Pular para o conteúdo principal

Um trecho sobre o chefe osage Wah-Ti-An-Kah

Wah-Ti-An-Kah
(cortesia do Museu da Nação Osage)

“Ignorando as técnicas agrícolas do homem branco e privados dos bisões, os osages passaram fome. Em pouco tempo estavam pele e osso. Muitos morreram. Uma delegação de osages, inclusive o chefe Wah-Ti-An-Kah, partiu com urgência para Washington, DC, a fim de pedir ao comissário de Assuntos Indígenas o fim do sistema de rações. Segundo o relato de John Joseph Mathews, os membros da delegação usaram suas melhores mantas e perneiras, enquanto Wah-Ti-An-Kah se envolveu completamente numa manta vermelha, deixando à mostra pouco além dos olhos, poços escuros que se incendiavam com toda uma história.

A delegação foi à sala do comissário e esperou por ele, que, ao chegar, disse a um intérprete: ‘Diga a esses cavalheiros que, lamento, mas tenho outro compromisso... Lamento só ter lembrado disso agora’.

O comissário fez menção de sair, mas Wah-Ti-An-Kah lhe bloqueou o caminho e deixou cair a manta. Para espanto até mesmo de seus companheiros, ele estava quase nu — só usava uma tanga e mocassins — e tinha o rosto pintado como se estivesse comandando um grupo de guerra. ‘Ele ficou ali, imponente, como um deus primitivo das florestas escuras’, diz Mathews. Wah-Ti-An-Kah pediu ao intérprete: ‘Diga a esse homem que se sente’. O comissário atendeu, e Wah-Ti-An-Kah continuou: ‘Viemos de muito longe para falar sobre isso’.

O comissário disse: ‘Com certeza este homem não sabe o que faz... Pois se vem ao meu escritório quase nu, com o rosto pintado para guerra, não é bastante civilizado para saber usar dinheiro’. Wah-Ti-An-Kah afirmou não ter vergonha de seu corpo, e depois que ele e a delegação apresentaram seus motivos, o comissário concordou em encerrar a política de rações. Wah-Ti-An-Kah pegou sua manta e acrescentou: ‘Diga a esse homem que está tudo bem... Ele pode ir’.”

Trecho presente no livro “Assassinos da Lua das Flores — Petróleo, morte e a criação do FBI” (Companhia das Letras, 2018), de David Grann, traduzido por Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra, páginas 57 e 58.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: Gipsy Kings

A “ Seleta: Gipsy Kings ” destaca as 90 músicas que mais gosto do grupo cigano, presentes em 14 álbuns (os prediletos são “ Gipsy Kings ”, “ Este Mundo ”, “ Somos Gitanos ” e “ Love & Liberté ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 14 álbuns participantes desta Seleta 01) Un Amor [Gipsy Kings, 1987] 02) Tu Quieres Volver [Gipsy Kings, 1987] 03) Habla Me [Este Mundo, 1991] 04) Como un Silencio [Somos Gitanos, 2001] 05) A Mi Manera (Comme D'Habitude) [Gipsy Kings, 1987] 06) Amor d'Un Dia [Luna de Fuego, 1983] 07) Bem, Bem, Maria [Gipsy Kings, 1987] 08) Baila Me [Este Mundo, 1991] 09) La Dona [Live, 1992] 10) La Quiero [Love & Liberté, 1993] 11) Sin Ella [Este Mundo, 1991] 12) Ciento [Luna de Fuego, 1983] 13) Faena [Gipsy Kings, 1987] 14) Soledad [Roots, 2004] 15) Mi Corazon [Estrellas, 1995] 16) Inspiration [Gipsy Kings, 1987] 17) A Tu Vera [Estrellas, 1995] 18) Djobi Djoba [Gipsy Kings, 1987] 19) Bamboleo [Gipsy Kings, 1987] 20) Volare (Nel

Seleta: Ramones

A “ Seleta: Ramones ” destaca as 154 músicas (algumas dobradas em versões ao vivo) que mais gosto da banda nova-iorquina, presentes em 19 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Ramones ”, “ Loco Live ”, “ Mondo Bizarro ”, “ Road to Ruin ” e “ Rocket to Russia ”). Ouça no Spotify aqui [não tem todas as músicas] Ouça no YouTube aqui Os 19 álbuns participantes desta Seleta 01) The KKK Took My Baby Away [Pleasant Dreams, 1981] 02) Needles and Pins [Road to Ruin, 1978] 03) Poison Heart [Mondo Bizarro, 1992] 04) Pet Sematary [Brain Drain, 1989] 05) Strength to Endure [Mondo Bizarro, 1992] 06) I Wanna be Sedated [Road to Ruin, 1978] 07) It's Gonna Be Alright [Mondo Bizarro, 1992] 08) I Believe in Miracles [Brain Drain, 1989] 09) Out of Time [Acid Eaters, 1993] 10) Questioningly [Road to Ruin, 1978] 11) Blitzkrieg Bop [Ramones, 1976] 12) Rockaway Beach [Rocket to Russia, 1977] 13) Judy is a Punk [Ramones, 1976] 14) Let's Dance [Ramones, 1976] 15) Surfin' Bi

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão