagens, desenhos e tecidos que representa o guia criativo para toda e qualquer coleção de moda.
Mesa #01 | 15h
“O canto vinha de longe – Passos pioneiros nas artes”
Neusa Borges (teatro) e Goya Lopes (moda)
Ingresso gratuito aqui
O Culturaê inicia os trabalhos reverenciando artistas pioneiras. Assim como Dorival marcou época se acompanhando ao violão e cantando as próprias composições, outros nomes das artes abriram caminhos para quem veio depois. Conhecida por papéis em produções como a novela "Escrava Isaura" (1976) e o musical "Ópera do Malandro" (1978), Neusa Borges segue atuando e conquistando reconhecimento: aos 80 anos, levou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por "Mussum, o Filmis" (2023) no Festival de Gramado. Por sua vez, Goya Lopes é uma das primeiras a levar referências culturais afro-brasileiras para a moda e o design brasileiro, sendo a criadora da Didara Design Goya Lopes. Uma peça da artista, com sete metros de altura, foi um dos destaques da mostra “Artistas do Vestir: Uma Costura dos Afetos”, em São Paulo.
Mesa #02 | 17h
“Eu fiz uma viagem – Trânsitos que transformam”
Zebrinha (dança) e Pauline Zoé (circo)
Ingresso gratuito aqui
Gilberto Gil certa vez defendeu Dorival Caymmi de acusações de não ser suficientemente baiano porque há décadas morava no Rio. Disse, rebatendo este raciocínio: “Dorival Caymmi teve de ir para o Rio para ser Dorival Caymmi”, fala que revela o potencial transformador dos deslocamentos. O coreógrafo Zebrinha, por exemplo, estudou na Holanda e nos EUA, enquanto a acrobata belga Pauline Zoé, artista de rua que circula pelo mundo, criou na Bahia o espetáculo “Esfera”.
Domingo, 26/01
Mesa #03 | 15h
“Tudo que é belo na vida – Diálogos culturais”
Magali Santana (arquitetura) e Jorge Washington (gastronomia)
Ingresso gratuito aqui
Esta mesa é dedicada a artistas cuja criatividade não está restrita a uma única linguagem. Dorival Caymmi era assim: não apenas músico, como ainda pintava, desenhava e até teve uma experiência como ator – isso sem falar no convívio intenso entre diferentes artistas e intelectuais. Esse caldeirão cultural marca também o afrochefe Jorge Washington, criador do projeto Culinária Musical, que há anos promove encontros entre a música, a literatura e a gastronomia. Da mesma forma, trazemos a arquiteta Magali Santana, que à frente da Casacor Bahia deste ano, deixou ainda mais evidente não apenas a arquitetura como arte, mas também os diálogos com variadas referências culturais brasileiras, em especial a música.
Mesa #04 | 17h
“Um bar à meia-luz – Urbanidades vivas”
MV Bill (música) e Alex Simões (literatura)
Ingresso gratuito aqui
Em que pesem as canções praieiras, Caymmi tinha todo um lado voltado ao espaço da cidade, seja em Salvador ou no Rio de Janeiro. Fez samba-canção, gênero tipicamente urbano e vocacionado à boemia. Mas ele próprio presenciou transformações que fazem do ambiente das cidades algo muito diferente daquilo que cantou. Em tempos de discussão sobre o Direito à Cidade, esta mesa se dedica à urbanidade de hoje. De um lado, convidamos o rapper MV Bill, que em suas canções destaca os dramas contemporâneos das grandes cidades. Do outro, trazemos o poeta Alex Simões, profundo conhecedor das delícias e mazelas dos centros urbanos e autor de livros como “Minha Terra Tem Ladeiras”.
Conceito Curatorial
por Renato Cordeiro
No circuito dos eventos dedicados à arte e à cultura, como festivais literários ou mostras de cinema, é recorrente ver diálogos entre nomes de um mesmo segmento. Menos comum é presenciar conversas entre pessoas que atuam em diferentes campos expressivos.
Como seria se o músico Luiz Gonzaga e o dramaturgo Ariano Suassuna, ambos cristãos, discutissem como a fé influenciou a peça “Auto da Compadecida” ou a gravação de “Frei Damião”? E se a interminável discussão sobre limites do humor fosse tema de um papo entre o cartunista Henfil e a atriz Dercy Gonçalves?
Perdemos a chance de saber – todos os exemplos acima já são saudosos. E é para não perder mais oportunidades que surge o Culturaê – Papo de Artista. Aqui, circo e stand up podem dividir microfone e picadeiro, a arquitetura senta à mesa com a culinária, a música canta e a poesia entra no coro. A diversidade de linguagens também se reflete na variedade das atrações, pertencentes a variadas raças, gêneros, sexualidades e procedências.
Para provocar as discussões entre artistas de diferentes linguagens a partir de suas trajetórias, recorremos a Dorival Caymmi, o maior artista que a Bahia já teve. Se parece exagero, quem diz isso não somos nós. Caetano Veloso conta do conselho recebido de um de seus grandes mestres, João Gilberto: “aprenda tudo com Caymmi. Ele é o gênio da raça!”.
Aqui, a homenagem adquire outra dimensão: fazer de Dorival um disparador de temas nascidos da própria vida e obra. Não se trata de propor um seminário sobre o mestre, ou mesmo de trazer especialistas sobre ele, mas sim de perceber como aquilo que viveu, pensou e cantou reverbera de diferentes formas em variados nomes da nossa cultura.
Renato Cordeiro (foto: Uanderson Brittes)
Renato Cordeiro é baiano. Formou-se em comunicação pela UFBA e trabalha no rádio há 17 anos. Na Band News FM, assinou a série “Amado Jorge - Os Cem Anos do Maior Escritor Baiano” (2012), tendo entre os depoentes João Ubaldo Ribeiro, Gilberto Gil e Mário Cravo Jr. Com Silvana Oliveira, fez “Carnaval da Bahia”, vencedora do I Prêmio Petrobras de Jornalismo (2013). Produtor do Especial das Seis da Educadora FM (2011-2015), criou e dirigiu a série “Bethânia, Palco e Poesia”, apresentada pela própria Maria Bethânia. Mediou mesas literárias na Flipelô (2018 a 2023), FARPA (2019), Flin (2019 e 2022) Felica (2020 e 2021) e Fliu (2023), com autores como Itamar Vieira Jr., Antonio Torres, Ruy Castro, MV Bill, Maria Fernanda Elias Maglio, Clarice Freire e Saulo Dourado. Coordenou a Comissão Especial Julgadora do Festival de Música Educadora FM (2019). Desde 2017, apresenta o programa Multicultura, da Educadora FM, sendo Gerente de Jornalismo da emissora.
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