“(...) começaram os beijos. Não satisfeita, ela pedia: ‘Morde!’ Uma hora e quarenta minutos depois, estava ela diante do espelho, refazendo a pintura dos lábios. Então, Serafim, que a contemplava numa espécie de febre, aproximou-se: ‘Diz o seguinte: se gostas do teu marido, por que fizeste isso? Por quê?’ Acabara a maquilagem; levantou-se. Face a face com Serafim, respondeu, fixando nele os olhos verdes e frios: ‘O único homem que tinha me beijado, o único homem que eu, enfim, conhecia, era meu marido.’ Pausa e continuou: ‘Eu quis fazer uma experiência...’ Concluiu dizendo a palavra justa: ‘Questão de curiosidade...’ Serafim recuou lívido, esbravejou: ‘Quer dizer que eu sou a experiência? Eu sou a cobaia?’ Em desespero, pôs-se a vociferar contra o marido: ‘Aquela besta! Aquele cretino!’ Rápida, ela cortou: ‘Não fale assim do meu marido! Eu não admito!’ E ele:
— Falo, sim! Idiota, palhaço!
Na sua fúria terrível, segurou-a pelos dois braços:
— Agora vais me dizer, ouviste, qual foi o resultado da experiência. Diz!
Respondeu, tranquila, sem medo: ‘O pior possível! Você não chega aos pés do meu marido. Foi a primeira e última vez. Daqui em diante, nem você, nem nenhum outro idiota põe a mão em cima de mim... Só meu marido...’”
“O marido partiu. (...) Então, deslizou, como uma criminosa, com o coração aos pinotes e uma sensação de crime. Parecia-lhe, então, que jamais tivera qualquer amor, qualquer carinho, qualquer afinidade com o marido. Pensava nele como o último dos estranhos. Ficou no jardim com Gustavo uma meia hora. Desde o primeiro instante, sentiu-se frágil, indefesa, derrotada. Lembrava-se de que o marido voltaria no dia seguinte e que só lhe restava uma noite livre. Esta urgência do pecado era fascinadora. Por outro lado, Gustavo foi ativo, ousado, quase brutal. E a deslumbrou com um argumento de cinismo absoluto: ‘Uma vez só. Uma vez não são todas.’ Ela hesitava, embora sabendo que se abandonaria. Na verdade, resistia à ideia de capitular sem luta, sem conquista, sem namoro. Imóvel, ia escutando:
— Deixa a porta encostada, apenas encostada... À meia-noite, eu vou lá e... Sim?”
“Uma semana depois, Antunes telefona para Chagas: ‘Olha, eu soube, pela tal pessoa, que tua mulher, hoje, às quatro da tarde, vai ao Leblon.’ Às três horas, os dois partiam, de táxi, para o local. Durante a viagem, Chagas ia dizendo, numa obsessão: ‘Por que não me deixaste iludido? Ela me enganaria sempre e eu não saberia nunca!’ Ria, entre lágrimas: ‘Nenhum marido precisa saber! Saber pra quê?’ E confessava: ‘Eu nunca farei nada contra minha mulher, nunca! É absolutamente sagrada para mim. Por que não me deixaste ser traído, em paz?’ O outro respondeu, lacônico:
— Sou teu amigo. — E repetia: — Ponho o amigo acima de tudo.”
“Passa-se o tempo. E a vida mesma, os fatos, as pessoas e as situações faziam de Sandoval um cidadão cada vez mais cínico. Dizia-se dele que era um canalha. Um dos seus prazeres mais agudos era se fazer amigo, e íntimo, dos maridos enganados, de conviver com eles. Era uma maldade, que dissipava alegremente, uma maldade aliás desnecessária, quase esportiva. Até que, um dia, uma voz, feminina telefona para ele. E, logo, faz a seguinte pergunta:
— Lembra-se de mim?
De momento, não se lembrava (...) Ela deu maiores detalhes: ‘Sou aquele brotinho, assim, assim.’ Acabou exclamando:
— Já sei. Agora me lembro! Como vai você?
E ela:
— Segui seu conselho. Casei-me.
(...)
