Pular para o conteúdo principal

Orange Poem lança último EP com Teago da Maglore no vocal



Crowd é o último EP da Orange Poem em 2014 e traz a voz de Teago Oliveira

A série de lançamentos da Orange Poem chega ao fim com Crowd (multidão em inglês), o sexto EP da banda que, nos últimos meses, fundiu ao seu som psicodélico e progressivo algumas vozes referenciais do rock baiano, como Nancy Viégas e Mauro Pithon, e até mesmo uma inusitada experiência musical com Mateus Aleluia (ex-Os Tincoãs). A voz escolhida para encerrar os lançamentos de 2014 foi um representante da nova geração, o cantor e compositor Teago Oliveira, da banda Maglore, atualmente radicada em São Paulo e um dos principais nomes em atividade no país.

"Sempre gostei muito do timbre de Teago, acho que ele possui aquele tempero especial, fora do padrão, que enobrece e diferencia vozes como as de Glauber, Nancy e Rodrigo, que também gravaram na Orange Poem. Além de que ele é muito versátil, tem excelente interpretação e sabe cantar muito bem em inglês. Acho que ele topou a proposta para gravar algo inusitado, diferente do que vem fazendo na Maglore, mais pesado, doido e desafiador. No fim, todos curtimos muito o resultado", explica Emmanuel Mirdad, o produtor e compositor do EP. A gravação, feita por Tadeu Mascarenhas, ocorreu em agosto no estúdio Casa das Máquinas, em Salvador/BA.


Teago Oliveira grava a voz no
EP Crowd em agosto de 2014
Foto: Mirdad

O EP Crowd, que tem o belo encarte feito por Glauber Guimarães, apresenta três composições de Emmanuel Mirdad, a piano progressiva "8/8/88", a psicodélica épica "Melissa" e a experimental progressiva-psicodélica nervosa "Dubious Question". Crowd é um trabalho que destaca a força interpretativa e versátil do cantor Teago Oliveira, o solo de bateria de Hosano Lima Jr. na faixa experimental, o sensível piano de Tadeu Mascarenhas e os efeitos psicodélicos dos guitarristas Zanom e Saint.

"Depois de gravar com três cânones do rock baiano como Glauber, Nancy e Maurão, de ter o presente incrível da experiência 'ancestrodélica' com Seu Mateus e de apresentar a doçura da voz de Rodrigo Pinheiro, fechar a série de EPs laranjas com a voz do querido amigo Teago é um luxo! O velho e os moços. Duas gerações do rock da Bahia num mesmo projeto. Como produtor, estou realizado!", celebra Mirdad, que antecipa os próximos passos: "Tínhamos projetado compilar os EPs num CD duplo e fazer um show de lançamento no final do ano, mas analisei melhor a proposta e decidi que, ao invés de ter uma carreira normal de banda com uma banda que não é normal seria desperdiçar dinheiro. Melhor é transformar os EPs em um filme musical, muito mais a ver com o som laranja, que é totalmente cinematográfico". Ou seja, para ver ao vivo o Orange Poem, só na telona. Mas quando será isso? "Mais à frente, pois todos nós sabemos que fazer cinema de arte no Brasil é trabalhar com o prazo bem longo".

O EP Crowd estará disponível para audição e download a partir da segunda 1º/09 no Soundcloud da banda (www.soundcloud.com/theorangepoem) e também no Youtube aqui.


Emmanuel Mirdad, Teago Oliveira e
Tadeu Mascarenhas na gravação do
EP Crowd em agosto de 2014

A BANDA

De 2001 a 2007, a Orange Poem apresentou sua singular sonoridade baseada no psicodélico rock progressivo em inglês, com pitadas de blues, folk, groove e hard rock setentista. Formada por desconhecidos do cenário do rock baiano (e até entre si mesmos), conduzida pelo multifacetado Emmanuel Mirdad (escritor, compositor e produtor da Flica), foi uma banda guitarreira de canções autorais do seu produtor e então cantor. Marcus Zanom e Saint, guitarristas tão antagônicos de estilo, combinaram como yin-yang seus timbres em solos de puro feeling ou velocidade intensa. Na gruvada cozinha laranja, a segurança e técnica dos músicos Hosano Lima Jr. (baterista) e Artur Paranhos (baixista).

Pertencente à geração 00 do rock baiano, de bandas cantando em inglês como The Honkers e Plane of Mine, a Orange Poem gravou dois discos no estúdio Casa das Máquinas, de Tadeu Mascarenhas. “Shining Life, Confuse World”, o primeiro, chegou a ser prensado e lançado no extinto World Bar em 2005, de forma totalmente independente, sem gravadora nem selo. A banda optou por não trabalhar a divulgação dele e partiram pra gravar o seguinte, “Sleep in Snow Shape”, que foi concluído no final de 2006, poucos meses antes da banda acabar em março de 2007. Não chegou a ser lançado, e os membros se mudaram pra estados distintos.

|||||

A NOVA FASE

Depois de sete anos cabalísticos, Mirdad retomou o som laranja com a inusitada proposta de várias vozes distintas. “Pra que ter um vocalista fixo? O original, por exemplo, comprometeu as músicas e merecia ter sido demitido”, comenta ironicamente, pois era ele mesmo o tal vocalista ruim. Devido à velocidade da contemplação moderna, que não tem mais o tempo para apreciar os álbuns com dez, doze músicas, o produtor decidiu investir no lançamento de EPs com três músicas cada, com a novidade de uma nova voz a cada lançamento.

