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Mostrando postagens de maio, 2016

Dez passagens de Clarice Lispector no romance A paixão segundo G.H.

Clarice Lispector “Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir – nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.” “Porque o tédio é insosso e se parece com a coisa mesmo. E eu não fora grande bastante: só os grandes amam a monotonia. O contato com supersom do atonal tem uma alegria inexpressiva que só a carne, no amor, tolera. Os grandes têm a qualidade vital da carne, e, não só toleram o atonal, como a ele aspiram. (...) Minhas antigas construções haviam consistido em co

O grito do mar na noite no site do jornal Rascunho

Resenha do livro O grito do mar na noite (Via Litterarum, 2015), publicada no  Rascunho #192 , de abril de 2016, por Clayton de Souza , disponível para leitura no site do jornal. Leia aqui A mesma resenha na versão impressa do jornal  aqui Foto do autor: Sarah Fernandes

Oito passagens de Domingos Pellegrini no livro Melhores contos

Domingos Pellegrini (foto daqui ) "Quando acordei, perguntei cadê o povo da gravadora, o dono do bar disse que tinham almoçado fazia tempo, mas apontou: ainda tinha um ali palitando dente. Perguntei: moço, você trabalha ali na gravadora? Ele balançou a cabeça, trabalhava sim. Então espere um pouco, pedi. Peguei a viola no quartinho, afinei, respirei fundo e voltei. Agora escute um pouco, moço. E comecei a cantar. (...)  Juntou gente para ouvir. O dono do bar até me deu um guaraná. Mas o moço da gravadora ouviu como quem não ouvia, devia ouvir música o dia inteiro todo santo dia, devia ser isso, pensei, só podia ser isso. E cantei mais. Ele terminou de palitar os dentes, pagou o que tinha de pagar, contando um dinheiro mais amassado que de mendigo, atravessou a rua, entrou na gravadora e fui atrás. Ele subiu uma escada, passou por uma sala forrada de cartaz de artista em toda parede, pegou outro corredor e, lá no fim, entrou numa salinha cheia de tranqueira, pegou uma vassour

Orange Roots finaliza o álbum Fluid

Primeira aparição do Orange Roots Jornal Correio - 05/05/2016 Nota de Verena Paranhos Emmanuel Mirdad (compositor e produtor), Fabrício Mota (baixista), Átila Santtana (guitarrista e produtor) e Iuri Carvalho (baterista) na pré-produção final do álbum Fluid, no estúdio de Átila,  Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil, em 03/05/2016. Fabrício Mota (baixista), Átila Santtana (guitarrista e produtor) e Iuri Carvalho (baterista) na pré-produção final do álbum Fluid,  no estúdio de Átila, Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil, em 03/05/2016.

Oito passagens de Aníbal Machado no livro Melhores contos

Aníbal Machado (foto daqui ) "Monjolo se anunciava por um som de sanfona que parecia o gemido constante do fundo do Brasil." "Com os trinta e seis anos perdidos na Repartição, teria perdido também o dom de viver? (...) Muito próximo se achava ainda desse passado para não lhe receber a influência. A manifestação de despedida fora ontem mesmo. Cobriram-lhe a mesa de flores; saudou-o em nome dos chefes de serviço o diretor mais antigo, seu ex-adversário; falou depois um dos subordinados, estudante de Medicina; por último, uma funcionária, a Adélia, que usava decote largo, se referiu ‘à competência e exemplar austeridade do querido chefe de quem todos se lembrarão com saudade’. Uma menina, filha do arquivista, fez-lhe entrega de uma bengala de castão de ouro, com a data e o nome. E o Ministro mandou um telegrama. (...) Foi só. Estava encerrada a etapa principal e maior de sua vida. (...) Os decênios de trabalho monótono, de ‘austeridade exemplar’ como dizia Adélia,