Dois dias depois, tiveram o primeiro encontro, num bar de praia. Ele pediu um aperitivo qualquer e ela um refresco, de canudinho. E, Sandoval, sôfrego, como se aquele fosse um primeiro amor, gostou de tudo, inclusive da feliz irresponsabilidade com que ela interrompia a lua de mel e vinha ao encontro do pecado. Sandoval quis saber quem era o marido e como era. Riu, esfregando as mãos:
— Você me apresenta a ele, o.k.?
— O.k.
Ela ainda explicou que o conhecia há muito tempo, de vista, desde garotinha; que ficava, da janela, maravilhada, vendo-o passar; que fora e continuava sendo o seu amor, primeiro e único. Casara-se por quê? Para ficar livre e, então, poder abandonar-se. Não pensava no marido, não admitia que o marido pudesse converter-se numa ameaça, num perigo ou, simplesmente, num obstáculo. Tanto que, na sua perversidade, escolhera, a dedo, entre muitos, o rapaz que lhe parecera mais cômodo e inofensivo. Então, envaidecida da própria malícia, soprou:
— Sabe? Ele é aleijado!”
“(...) O fato é que, depois de 14 anos de felicidade matrimonial, ela experimentara um primeiro flerte, olhara para um homem que não era o seu marido. Uma amiga desquitada, que estava no mesmo hotel, ponderava: ‘Isso não é nada do outro mundo. Aproveita.’ Esta palavra clara ou mesmo cínica foi de uma grande e pungente doçura para Marina. Ainda assim, perguntou, com uma expressão de tormento nos olhos e na boca:
— E minha filha?”
“Deixou a pequena e encontra mais adiante, seu amigo Queiroz. Arrastou-o para uma mesa de bar. Conversa vai, conversa vem, e resume para o amigo o novo romance. Termina num desabafo:
— Não gosto de mulher casada, percebeste? Acho meio chato!
— Por quê?
— Pelo seguinte: ela trai o marido comigo; e me trai com o marido. Tipo da mágica besta!
O amigo foi cínico, foi brutal:
— Ora, não amola! E te digo mais: nada como mulher dos outros, a mulher alheia! Deixa de ser burro e mergulha de cara!
Restava o problema do medo:
— E se o marido for violento? Se me der um tiro?
O outro achou graça:
— Ninguém dá mais tiro em ninguém! Hoje, o sujeito sabe e finge que não sabe! Vai ver que o marido da tua pequena quer sombra e água fresca!
(...)
Continuavam com os encontros, com os passeios. Mas Sérgio era uma vítima dos próprios escrúpulos. A princípio, fez, de si para si, os seguintes cálculos: ‘Vai ver que o marido a trata mal, não a compreende!’ Sondou a pequena. Angelita, porém, o desiludiu: ‘Ele até que me trata muito bem e me dá tudo.’ No seu espanto, Sérgio pergunta: “Mas vem cá. Explica uma coisa.’ Pausa e prossegue:
— Não te dói, não te dá remorso fazer isso?
Protesta, aborrecida:
— Mas isso não é nenhum bicho de sete cabeças, carambolas! Francamente, não sei por que você está fazendo esse cavalo de batalha!
E ele:
— Não é cavalo de batalha. Afinal de contas, é seu marido, você se casou com ele!
Angelita perdeu a paciência:
— Quer saber uma coisa? Você já está enchendo com esse negócio! Ele não é o primeiro marido enganado, nem o último! Responde apenas uma coisa: você me quer ou não me quer?”
“Moço, forte, bem-apanhado, Sandoval continuou sua vida sentimental. Mas ninguém lhe conhecia uma aventura com pequena solteira. Dir-se-ia que a mulher casada era sua fatalidade. Explicava, a sério, as vantagens ilimitadas da esposa alheia, sendo que a primeira e maior é a de já estar casada. Concluía, convicto:
— Alto negócio! E, além disso, baratíssima. Quem subvenciona, quem corre com as despesas, é o marido!
Pouco a pouco, sem que ele mesmo o notasse, foi se esquecendo de umas tantas providências elementares, de sigilo, de recato. Fazia quase ostentação. E já o dominava a vaidade de ser visto, aprontado e, até, execrado. Houve dois ou três escândalos. E a coisa se tornava tão notória e imprudente que, afinal, um amigo o procurou. Fez-lhe advertências graves, sugeriu mesmo uma hipótese:
— Podes levar um tiro!
