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Quinze passagens do livro de memórias O diabo também manda flores, de Joana Rizério

Joana Rizério


“(...) Estar ao lado de alguém que não confiava em mim matou a minha libido. O natural é sentir tesão por quem nos respeita e nos admira, não por quem nos trata como alguém de quem se espera sempre o pior. (...) E o que é o pior? Trair é o pior? Minha mãe sempre pergunta às suas turmas de ensino médio: o que de pior pode acontecer nos namoros de vocês? Os meninos respondem que é serem traídos. As meninas respondem que é serem mortas. Como pode tamanha discrepância? Por que a infidelidade tem tamanho peso? Aposto que Pietro preferia que eu morresse do que o traísse. Isso é amor?”


“(...) eu já não queria fazer sexo tão frequentemente com ele, que protestava com veemência e avançava sobre mim. Pietro deixava claro acreditar que o acesso ao meu corpo era um direito que ele tinha por ser meu companheiro. Mas o pior é que a herança atávica do machismo me fazia achar isso também, e eu não me defendia nem mentalmente. (...) Então, quando ele insistia à revelia de minhas recusas, e muitas vezes a ponto de usar a força contra mim, me segurando na cama, abrindo as minhas pernas, a velha história do sexo forçado, expressão mais amena que a palavra estupro, tão comum dentro dos casamentos, começou a acontecer sem que eu tivesse noção do quão errado aquilo era. (...) Essa foi a época em que eu passei a beber quase todas as noites. Embriagada, eu conseguia ceder às investidas dele sem sofrer tanto por emprestar meu corpo para viver aqueles momentos tão desagradáveis. Desse modo, não restava nem recordação. Às vezes, acordava com as partes intimas machucadas, mas pensava: ‘Faz parte’.”


“(...) Saíamos sempre para beber e eu cumprimentava muita gente. ‘Você pegou esse cara?’, perguntava ele toda vez, sobre cada homem que eu encontrava. Era irritante. Mas o pior é que a resposta era quase sempre sim, e isso o transformava num pitbull raivoso. (...) Cansada, comecei a dizer não àquelas perguntas — aprendi a mentir, como em ‘Mil Perdões’, de Chico Buarque, para evitar terminar a noite em guerra. Com o tempo, passei a não cumprimentar mesmo os caras que tinham sido só amigos no passado. (...) ‘Eu não sou a mulher mais gostosa do mundo, que todo mundo vai pegar!’, argumentei, desesperada, mas me depreciar não adiantou nada. Também falei: ‘Você é um gato, que insegurança é essa?’. Eu apelava à sua vaidade, igualmente sem sucesso, e ele seguiu tendo ciúme de tudo o que se mexia. (...) Não dava mais um rasgo de motivo para ele se preocupar e simplesmente não falava mais com homens ou, quando falava, dizia apenas o indispensável. (...) De modo preventivo, enviei recados a quem podia me querer com a informação de que estava indisponível. ‘Estou casada’ foi a mensagem que remeti a todos os contatinhos. A manutenção que eu fiz na minha vida envolveu sair apenas com as poucas pessoas de quem ele gostava — geralmente, outros casais. Eu tentava de tudo. Gostava dele e acreditava que tudo podia mudar. (...) quando estávamos a sós e sem o enredo de um drama para ocupar nossas discussões, as coisas continuavam boas. Ele tinha alegria, tinha inocência, tinha gentileza e mais um punhado de predicados. Mas era só adicionar o fator externo para ele se transformar. A segurança evaporava e a posse sobre mim tomava conta. (...) Eu só queria que ele visse como é que se lida com situações de paquera sem que isso deflagre uma guerra. Eu dizia: ‘Se você não está ao meu lado e alguém chega em mim, não é preciso temer nada. Eu não sou um objeto numa prateleira que alguém pode apanhar. Eu sei decidir, responder, negar e me livrar das situações’. Mas parecia chinês a língua que eu falava. (...) Mesmo assim, nosso namoro evoluiu, muito alimentado pela minha baixa autoestima, que não deixava de achar aquilo tudo, no fundo, levemente lisonjeiro. Entretanto, completamos um ano e todas as minhas tentativas de convencê-lo de que eu era fiel foram inúteis.”


