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Mostrando postagens de julho, 2016

Poesia completa, de Orides Fontela

Orides Fontela (foto daqui ) Descrição extraída do site da editora Hedra : " Orides Fontela [1940-1998] foi uma das mais importantes poetas brasileiras da segunda metade do século XX (...) sua obra se destaca e se diferencia por um alto rigor unido a uma particular beleza áspera, que a tornam, contra a passagem do tempo, cada vez mais contemporânea. (...) A publicação pela Hedra de sua ' Poesia completa ' [organizada e apresentada pelo poeta e crítico literário Luis Dolhnikoff ] reafirma e reforça esta condição. (...) uma obra cada vez mais vigorosa, enquanto sua vida caminhava para um fim solitário em um sanatório para tuberculosos em Campos do Jordão. (...) A reunião de todos os seus livros publicados em vida, junto a [uma] importante coleção de inéditos, permitiu a organização de sua ' Poesia completa '." " Transposição " (1969) Leia  aqui "salto buscando o além do momento" ----------- " Helianto &

Seis poemas e cinco passagens de Orides Fontela no livro Teia

Orides Fontela (foto daqui ) sem título Orides Fontela Nunca amar o que não vibra nunca crer no que não canta. -------- Kairós Orides Fontela Quando pousa o pássaro quando acorda o espelho quando amadurece a hora. -------- João Orides Fontela De barro o operário e a casa (de barro o nome e a obra). II O pássaro-operário madruga: construir a casa construir o canto ganhar – construir – o dia. III O pássaro faz o seu trabalho e o trabalho faz o pássaro. IV O duro impuro labor: construir-se V O canto é anterior ao pássaro a casa é anterior ao barro o nome é anterior à vida. -------- Teia Orides Fontela A teia, não mágica mas arma, armadilha a teia, não morta mas sensitiva, vivente a teia, não arte mas trabalho, tensa a teia, não virgem mas intensamente                    prenhe: no centro a aranha espera. -------- Fala Orides Fontela Falo de agrestes pássaros         de sóis  

Cinco poemas e seis passagens de Orides Fontela no livro Rosácea

Orides Fontela (foto daqui ) Aforismos Orides Fontela Matar o pássaro eterniza o silêncio matar a luz elimina o limite matar o amor instaura a liberdade. -------- CDA (Imitado) Orides Fontela Ó vida, triste vida! Se eu me chamasse Aparecida dava na mesma. -------- Aurora Orides Fontela Rosa, rosas. A primeira cor. Rosas que os cavalos esmagam. -------- Iniciação Orides Fontela Se vens a uma terra estranha curva-te se este lugar é esquisito curva-te se o dia é todo estranheza submete-te – és infinitamente mais estranho. -------- Ode Orides Fontela Neste tudo tudo falta (neblina) e nesta falta: eis tudo. -------- "Nem tronco ou caule. Nem sequer planta – só a raiz    é o fruto." "Só porque erro encontro o que não se procura só porque erro invento o labirinto (...) só porque erro acerto: me construo." "em tudo pulsa e penetra o clamor do indomesticável destino."

Cinco poemas e seis passagens de Orides Fontela no livro Alba

Orides Fontela (foto daqui ) Alba Orides Fontela I Entra furtivamente a luz surpreende o sonho inda imerso                                    na carne. II Abrir os olhos. Abri-los como da primeira vez – e a primeira vez é sempre. III Toque de um raio breve e a violência das imagens no tempo. IV Branco sinal oferto e a resposta do sangue: AGORA! -------- Pouso (II) Orides Fontela Difícil para o pássaro                        pousar                        manso em nossa mão – mesmo                        aberta. Difícil difícil para a livre            vida repousar em quietude                          limpa                          densa e inda mais            difícil – contendo o           voo    imprevisível – maturar o seu canto no alvo seio de nosso aberto mas opaco silêncio. -------- Murmúrio Orides Fontela O murmúrio não cessa. Nunca a                                         fonte deixará de cantar oculta

Cinco poemas e seis passagens de Orides Fontela no livro Helianto

Orides Fontela (foto daqui )  Ode Orides Fontela E enquanto mordemos frutos vivos declina a tarde. E enquanto fixamos claros signos flui o silêncio. E enquanto sofremos a hora intensa lentamente o tempo perde-nos. -------- Impressões Orides Fontela Cimo de palmeira rubra:                   "vida". Lago de amarelo turvo:              "tempo". Cubo de metal opaco:             "Deus". -------- Herança Orides Fontela O que o tempo descura e que transfixa o que o tempo transmite e subverte o que o tempo desmente e mitifica. -------- Claustro (II) Orides Fontela Antigo jardim fechado: águas, azulejos             e sombra. Macular esta paz?                Proibido. Só leves pensamentos                 transitam – leves, tão               leves que agravam mais o silêncio. E o jardim se aprofunda                           espelho verde do abismo: céu nas águas claras e este chão não exist