Acontece que a mulher deste amigo era um dos casos de Sandoval. E ele, muito sério e compenetrado, sem desfitar o outro, bateu-lhe nas costas:
— Obrigado, Fulano. Mas não há perigo. Eu não me caso, por quê? Porque o marido, em geral, é um idiota chapado.
O outro insistia:
— Mas você precisa fazer o negócio com mais discrição, que diabo!
Na saída, o amigo ainda o convidou:
— Queres jantar amanhã com a gente? Minha mulher reclama que você quase não aparece.”
“Sonhara, sim, com o Chaves. Não uma vez ou duas, mas umas dez, no mínimo. E o pior é que, ao sonhar pela quarta vez, resolvera ligar para o patife. Conversaram, no primeiro telefonema, uns quarenta minutos. A princípio, pôde esconder a identidade. Súbito, o Chaves exclama: ‘Já sei! Você é a Luzia!’ Ainda quis negar, mas teve que admitir: ‘Sou a Luzia, sim.’ Vacila, porém acaba confessando:
— Meu noivo fala tão mal de ti que resolvi te telefonar.
Então, começou um romance telefônico que era, a um só tempo, uma delícia e um martírio. Luzia deixava o telefone sentindo-se a última das mulheres. Mas o diabo é que o remorso valorizava o prazer. Adorava a voz do Chaves, o riso, a gíria especialíssima, a ternura persuasiva e viril. Ele perguntava, com bom humor: ‘Tu me achas um tarado?’ Suspirava:
— Pelo contrário, te acho normalíssimo.
O fato é que o Chaves se converteu no grande e, talvez, único problema de sua vida. Queria fugir, mas faltavam-lhes forças. Até que chegou o momento em que ele começou a desejar os encontros pessoais. Luzia caiu das nuvens: ‘Você se esquece da minha situação? Que eu sou noiva e meu noivo tem horror de ti? Deus me livre!’ Chaves deixou passar o pânico. No dia seguinte argumenta:
— Você não pode ser vista comigo, claro. Mas há um remédio, uma solução, meu anjo. É a seguinte, eu arranjo um lugar discretíssimo, onde possamos conversar, calma e docemente.”
“— Agora eu compreendo por que um asmático não pode ter amantes!
Ficaram noivos e marcaram o casamento para daí a seis meses. Malvina adquirira ideias próprias sobre a felicidade matrimonial. Doutrinava as amigas:
— Descobri que o marido doente é uma grande solução. Pelo menos, não anda em farras!
Protestaram: ‘Nem oito, nem oitenta!’ Então, na sua veemência polêmica, ela argumentou com o próprio caso pessoal:
— Por que é que eu briguei com o Quincas? Ele tinha uma saúde formidável e que me adiantou? Me traía com todo o mundo e não respeitava nem minhas irmãs!
Era verdade. O antecessor de Simão era um rapaz atlético, de impressionante perfil, moreno como um havaiano de Hollywood. Mas Malvina, que o amava com loucura e, além disso, tinha vaidade do seu físico, rompera por causa de suas infidelidades constantes e deslavadas. (...)
(...) ele a destratou: ‘Vocês só pensam em sexo!’ Era demais — sem uma palavra, ela foi para o quarto, ao passo que o marido, na sala, desmoronado, arquejava como um agonizante. Assim passaram a primeira noite e mais: as 15 noites subsequentes. Só na 16ª é que Simão começou a melhorar. Então, Malvina foi visitar a mãe. E, lá, diante da velha, explodiu em soluços:
— Eu sou a esposa que não foi beijada, mamãe.
A velha quis, em vão, consolá-la. Saiu, de lá, mais desesperada do que antes. O marido a recebe com a seguinte ideia: ‘Descobri, minha filha, que o beijo provoca asma. Vamos rifar o beijo.’ Resposta: ‘Você é quem sabe.’ Mas três dias depois, Malvina liga para o Quincas:
— Você pode ser cínico, sujo, canalha, mas sabe amar.
Conversaram uma meia hora. No fim, Quincas passou-lhe a rua e o número de um apartamento em Copacabana. No dia seguinte, Malvina foi lá.”
