"(...) Louis dobra aquele instrumento militar num feixe luminoso de lirismo sonoro. Talvez eu goste de Louis Armstrong porque ele fez poesia a partir da sua invisibilidade. Acho que deve ser porque ele não tem consciência de que é invisível. E minha própria compreensão da invisibilidade me ajuda a entender sua música. (...) A invisibilidade, deixe-me explicar, dá à pessoa uma noção ligeiramente diferente do tempo. Você nunca está sincronizado. Às vezes está à frente, outras, atrás. Em vez do fluxo rápido e imperceptível do tempo, você tem consciência de seus nodos, aqueles pontos em que o tempo fica parado ou a partir dos quais dá um salto. Você escorrega nas pausas e olha à sua volta. É isso que você vagamente escuta na música de Louis."
"What did I do/ To be so black/ And blue? Inicialmente, senti medo. Essa música familiar exigia ação, do tipo que eu era incapaz de ter, e, ainda assim, apesar de arrastar a minha vida com dificuldade abaixo da superfície, deveria ter tentado agir. Não obstante, agora sei que poucos realmente escutam esta música."
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(What Did I Do to Be So) Black and Blue, música de Fats Waller e letra de Harry Brooks e Andy Razaf, interpretada por Louis Armstrong.
Trechos presentes no romance Homem invisível (José Olympio, 2013), de Ralph Ellison, tradução de Mauro Gama, páginas 29, 30 e 34, respectivamente.
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