Cinco poemas e seis passagens de Orides Fontela no livro Transposição

Orides Fontela (foto daqui ) Ode I Orides Fontela O real? A palavra coisa humana humanidade penetrou no universo e eis que me entrega tão-somente uma rosa. -------- Rota Orides Fontela Há um rumo intacto, uma absoluta aridez na ave que repousa. Nela o repouso é a rota: não há mais necessidade de voo. -------- Notícia Orides Fontela Não mais sabemos do barco mas há sempre um náufrago: um que sobrevive ao barco e a si mesmo para talhar na rocha a solidão. -------- Média Orides Fontela Meia lua. Meia palavra. Meia vida. Não basta? -------- Fala Orides Fontela Tudo será difícil de dizer: a palavra real nunca é suave. Tudo será duro: luz impiedosa excessiva vivência consciência demais do ser. Tudo será capaz de ferir. Será agressivamente real. Tão real que nos despedaça. Não há piedade nos signos e nem no amor: o ser é excessivamente lúcido e a palavra é densa e nos fere. (Toda palavra é crueldade.) -------- "

Livro Olhos abertos no escuro (2016), de Emmanuel Mirdad

Olhos abertos no escuro (Via Litterarum, 2016) ISBN: 978-85-81511-21-4 30 contos | 268 pg Posfácio de Carlos Barbosa Orelha de Victor Mascarenhas Foto da capa: Sarah Fernandes Olhos abertos no escuro apresenta uma constelação de personagens complexos, situações extremas, solidão, romance, ironia e prosa poética. Plural, ácido e reflexivo, contém 30 contos, que podem ser divididos em três linhagens: 1) reflexivos e poéticos; 2) sobre relações afetivas; 3) literatura policial. Para Carlos Barbosa , que assina o posfácio, são pontuados por “amor e traição, bebidas e drogas, insegurança e solidão, tédio e indignação, sarro e revolta, sexo e medo – coisas da nossa contemporaneidade difusa e obscena”. Para Victor Mascarenhas , que assina a orelha, o livro é “uma coleção de contos que apresenta uma plêiade de personagens que vagueiam por aí, levando sua escuridão particular a qualquer hora do dia e da noite, assombrando e tirando o sono dos incautos leitores”. Em Botox , o auto

Os 30 mais do meu acervo de MP3

Fotos: Internet Dezembro passado, comecei a digitalizar a minha coleção de CDs. Depois, fui organizando, aos poucos, o acervo de MP3. Pois ontem, terminei. Em julho de 2016 , tenho 7.411 faixas, 629 álbuns, 309 artistas/bandas, em 38,12 GB de música . Do acervo, considero que 30 são os mais especiais. Me formaram como artista, profissional, homem. Sem eles, eu não me reconheço. 1) Bob Marley & The Wailers 2) Pink Floyd 3) Radiohead 4) Legião Urbana 5) Sigur Rós 6) Dire Straits 7) Black Sabbath 8) Led Zeppelin 9) Creedence Clearwater Revival 10) Counting Crows 11) The Cranberries 12) The Wallflowers 13) The Swell Season 14) Placebo 15) U2 16) Jimi Hendrix 17) Burning Spear 18) Alpha Blondy 19) Peter Tosh 20) Edson Gomes 21) BB King 22) Muddy Waters 23) Flávio José 24) Santanna o Cantador 25) Coldplay 26) Zé Ramalho 27) Belchior 28) Fiona Apple 29) Audioslave 30) Gipsy Kings

Cinco poemas e três passagens de Silvério Duque no livro Do coração dos malditos

Silvério Duque (foto daqui ) Nicolae Steinhardt Silvério Duque       ao amigo, Elpídio Mário Dantas Fonseca – Se existo é porque a carne não tem nome e onde o amor se desfez a alma procura a vontade de amar que ainda perdura como perdura a morte e a sua fome. Pela boca do tempo tudo some mas se torna a viver é que a mais pura vontade de existir revela e apura o que a própria razão de ser consome. Do assombro e do desejo em vão renasço com o mesmo coração profundo e inquieto se com Deus não me unir em estreito laço como se une o silêncio a todo inverno como se une a razão a nobre gesto pois tudo o que é fugaz vive do Eterno. -------- Sobre o grito de Munch Silvério Duque                ao poeta e amigo, Patrice de Moraes – Nas tardes mortas, eu perdi meu nome e em cada uma delas morri um pouco pois nada cabe a mim que achar-me um louco que vive de comer a própria fome. Esta visão de mim que me consome dói como há-de doer um grito rouco que o p

Treze poemas da antologia Cantares de arrumação — Panorama da nova poesia de Feira de Santana e região

Inverso Anne Cerqueira É preciso coragem alguns me dizem quando a tarde chega e a água turva. Cega e atônita eu sei. As flores secaram sob o sol mais rigoroso e os rios traçam seu curso com giz rápido célere o vento nos arrasta. Inverso. Nada corre nada avança se não há guerra também não há conforto É preciso coragem sob a mordaça. Alguém avisa. (moldura que nos ata à força) Eu sei. -------- Miudinha Ribeiro Pedreira (Dão)               a Maria das Graças Ribeiro Pedreira Mainha é pequena de tamanho, mas consegue pegar coisas no alto. Minha voz por exemplo ela sempre bota no bolso. -------- Direito prescrito Herculano Neto nasci com defeito de fábrica defeito na alma minha mãe não notou meu pai não notou ninguém notou só perceberam quando achei de me remendar me colar me parafusar aí já era tarde -------- Uma outra história Ronald Freitas Na curva daquela estrada a escuridão não veio. (na curva, o dia