Pular para o conteúdo principal

Música para Escrever 2019

130 bandas/artistas selecionados em 2019. Descritivo no final do post

Em 2019, de fevereiro a julho, publiquei 13 posts da série Música para Escrever, divulgando o trabalho de 130 bandas e 256 discos (entre álbuns, EPs e singles). Compilei o melhor do post-rock para escrever que peneirei na internet, via os canais no YouTube Wherepostrockdwells, Worldhaspostrock e In The Woods, além das páginas das bandas no Bandcamp.

Peneirei atrações de 32 países: Estados Unidos (35 atrações), Alemanha (10), França (09), Rússia (07), Itália (07), Inglaterra (06), Suécia (05), China (04), Espanha (04), Romênia (04), Suíça (03), Grécia (03), Argentina (03), Israel (02), Canadá (02), Bélgica (02), Taiwan (02), Noruega (02), Austrália (02), Polônia (02), Finlândia (02), Nova Zelândia (02), México (02), Japão (01), Dinamarca (01), Coreia do Sul (01), República Tcheca (01), Indonésia (01), Colômbia (01), Turquia (01), Escócia (01) e Islândia (01). PS: Teve uma atração que se considerava Estados Unidos & China.

Considero o gênero post-rock (e o ambient) a melhor trilha sonora para escrever, que me faz ir além, mergulhado no universo de dentro e ao redor. Confira abaixo o Música para Escrever 2019, com os melhores sons de post-rock, a alumiar a mente e transcender em palavras.


#23 — Ouça aqui
Zhaoze | seahorses | Bear the Mammoth
BRUIT ≤ | Meuban | Have The Moskovik
Efrim Manuel Menuck | Elhombreanormal
Prynum | Triste polizonte


#24 — Ouça aqui
Shipwreck Karpathos | Rachel's
All The Bright Lights | Rosetta
Last Builders of Empire | Long Hallways
Startle the Heavens | Aukai
Balmorhea | The Further I Go


#25 — Ouça aqui
Milhaven | Aurora Borealis | Jet Plane
KOVLO | Fjord | Sejd
First Came The Shadow
Glittering Blackness, Fall
Triple Deer | one hour before the trip


#26 — Ouça aqui
Tunica Dartos | Ruin!Ruins! | Fürio | darius
Montaña | Spurv | Around The World in 80 Days
NYOS | Planisphere | Bugs of Phonon


#27 — Ouça aqui
Avalon | December | Aesthesys | MoYaN
Stubborn Tiny Lights VS Clustering Darkness Forever OK
Loud Exit | Sairen | A Swarm of the Sun
Often the Thinker | Hope and Black Cloud


#28 — Ouça aqui
Falcon Arrow | Minor Movements
MotherFather | Paleons | Gullwing
Ranges | Seeress | Pillars
A.M. feelgood | Wess Meets West


#29 — Ouça aqui
Charun | Valerinne | Night Verses
Black Narcissus | Sagor Som Leder Mot Slutet
Colaris | Their Methlab | HIЯRMA
Paraphon Tree | The Clouds Will Clear


#30 — Ouça aqui
Fading Tapes | Biosphere | tezce | Himmelsrandt
Lief Sjostrom | VLMV | heklAa | Sleep Dealer
Kurkijávri | Levi Patel


#31 — Ouça aqui
i am no hero | Rhone
Am Fost La Munte Și Mi-a Plăcut
Herskin | Change of Plans | The Dry Mouths
James Anthony | We Shine Every Night
TIDINGS | Only Echoes Remain


#32 — Ouça aqui
Wang Wen | ISON | Whale Fall
Lazybones Flame Kids | Maven
Fat Old Donald | El lenguaje como obstáculo
SOLS | Zammorian | Beware the blue sky


#33 — Ouça aqui
kokomo | Town Portal | Jardín de la Croix
codeia | Into Orbit | Pelican
///snippet.upper.laser | Runa Gaman
Cracked Machine | CAVALLO


#34 — Ouça aqui
Weirdo Room | Outlander | Hualun
Driving Slow Motion | AUGURE
Unwed Sailor | Hymns for the Angels
Dawn Chorus Ignites | Sigma Ori | laedj.