          “A empresa fazia uma festa de encerramento todo ano para suas centenas de funcionários com tudo o que há de melhor para comer, beber, e assistir num palco. Era expressamente proibido levar alguém de fora. Essa ordem foi repetida várias vezes aos novatos como eu. Conversei longamente com Pietro sobre a seriedade daquela regra e ele pareceu entender.
          Ao me levar para essa festa, porém, ele tentou, de tudo o que é jeito, forçar sua entrada. Ficamos discutindo por uma hora no estacionamento até eu me entregar e entrar junto com ele. Eu devia ter desistido e ido para casa porque absolutamente todos me metralharam com o olhar, numa espécie de corredor polonês da vergonha.
          O evento, naturalmente, foi um martírio: eu não podia conversar, brincar ou demonstrar coleguismo com ninguém. Enchi a cara tristemente e voltei anestesiada para encarar mais uma batalha madrugada adentro, como acontecia a cada vez que víamos pessoas. Ele começou a insinuar que eu tinha colegas homens demais e evoluiu para fantasias sobre o que fazíamos depois do expediente.”


          “Desliguei o telefone com vertigem. Como pode alguém provocar uma morte e seguir a vida como se nada tivesse acontecido? Com que tipo de ser humano eu estava dormindo? O que fazer agora?
          Eu não tenho problemas com quem comete crimes, eu tenho problemas com quem não se responsabiliza, não paga e não se emenda. Um homem por quem um dia me apaixonei havia bebido certa noite, arrumou uma briga, decidiu pegar uma barra de ferro para bater no seu oponente e o matou.
Em vez de fugir, ele se apresentou à polícia e cumpriu sua pena. Passou a mandar dinheiro para a família da vítima todo mês voluntariamente e nunca, nunca mais bebeu. A morte que ele provocou o mudou.
          Pietro não fez nada disso. Pelo que soube, nunca teve a coragem de pegar um telefone e ligar para as vítimas da família que destruiu para pedir desculpas. Não parou de beber — muito pelo contrário: seguiu dirigindo bêbado. (...) mostrou para mim que não aprendeu nada e ainda pode ser uma máquina de matar. Eu o achei tão covarde, tão pequeno, que a partir desse dia não consegui mais vê-lo da mesma forma. Aquela não era uma postura de ser humano. Era coisa de quem anda com abutres.”


          “Pietro praticamente ditou o texto que eu enviei. Respirei, achando que isso bastaria, mas ele não ficou satisfeito e, dias depois, tentou infernizar a vida do menino.
          Só que Felipe, como se diz na Bahia, não come reggae, ou seja: não deixa barato. Na primeira ligação de Pietro, ele entendeu com que tipo de sujeito estava lidando e conseguiu mandá-lo de volta ao seu lugar. Disse: ‘Eu estou no Rio, mas conheço vários malandros de Salvador que adorariam ter um motivo para fazer uma maldade’.
          Felipe só precisou mostrar os dentes para Pietro o deixar em paz, como prova de que só sabia ser valente com mulher. Só sei disso tudo porque Felipe me contou, anos depois, quando nos encontramos na capital carioca. ‘Como é que você conseguiu namorar aquele sujeito?’, perguntou. ‘Eu me faço essa pergunta até hoje’, respondi. Continuo sem saber.”


          “(...) a mãe de Pietro me ligou, queria defender a nossa reconciliação. Era psicóloga e tinha um jeito de falar cheio dessas muletas de quem estudou o raso da retórica para engabelar ouvintes. Pobres de seus pacientes.
          Didática, eu expliquei tudo o que ele fizera, da ida à festa que quase levou à minha demissão às ameaças do dia do encontro do jornal. Mas ela relativizava a situação e, para tudo, tinha um pano quente. Foi estranho perceber que ela tentava me convencer de que eu estava perdendo uma grande oportunidade ao me separar dele mesmo com tudo o que eu havia relatado.
          Por fim, ela se despiu de toda a classe e avisou: ‘Olhe, ele não é de ficar muito tempo solteiro não, viu?’. Minha Nossa Senhora do Chuveiro Elétrico, de que planeta careta, rasteiro e pobre vinha aquela família? Eu não podia imaginar. ‘Bom para ele!’, falei antes de desligar.”