“(...) a única restrição que ele fazia à pequena era a sua absoluta naturalidade no pecado. E, com efeito, nada turvava a sua felicidade. Ele não compreendia que uma esposa pudesse trair, assim, sem pena, sem dor, sem remorso. Uma tarde, porém, os dois pareciam mais enamorados do que nunca. Foi como se, de repente, tudo tivesse cessado de existir. Perderam noção de tempo, de espaço (...) súbito, ela apanha o relógio de pulso, na mesa de cabeceira. Toma um susto: ‘Já?’ (...) Levanta-se e faz seus cálculos: àquela hora o marido estaria chegando em casa. Pergunta: ‘E agora?’ Ainda imerso no sonho, ele balbucia: ‘Inventa uma desculpa!’ Ao lado da cama, estava o telefone. Nervosíssima, Angelita disca. Do outro lado, atende uma voz masculina. Era ele, marido. Com uma das mãos, Angelita segura o fone; com a outra, puxa a cabeça de Sérgio. Seus rostos estão unidos. E ela fala com o marido:
— Meu bem, eu estou aqui, na casa de fulana, ouviu? E vou chegar um pouquinho mais tarde.
O esposo faz um comentário qualquer, Angelita ri e continua:
— Não desliga, já, não, que eu quero te dar um beijo bem gostoso, daqueles. Está ouvindo?
A boca de Sérgio está bem perto. Ela aproxima, mais e mais, o telefone. Une os seus lábios aos do amante, num beijo estaladíssimo. Fala de novo:
— Você ouviu? Gostou? E olha: vou já, chispada!”
“Mal sabia assinar o nome e o máximo que lia, no jornal, era a seção de turfe, para as acumuladas. E só tinha, de si, a estampa cinematográfica. No mais era de uma ignorância de ‘dar nojo?’, conforme a opinião textual de vários pais de família. Só falava em gíria, e ninguém mais inconveniente e desbocado neste mundo. Dir-se-ia, porém, que defeitos de educação, de caráter, eram outros tantos atrativos. Sabia-se que vivia nos piores meios, que tinha os piores vícios e, ainda, que ‘tomava dinheiro em bruto’ de uma meia dúzia de infelizes. Apesar disso, meninas de família, direitíssimas, telefonavam para ele, numa verdadeira fascinação. Todo mundo fazia espanto:
— Como pode? Como pode?”
“Lá passariam a lua de mel. Pela manhã, a família fora fazer uma revisão na casa, colocando lacinhos de fita nas chaves, nos trincos, flores nos jarros. Segundo d. Rosinha, tudo estava um ‘brinco’, uma ‘teteia’, etc., etc. A caminho da nova residência, Elena tinha saudades do fabuloso vestido de noiva que não usaria nunca mais. No fundo, gostaria de ser uma noiva mais ou menos eterna. Finalmente, chegam. Descem. De braço, entram. No meio do jardim, ele a carrega no colo. Há um beijo selvagem. Estão na varanda e Maurício abre a porta. Novo e mais desesperado beijo, Ele a carrega, outra vez. E, assim, entra no quarto, ainda escuro. Aninhada nos braços do ser amado, Elena acende a luz e... O primeiro grito partiu da noiva. Havia alguém no leito nupcial. Uma mulher, vestida de noiva, antecipara-se. Estava deitada, ali. Cortara os pulsos, morrera docemente, com os braços em cruz. Era Dorinha. E na parede estava escrito a lápis, com a letra da que morrera, aquela maldição: “Nem meu, nem teu.” Elena gritava, enlouquecida. Vizinhos e transeuntes invadiram a casa. (...) Horas depois houve autópsia. Depois, por vontade da família, Dorinha foi vestida como para um fantástico casamento. Enterrada de branco. Noiva para sempre.”
“Aparício não levava em conta as atitudes e palavras da esposa nesse período. Sabia que, posteriormente, Emengarda voltaria a ser boa, amiga, solidária. Desta vez, porém, a conduta da mulher foi mais extravagante do que nunca. Implicava com ele, em tudo por tudo. Começou da seguinte maneira:
— Não janto, nem almoço mais contigo.
— Por quê?
E ela:
— Você faz muito barulho quando come.