#35 — Ouça aqui
Alnea | Transmission Zero | Glacier
Salome Lego Playset | Apeirophilia
Kota Kota | Minoria | Alone on the Moon
Another Neighbor Disappeared | Eileen Sol


Atrações peneiradas

Estados Unidos (35)
seahorses
Falcon Arrow
Shipwreck Karpathos
Stubborn Tiny Lights VS Clustering Darkness Forever OK
All The Bright Lights
Long Hallways
Whale Fall
Lief Sjostrom
Night Verses
Rachel's
Driving Slow Motion
Minor Movements
Rosetta
Rhone
Unwed Sailor
MotherFather
Last Builders of Empire
Often the Thinker
Another Neighbor Disappeared
Startle the Heavens
Aukai
Gullwing
Pelican
Paleons
Balmorhea
Glacier
The Further I Go
Hymns for the Angels
Ranges
Seeress
Pillars
Alone on the Moon
A.M. feelgood
Wess Meets West
CAVALLO

Alemanha (10)
Milhaven
kokomo
codeia
Colaris
Himmelsrandt
///snippet.upper.laser
Planisphere
Prynum
The Clouds Will Clear
Paraphon Tree

França (09)
BRUIT ≤
MoYaN
Have The Moskovik
First Came The Shadow
Maven
Hope and Black Cloud
HIЯRMA
heklAa
Sairen

Rússia (07)
Ruin!Ruins!
Aesthesys
tezce
Around The World in 80 Days
Jet Plane
Sleep Dealer
We Shine Every Night

Itália (07)
Charun
Alnea
Salome Lego Playset
Apeirophilia
AUGURE
Lazybones Flame Kids
Eileen Sol

Inglaterra (06)
Outlander
Dawn Chorus Ignites
Cracked Machine
VLMV
Kota Kota
Only Echoes Remain

Suécia (05)
ISON
Sejd
Sagor Som Leder Mot Slutet
Loud Exit
A Swarm of the Sun

China (04)
Wang Wen
Zhaoze
Weirdo Room
Hualun

Espanha (04)
Jardín de la Croix
Fürio
The Dry Mouths
Sigma Ori

Romênia (04)
Valerinne
Fjord
Am Fost La Munte Și Mi-a Plăcut
Zammorian

Suíça (03)
Tunica Dartos
KOVLO
darius

Argentina (03)
Elhombreanormal
Runa Gaman
El lenguaje como obstáculo

Grécia (03)
i am no hero
Their Methlab
one hour before the trip

Israel (02)
Avalon
Meuban

Austrália (02)
Bear the Mammoth
laedj.

Polônia (02)
Fading Tapes
Transmission Zero

Canadá (02)
Herskin
Efrim Manuel Menuck

Noruega (02)
Biosphere
Spurv

Bélgica (02)
Aurora Borealis
Black Narcissus

Taiwan (02)
Triple Deer
Bugs of Phonon

Nova Zelândia (02)
Into Orbit
Levi Patel

Finlândia (02)
NYOS
Kurkijávri

México (02)
Triste polizonte
SOLS

Dinamarca (01)
Town Portal

Japão (01)
December

República Tcheca (01)
Fat Old Donald

Coreia do Sul (01)
Glittering Blackness, Fall

Indonésia (01)
Minoria

Colômbia (01)
Montaña

Turquia (01)
Change of Plans

Escócia (01)
TIDINGS

Islândia (01)
Beware the blue sky

PS: Estados Unidos & China (01)
James Anthony


Música para Escrever 2018
Ouça aqui


Música para Escrever 2017
Ouça aqui



256 discos (entre álbuns, EPs e singles) selecionados em 2019

A cada postagem, uni os títulos dos discos num texto experimental. Segue abaixo, toda a produção baseada nas obras divulgadas:

Música para Escrever 2019
Emmanuel Mirdad

Mil novecentas e onze aves rivais ontem à noite, sim, hoje à noite, mantém-se longe a estrela azul insubstituível. O mundo não nos pertence — pertence a alguém que ainda está por vir. Quieta como um abeto, ausente como uma fábrica, no meridiano zero, a floresta de presas é colhida para ser transformada num bonsai. Os anos sob o vidro são monólitos para os habitantes do Chifre da África. Há muito papel de vinil a mijar estrelas, a união de ventos diferentes, esses obstáculos das histórias da meia-noite.

A transmissão do simulacro de selenografia é música para quem enxerga a expressão do austríaco Egon Schiele, mas a tecnologia está matando a música, a caligrafia, o vento e as ondas. E o semeador de vento do pós-guerra está no Hades, sem remorso. O caminho de casa: feche os seus olhos para viajar, perdido na câmara do mar, entre cânions, caindo do escuro acima na calmaria dos ramos de sol, marinheiro. É a reminiscência dos braços de rios, a linguagem clara das constelações. Toda manhã é uma vida após a morte. Este desafio dos três dias.

O autômato autointitulado observa os bares fechando. Diz: “I.M. Wagner, adeus às manhãs!” O caminho para o Atlas é alto para dormir — penas caem. Esse plano é impossível de acontecer. Ele está coberto de conchas, em timelapse. “Ei, mãe, onde é Timbuktu? Estou tão feliz neste barco!” Eis o retrato para uma reflexão: nas margens geladas, Ben & o coração. A premonição sem título, o pastor urbano, cartão de embarque.