          “O que eu vivi transformou minha visão do que são relacionamentos, ciúmes e traições. Não quero ser dona de ninguém como tentaram ser de mim: quero empate, quero divisão, quero um a um, quero compartilhar a vida de modo justo e igualitário. Quero leveza, benefício da dúvida, crença na palavra, bom humor, paixão e boa vontade.
          Hoje, não aceito nenhum nível de ciúmes. É meu trauma. É natural sentir, e eu também sinto, mas demonstrar qualquer traço desse sentimento eu acho abominável. Ciúme não presta para nada e deve ser combatido a todo custo em nome da saúde dos relacionamentos. Ele não evita enlaces, só traz dor, sobretudo de cabeça.
          Também reflito sobre o que quero do conceito de fidelidade. Então, ao me relacionar, devo fingir que o resto do mundo não é gostoso para caralho? Como acreditar que sou a única depositária do desejo do meu parceiro? Por que não podemos sentir atração por outros e seguir esse instinto? O que perdemos se nosso parceiro ficar com alguém?”


“(...) eu era muito verde mesmo em termos de jornalismo e me preocupava se iria realmente ajudar. Só sabia fazer assessoria de imprensa, que considero a sua antítese, algo muito mais perto da publicidade e da propaganda. Enquanto eu sonhava com as redações, era isso o que eu fazia. (...) Jornalismo é um serviço público, uma vocação social, uma tecnologia indispensável e, na minha opinião, a profissão mais linda que existe — enquanto fazer assessoria é conversar com o mercado, com outros jornalistas e praticar a arte de vender.”


          “(...) no Brasil a mobilidade é absolutamente limitada. Isso faz com que as pessoas com deficiência vivam à margem da experiência urbana. Se muitos sequer conseguem sair de casa, como seriam vistos? Já imaginou o que é usar uma cadeira de rodas e morar no morro ou numa rua sem calçamento?
          Não temos sequer uma capital toda coberta pela tão elementar acessibilidade. Fizeram grandes reformas no calçamento de Salvador e o resultado foi tão pífio que impressionou negativamente o resto do Brasil. Sinalizações no solo que levam à colisão com árvores, postes ou o asfalto; rampas tão íngremes que são impossíveis de se usar; portas estreitas demais para permitir a passagem de uma cadeira de rodas e muito mais.
          Na esfera do indivíduo que ao menos poderia andar, a dureza continua. É raro ver um amputado da perna usando prótese, a maioria se vira com muletas, que não conferem a mesma independência. Na Holanda, todo esse tipo de equipamento é gratuito, mas, no Brasil, aquilo é caro como um apartamento na praia ou extremamente difícil de se obter pelo SUS, que até entrega próteses, mas de baixa qualidade.”


“Era o massoterapeuta da delegação. que eu tinha cumprimentado no dia anterior, enquanto ele cuidava vigorosamente da perna lesionada de Collet e mostrava-se simpático. Agora, parecia querer intimidades demais comigo. Ele se enfiou no círculo fechado por Collet, Felipe e eu com sua mão na minha cintura. ‘E aí, morena, já paquerou muito?’ perguntou-me. Tirei sua mão de mim. (...) Aí, veio a punhalada: ‘Não tem muita opção de normais para você aqui’, disse ele, rindo. Aquilo fez eu murchar. Era dessa gente ‘anormal’ que ele tirava o seu sustento e, assim mesmo, pastava no charco do preconceito.”


          “Encontrei Felipe e fomos procurar o coffee-shop. Na primeira esquina, topamos com um. Estranho ver uma vitrine vendendo o que no meu país dá cadeia. ‘Que mundo mais louco, até mais que eu’, cantou Marina Lima na minha memória. Pedimos alguns gramas de uma espécie roxa cultivada nos fundos da loja e que era altamente recomendada pelo vendedor e fomos ao caixa.
          ‘Não vão levar o bolo?’, quis saber o cara sobre o chamado space cake, iguaria parecida com um brownie que tem maconha dentro. Felipe e eu nos olhamos e o nosso ‘não!’ saiu em uníssono. Não fumávamos maconha. ‘Mas é minha avó que faz’, revelou o moço. Olhei de novo para Chuchu. Era fofo demais aquilo da avó, o negócio não podia fazer mal. Assim, dividimos o bolinho ao sair da loja e fomos passear.
          Achamos que não teve efeito até horas depois, quando digerimos o quitute e uma das minhas piadas mais idiotas fez Felipe rir tanto que teve que correr para fazer xixi. Eu perguntei: o que uma impressora disse para a outra? ‘Esta folha é sua ou é impressão minha?’.”