Mas isso não foi nada. Dois dias depois, surgia a novidade: ‘Já descobri por que você me empurra um filho por ano.’ Fez uma pausa e concluiu: ‘Pra me arrebentar.’ Ela mesma desenvolvia o próprio raciocínio até as últimas consequências: ‘Claro como água. A mulher que tem tantos filhos não interessa a ninguém! E o homem, então, fica por cima da carne-seca, seguro, garantido. Agora confesse: não é isso?’ Atônito com essa argumentação, Aparício limitou-se ao comentário jocoso:
— Sossega, leoa!
Ela, porém, exaltada, deixava-se dominar pela própria ideia: ‘Mas olha! Tu acabas dando com os burros n’água! Eu posso não ser nenhuma beldade, mas sou melhor do que muitas.’ Encarou o marido e teve a explosão:
— Além disso, há sempre um chinelo velho pro pé doente calçar!”
“Zizi saiu quase com a roupa do corpo. D. Zenaide, que a levou até a porta, trincou a palavra nos dentes: ‘Sua isso!’ Quando, porém, o filho chegou e não encontrou a mulher, quase pôs a casa abaixo. A mãe tentou ser enérgica. Arrastou-o para o gabinete; baixou a voz: ‘Tem um amante!’ Desprendeu-se nos braços maternos, num repelão feroz: ‘Ou a senhora pensa que eu não sabia?’ Caiu de joelhos, mergulhou o rosto nas duas mãos e soluçou como um menino. Atônita, ela dizia: ‘Sabia? Você sabia?’ Teve uma contração no estômago: ‘Sabia e deixava? Então você não é homem, não é nada!’ O rapaz, desvairado, levantou-se:
— Vou buscar minha mulher!
D. Zenaide levantou-se:
— Escolha, meu filho: ou eu ou tua mulher, escolhe!
Encarou-a:
— Ela.”
“(...) ‘Nós passamos aqui quatro horas?’ E, de fato, nem um, nem outro, fechados no seu deslumbramento, haviam sentido o tempo, que fruíra doce, imperceptível. Fez ela virar-se, para vestir a calcinha. Ainda por cima, o vestido estava todo amarrotado. Fora de si, refaz, chorando, a pintura dos lábios; exclama:
— Meu filho, meu filho!...
Tavares, já realizado e, até, com uma sensação de tédio, pondera: ‘Calma, calma!’ E ela, desesperada: ‘Calma, uma ova!’ Pronta enfim, vai saindo, sem se despedir. De repente estaca. Vira-se para ele; pergunta, dilacerada:
— Agora? Com que cara vou olhar meu marido? Você acha que eu posso olhar meu marido?
Ele foi positivo:
— Por que não, ora, bolas? Questão de hábito, minha filha! Pura questão de hábito!
Eliete, porém, deixara para o fim o lamento maior:
— E meu filho? Você acha que, agora, eu posso dar o seio ao filho? Posso...”
Presentes no livro de contos “A vida como ela é...” (Nova Fronteira, 2022), de Nelson Rodrigues, páginas 227, 106, 179, 70-71, 103, 203-204, 69-70, 421-422, 295+297, 205, 98, 124, 171-172, 281 e 338-339, respectivamente.
Aforismos de Nelson Rodrigues em “A vida como ela é...”
“A mulher é séria até o momento em que deixa de ser”
“Amizade vale mais do que sexo”
“O pobre-diabo não tinha a base física da coragem”
“Pior do que o ódio é a falta de amor”
“Por que que uma grande dor é sempre ridícula?”
“O homem fiel nasceu morto”
“O velho que se casa com mocinha está arranjando mulher para os outros”
“Nenhuma mulher pode gostar do mesmo homem por mais de dois anos”
“Não ganho nem para morrer de fome”
“Nada é tão imoral no homem quanto o olhar”
“Todo homem nasce condenado a uma mulher, única e insubstituível”
“Não há mulher mais bonita que uma cunhada bonita”
“A mulher infiel não tem ciúmes”
“Há no ódio mais obstinação, mais exclusividade, mais fidelidade do que no amor”
Aforismos presentes no livro de contos “A vida como ela é...” (Nova Fronteira, 2022), de Nelson Rodrigues, páginas 312, 449, 125, 477, 504, 110, 267, 300, 383, 128, 536, 392, 161 e 177, respectivamente.
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