No outono, serve-se um bufê de som, o pedaço disforme das medulas do tempo, e o grão, no encerramento. Às coordenadas de uma montanha de cicuta, as folhas que caem no chão e se transformam em novas árvores. A dissonância da euforia na natureza é agora; no conhecido, a nação que vimos.

Mas a história da letra Æ remete a mil camadas para o céu. O vento do outono produz montanhas na areia. Alfa e Ômega na pluma do credo, o torso do pequeno mar lunar na Terra Nivium da Lua. O escuro cruza a linha da costa, essa luz fria do céu que nunca existiu. Ouve-se a queda hipnótica num EP. Num outro EP, o segundo regresso infinito. Como uma saída barulhenta, a grandiosa cidade fuma. À porta da noite de neve, os bosques, essa melhor parte do vício da vida longa de lado: há esperança e a nuvem negra.

A torre correndo nas cidades de ouro é a flecha do falcão, a floração, o veloz passar dos dias. Aquele urso, mãe-pai de paleontólogos, hiperbórea asa de gaivota, é o sonho do ascensionista. Para os deuses dos títulos dos cadernos, o sonho passa, em muitos mundos de sal e mar, pela trilha de glicínias, uma luz dentro da fratura.

O rito purificador da abertura do sol nascente se eleva arborescente, monumentos do desejo a partir da galeria do sono, para além do sussurro de homens comuns. Capítulo II: contos de fadas que conduzem ao fim. A renovação do nexo no último segundo. Y é a impressão marcada da aura, a lembrança do que nunca foi.

A música do sótão vibra na constelação do norte em um campo de fractal. Os círculos de 1940 a 1960 são substratos das glórias passadas, as gravações em Hilvarenbeek, o grande navio mágico, esse “rejeito-ciclo” da existência casual. A sensação de uma profunda tristeza, comparável ao frio do inverno, é a improvisação de revelações da terra do gelo. Quatro momentos e a chuva (V.A.L.E.). A contar respirações, o impossível desfile e suas orações que soam como avisos: “encalhado, não perdido”. 1491. Esse inverno foi sombrio. As sete estrelas são formas da afinidade.

Nas cidades subaquáticas sem antenas, uma cyberpunk sai do estado autointitulado, entre as estrelas. No morro, foi resolvido: não pode. A pele dela, vigilante. Ninguém faz nada em lugar algum. A melhor montanha são as memórias da ponte Pines. O que encontramos? Abrigo. A morte deixa uma trilha brilhante à exigente.

Zero ponto sete. O seu doce lar... Vai! Oito cavalos, esquerda & direita, sete objetos, no outro espaço infinito. A linha do horizonte vai até a galáxia de Andrômeda, através de um drone cósmico, que parte dos bosques de pinheiros das ilhas celestes, encontradas em altitudes mais elevadas de um complexo de pequenas cadeias de montanhas. À queda da baleia, canções especiais para além dos vagabundos que chamuscam crianças. Sinestesia: olhando para as luzes orientais, melancolia e tristeza. O primeiro átomo dourado, a primeira parte da teoria da ausência, acima do Atlas.

O amor de ruído monocromático acontecerá, caso os lobos autointitulados de violência, o cronopólio de horror a vácuo do Ocidente, em ritmo circadiano, permitirem. A 187 passos para atravessar o universo, quando ele voltou para o olho da tempestade: “não tenha medo”, ela sussurrou e desapareceu. O movimento das cavernas desenterrando o que todos nós precisamos: serenidade/agitação. As histórias noturnas de obsessões patéticas sem tom possuem o segredo da escrita que suporta o aparentemente insuportável, com paciência e dignidade. Um grupo de descendentes com um ancestral comum, à chamada do vazio: eu, o cosmonauta, meus interstícios.

A promessa de que nós estaremos de volta ao mar: essa máquina de Valium, esse tempo de inatividade. Os planos fazem voltas, e eu também vou pegar o meu, às margens de um rio asiático (penso naquele nome dado à Terra, num período imaginário da pré-história, por Tolkien). Dirigindo em câmera lenta, de maneira completa, os presságios me provocam apneia dessa era pesada, o coração a girar. Os nove ventos do norte levam-me contigo, juntos. O vislumbre de uma estrela múltipla, na direção da constelação de Orion, pisca no meu monitor.

A última transmissão zero de Kirtland soou côncava num sinal luminoso preto. Tanto foi perdido no processo de se tornar e inter-relacionar: L.U.A. A felicidade e a boa fortuna de eletrificar os espectros. Outro vizinho desapareceu; foi o iconoclasta.