As músicas foram gravadas entre 2005 e 2006 e estavam engavetadas desde o fim da banda. Com a volta da Orange Poem, as músicas ganharam uma nova mixagem e a presença do novo membro da banda: o tecladista Tadeu Mascarenhas, responsável pelas teclas que estão temperando mais ainda a psicodelia do som laranja. Engenheiro de som das gravações e co-produtor das músicas, Tadeu sempre orbitou pela banda e topou fazer parte do grupo. “Somos amigos há 10 anos, curtimos as sequelas criativas proporcionadas pelo poema, e como a Orange é uma banda de estúdio, não interfere em sua agenda concorrida”, informa Mirdad.

EP Ground com Glauber Guimarães (janeiro/2014)
ouça aqui

EP Unquiet com Rodrigo Pinheiro (abril/2014)
ouça aqui

EP Wide com Nancy Viégas (junho/2014)
ouça aqui

EP Balance com Mauro Pithon (julho/2014)
ouça aqui

EP Ancient com Mateus Aleluia (agosto/2014)
ouça aqui

|||||

AS CANÇÕES

8/8/88
(Emmanuel Mirdad)

Primeira faixa que destaca o piano na Orange Poem, representa bem sua face progressiva, em três atos: revelação (psicodelia com piano, guitarras e baixo), introspecção (piano e voz em tom menor) e elevação (piano, voz, sanfona e guitarra portuguesa em tom maior, alegre). Destaque para o sentimento do piano de Tadeu Mascarenhas e a bela interpretação do cantor Teago Oliveira. Os versos trazem a urgência da juventude em viver o máximo que puder, enquanto o tempo não traz o envelhecimento inevitável.


Melissa
(Emmanuel Mirdad)

Representante fiel da psicodelia progressiva laranja, é minimalista nos detalhes e efeitos de guitarra de Zanom e Saint e nas interpretações vocais a la Seattle de Teago Oliveira. É um blues avançado, com refrão clássico e posfácio pesado, considerada uma das cinco melhores músicas da Orange Poem. O poema é uma homenagem à Clarice Lispector; Melissa é uma Macabéa alaranjada.


Dubious Question
(Emmanuel Mirdad)

A função da canção era permitir que a improvisação e a experimentação da Orange Poem corressem soltas; a banda nunca a tocou de uma mesma forma. Destaque para o solo de bateria de Hosano Lima Jr., a cama múltipla de efeitos dos guitarristas Saint e Zanom, o solo de violão reverso do convidado Rajasí Vasconcelos, primeiro baixista laranja, e a interpretação nervosa a la Motörhead de Teago Oliveira. O poema é uma homenagem a dezessete músicas do Pink Floyd; a cada verso, uma lembrança de canções como "Dogs" e "Brain Damage", "Grantchester Meadows" e "Cymbaline", entre outras.

|||||

O EP CROWD

01. 8/8/88
02. Melissa
03. Dubious Question

Composto e produzido por Emmanuel Mirdad

Teago Oliveira (voz, backing vocal e grito)
Mirdad (violão 12 cordas e grito)
Tadeu Mascarenhas (piano, guitarra portuguesa, safona e sintetizador)
Marcus Zanom (guitarra)
Saint (guitarra)
Artur Paranhos (baixo)
Hosano Lima Jr. (bateria)

Convidado especial:
Rajasí Vasconcelos (backing vocal e solo de violão reverso)

Gravação, mixagem e masterização: Tadeu Mascarenhas (Estúdio Casa das Máquinas)

Arte do EP: Glauber Guimarães

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão

Seleta: Gipsy Kings

A “ Seleta: Gipsy Kings ” destaca as 90 músicas que mais gosto do grupo cigano, presentes em 14 álbuns (os prediletos são “ Gipsy Kings ”, “ Este Mundo ”, “ Somos Gitanos ” e “ Love & Liberté ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 14 álbuns participantes desta Seleta 01) Un Amor [Gipsy Kings, 1987] 02) Tu Quieres Volver [Gipsy Kings, 1987] 03) Habla Me [Este Mundo, 1991] 04) Como un Silencio [Somos Gitanos, 2001] 05) A Mi Manera (Comme D'Habitude) [Gipsy Kings, 1987] 06) Amor d'Un Dia [Luna de Fuego, 1983] 07) Bem, Bem, Maria [Gipsy Kings, 1987] 08) Baila Me [Este Mundo, 1991] 09) La Dona [Live, 1992] 10) La Quiero [Love & Liberté, 1993] 11) Sin Ella [Este Mundo, 1991] 12) Ciento [Luna de Fuego, 1983] 13) Faena [Gipsy Kings, 1987] 14) Soledad [Roots, 2004] 15) Mi Corazon [Estrellas, 1995] 16) Inspiration [Gipsy Kings, 1987] 17) A Tu Vera [Estrellas, 1995] 18) Djobi Djoba [Gipsy Kings, 1987] 19) Bamboleo [Gipsy Kings, 1987] 20) Volare (Nel

Dez poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro A rosa do povo

Consolo na praia Carlos Drummond de Andrade Vamos, não chores... A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua. Perdeste o melhor amigo. Não tentaste qualquer viagem. Não possuis casa, navio, terra. Mas tens um cão. Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o humour ? A injustiça não se resolve. À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido. Mas virão outros. Tudo somado, devias precipitar-te — de vez — nas águas. Estás nu na areia, no vento... Dorme, meu filho. -------- Desfile Carlos Drummond de Andrade O rosto no travesseiro, escuto o tempo fluindo no mais completo silêncio. Como remédio entornado em camisa de doente; como dedo na penugem de braço de namorada; como vento no cabelo, fluindo: fiquei mais moço. Já não tenho cicatriz. Vejo-me noutra cidade. Sem mar nem derivativo, o corpo era bem pequeno para tanta