Mônica Menezes – Foto: Sarah Fernandes
Do tempo
Mônica Menezes
Para Íris Hoisel e seu pai
meu avô
é uma cadeira de balanço
vazia
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Dos triunfos
Mônica Menezes
sou um fracasso para o sucesso
sou um sucesso para o fracasso
mas, quando eu nasci, o médico disse:
– por pouco.
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Poema de areia
Mônica Menezes
escrevi meu destino
na areia da praia
o mar apagou
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Relíquia
Mônica Menezes
levarei comigo
o retrato de nós dois
que não tiramos
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Semente
Mônica Menezes
quando eu nasci
enterraram meu umbigo
na fazenda do meu avô
os anos passaram
meu avô morreu
retalharam a terra
e eu parti para a cidade
mas até hoje
estou plantada lá
naquele chão vermelho
que nem existe mais
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"se eu pudesse
desceria ao seu abismo
para vivermos juntos
a escuridão"
"os pés, as mãos, os joelhos, o nariz
tudo é tão esquisito nela
os polegares pequenos
dificultam o entremear dos fios
o corpo verga-se facilmente
embora os ossos não suportem
que carregue a mala
infantil e invertido
o útero jamais se contrai
mas a criança nasceu
desfazendo a profecia
foi cega, louca, vidente
suicida
um dia, decidiu escrever outras histórias
mais estranhas ainda"
"há uma rosa escarlate
sob meu vestido
e dentro do meu silêncio
mora um grito"
Presentes no livro de poemas "Estranhamentos" (P55, 2010), de Mônica Menezes, páginas 44, 13, 28, 22 e 11, respectivamente, além dos trechos dos poemas "De uma carta de amor" (p. 34), "Esquisita" (p. 9) e "Artifício" (p. 33), presentes na mesma obra.
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