Ana Valéria Fink - foto daqui
Amor algoz
Ana Valéria Fink
me condena
a morrer
de vontade antes
de prazer durante
de saudade depois.
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Coração botânico
Ana Valéria Fink
o homem mexendo a terra
me fez lembrar de mim.
também sou lavradora,
afofo e cultivo o coração
todos os dias,
escavo e remexo
bem no fundo;
rego, e mesmo sem ferramenta
estou sempre carpindo,
retirando os parasitas
que me sugam a seiva,
tapando os buracos
com novas sementes,
que germinam
trepadeiras floridas.
as raízes me passeiam
e fortes se me adentram.
os caules frondosos me povoam
e cada vez mais me embrenho
nesse amor por tudo
que me habita.
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Filhos criados
Ana Valéria Fink
se não herdaram
todas as minhas virtudes
por que seriam minha culpa
todos os seus defeitos?
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Desgrenha
Ana Valéria Fink
mergulho pelo olho
penetro o labirinto.
quase não saio mais.
na volta conto
que também por dentro
estou descabelada.
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Múltipla escolha
Ana Valéria Fink
a) vida comum
b) vida em comum
c) vida incomum
d) n.d.a.
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Fragmentos
Ana Valéria Fink
meu coração bate em peitos outros
e o líquido das veias,
já extremamente fluido,
é água destilada.
vou me diluindo pelo mundo.
não sei me guardar,
o turbilhão de afeições me arrasta,
e vou inteira.
não tenho nada,
me dividi,
e meus pedaços se perderam
por entre as dobras da vida.
sou um mosaico,
formado de estilhaços
dos que também se despedaçam
no caminho.
Presentes no livro de poemas “Mosaico” (Marianas Edições, 2018), de Ana Valéria Fink, páginas 108, 32, 101, 50, 92 e 31, respectivamente.
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