-----

*Ordem das bandas/artistas na foto, da esquerda para direita, de cima para baixo (o crédito das fotos estão nos posts listados acima):

Avalon . Wang Wen . Zhaoze . Milhaven . Weirdo Room ||| kokomo . Tunica Dartos . Fading Tapes . Town Portal . Jardín de la Croix ||| seahorses . Falcon Arrow . December . i am no hero . Shipwreck Karpathos ||| KOVLO . Outlander . Stubborn Tiny Lights VS Clustering Darkness Forever OK . All The Bright Lights . Long Hallways ||| codeia . Whale Fall . Aurora Borealis . Lief Sjostrom . Rachel's . Hualun . ISON . Bear the Mammoth . Charun . Rosetta ||| Biosphere . Driving Slow Motion . MotherFather . Unwed Sailor . Fat Old Donald . Glittering Blackness, Fall . Triple Deer . Transmission Zero . Valerinne . Efrim Manuel Menuck ||| BRUIT ≤ . A Swarm of the Sun . Herskin . Alnea . Fürio . Aesthesys . Dawn Chorus Ignites . Minor Movements . Rhone . Elhombreanormal ||| Often the Thinker . Another Neighbor Disappeared . Startle the Heavens . Aukai . Apeirophilia . Sigma Ori . First Came The Shadow . Balmorhea . Himmelsrandt . Around The World in 80 Days ||| Fjord . Gullwing . Night Verses . ///snippet.upper.laser . Colaris . Ruin!Ruins! . Am Fost La Munte Și Mi-a Plăcut . Sagor Som Leder Mot Slutet . MoYaN . Have The Moskovik ||| Minoria . Sejd . Meuban . tezce . El lenguaje como obstáculo . Salome Lego Playset . The Dry Mouths . Cracked Machine . Runa Gaman . Last Builders of Empire ||| darius . Loud Exit . Their Methlab . NYOS . Maven . AUGURE . Pelican . Into Orbit . Montaña . Triste polizonte ||| Paleons . Bugs of Phonon . Spurv . Kota Kota . Hope and Black Cloud . Glacier . HIЯRMA . The Further I Go . Hymns for the Angels . VLMV ||| Lazybones Flame Kids . Jet Plane . Pillars . laedj. . heklAa . Ranges . Sairen . Sleep Dealer . The Clouds Will Clear . Alone on the Moon . Planisphere . We Shine Every Night . Prynum . Zammorian . Seeress ||| SOLS . A.M. feelgood . James Anthony . Change of Plans . Kurkijávri . Wess Meets West . CAVALLO . Black Narcissus . one hour before the trip . TIDINGS . Eileen Sol . Paraphon Tree . Only Echoes Remain . Beware the blue sky . Levi Patel

Comentários

Rodrigo Sputter disse…
vc esqueceu os velhos rockers e poetas undergrounds meu velho Mirdad???
ehhehehhehe
kd vc?
viu o último clipe que lançamos??

Postagens mais visitadas deste blog

Dez passagens de Clarice Lispector nas cartas dos anos 1950 (parte 1)

Clarice Lispector (foto daqui ) “O outono aqui está muito bonito e o frio já está chegando. Parei uns tempos de trabalhar no livro [‘A maçã no escuro’] mas um dia desses recomeçarei. Tenho a impressão penosa de que me repito em cada livro com a obstinação de quem bate na mesma porta que não quer se abrir. Aliás minha impressão é mais geral ainda: tenho a impressão de que falo muito e que digo sempre as mesmas coisas, com o que eu devo chatear muito os ouvintes que por gentileza e carinho aguentam...” “Alô Fernando [Sabino], estou escrevendo pra você mas também não tenho nada o que dizer. Acho que é assim que pouco a pouco os velhos honestos terminam por não dizer nada. Mas o engraçado é que não tendo absolutamente nada o que dizer, dá uma vontade enorme de dizer. O quê? (...) E assim é que, por não ter absolutamente nada o que dizer, até livro já escrevi, e você também. Até que a dignidade do silêncio venha, o que é frase muito bonitinha e me emociona civicamente.”  “(...) O dinheiro s

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão

Dez poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro A rosa do povo

Consolo na praia Carlos Drummond de Andrade Vamos, não chores... A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua. Perdeste o melhor amigo. Não tentaste qualquer viagem. Não possuis casa, navio, terra. Mas tens um cão. Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o humour ? A injustiça não se resolve. À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido. Mas virão outros. Tudo somado, devias precipitar-te — de vez — nas águas. Estás nu na areia, no vento... Dorme, meu filho. -------- Desfile Carlos Drummond de Andrade O rosto no travesseiro, escuto o tempo fluindo no mais completo silêncio. Como remédio entornado em camisa de doente; como dedo na penugem de braço de namorada; como vento no cabelo, fluindo: fiquei mais moço. Já não tenho cicatriz. Vejo-me noutra cidade. Sem mar nem derivativo, o corpo era bem pequeno para tanta