Mariana Botelho - Foto daqui
afinação
Mariana Botelho
há que se aprender a tirar silêncio
das coisas
quando uma coisa produz silêncio
ela está
pronta
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cesariana
(para Pedro)
Mariana Botelho
seus pequenos olhos
cor de aurora represada
ainda que um dia se afastem
ficarão
nessa pequena cicatriz
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náufragos
Mariana Botelho
nossas bocas
nossas mãos
pequenos afluentes de silêncio
submersos
nem nas palavras que calamos
nos encontramos
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estação
Mariana Botelho
tenho um outono no corpo
de onde as
coisas
caem
vejo doçura nas roupas
espalhadas
pelo chão
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nascente
Mariana Botelho
córrego
cachoeira
ribeirão
eu choro
pra pertencer à paisagem
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“meu pai me deu esse olho de pássaro
pra mim o
tempo
voa”
“porque a palavra me pega de dois jeitos:
de um jeito que não basta sabê-la
de um jeito que me come
tudo o que me resta é dizer de um corpo que chora à margem
esperando a sede
enquanto ouve a palavra água”
“no corredor o vai vem das
saias onde eu me
agarrei
(...)
no canto da sala a cadeira da minha
avó onde um dia
a dor
me esperará”
Presentes no livro de poemas “o silêncio tange o sino” (Ateliê Editorial, 2010), de Mariana Botelho, páginas 7, 45, 15, 20 e 24, respectivamente, além dos trechos dos poemas sem título (p. 27), sem título (p. 25) e “casarão” (p. 35), presentes na mesma obra.
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