          “Aproveitei a folga para treinar fotografia: clicava todo mundo que passava pelo pódio. Foram mais de 500 sorrisos desconhecidos no meu cartão de memória. Muitos brasileiros ganharam medalha e isso foi bonito. Lucy, a voluntária que me hospedava, ficou com um nadador brasileiro que ganhou uma medalha de ouro e deu-a de presente a ela.
          Um dia depois, para a câmera da reportagem do Brasil que foi até lá fazer a cobertura, eu pude ver que ele se debulhou em lágrimas ao dizer que a medalha — que ele já havia dado para a voluntária — iria para a filhinha dele. Nem imagino que desculpa o safadinho deu ao chegar em casa de mãos vazias.”


          “Paramos no posto Namorado, no coração da Pituba, o destino de beberrões enjeitados pelos bares que fechavam cedo as portas. Felipe desapareceu através da porta da loja de conveniências e voltou com duas long-necks marrons abertas.
          Eu não senti aquela estranheza que faz mulheres pensarem: ‘O que eu estou fazendo aqui?’ quando tomam uma com algum desconhecido ou permitem que ele pague por algo, o que dá brecha para que ele ‘cobre’ o investimento depois. Para mim, ele nunca foi um estranho.
          Meu agradecimento foi sorrir meus avantajados caninos e fazer tim-tim tocando a minha cerveja na dele. Ele sentou-se no banco do motorista, deu um enorme gole na cerveja, ligou o carro, depois o ar condicionado e apertou um botão do rádio.
          A faixa estava no ponto, como se tivesse acabado de ser tocada. ‘Tu, du, du, tu, duru, tu, tu, tu...’. Era a música ‘Take a Walk on The Wild Side’, de Lou Reed. Fechei os olhos para ouvir a canção em todo o seu esplendor.”


          “Anos depois, na seletiva para trabalhar no jornal Correio, Oscar Valporto, então chefe de redação, perguntou, com seu carioquês da zona sul, o que eu estava lendo naquele momento. ‘Paulo Coelho’, menti. Segundos de silêncio depois, ele caiu na gargalhada, como eu previ, e mostrou que compartilhava comigo da sabedoria de que o antigo parceiro de Raul Seixas tem tinta fraca na pena, apesar do sucesso mundial que faz — coisa que, aliás, nunca foi sinônimo de qualidade.
          Ainda tive presença de espírito para arrematar. ‘Mas que pergunta boba. Qualquer um pode dizer que está lendo Machado de Assis e você não vai saber. Passe um teste de escrita e descubra se eu leio ou não’, desafiei, com a ousadia típica da pouca idade. Aplicaram o teste: cobrir uma palestra da assessora de imprensa da Souza Cruz, a maioral da indústria de tabaco. ‘Defender cigarros deve ser o trabalho mais desgraçado do mundo’, começava o texto que me valeu a vaga.”


Presentes no livro de memórias “O diabo também manda flores” (Noir, 2024), de Joana Rizério, páginas 78, 78-79, 67 a 69, 73, 85-86, 72, 76-77, 116, 21, 46-47, 42, 45-46, 47-48, 16 e 05-06, respectivamente.


Aforismos de Joana Rizério em “O diabo também manda flores”

“Tudo o que é difícil sempre pode piorar”

“Dinheiro sempre se esconde de todos”

“Drink caubói, o remédio para a vida que dói”

“Os pobres escritores como eu, craques no desperdício do tempo”

“As águas de março transformam Salvador numa cidade fantasma”

Aforismos presentes no livro de memórias “O diabo também manda flores” (Noir, 2024), de Joana Rizério, páginas 20, 62, 13, 23 e 11, respectivamente.

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