Orides Fontela (foto daqui)
sem título
Orides Fontela
Nunca amar
o que não
vibra
nunca crer
no que não
canta.
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Kairós
Orides Fontela
Quando pousa
o pássaro
quando acorda
o espelho
quando amadurece
a hora.
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João
Orides Fontela
De barro
o operário
e a casa
(de barro
o nome
e a obra).
II
O pássaro-operário
madruga:
construir a
casa
construir o
canto
ganhar – construir –
o dia.
III
O pássaro
faz o seu
trabalho
e o trabalho faz
o pássaro.
IV
O duro
impuro
labor: construir-se
V
O canto é anterior
ao pássaro
a casa é anterior
ao barro
o nome é anterior
à vida.
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Teia
Orides Fontela
A teia, não
mágica
mas arma, armadilha
a teia, não
morta
mas sensitiva, vivente
a teia, não
arte
mas trabalho, tensa
a teia, não
virgem
mas intensamente
prenhe:
no
centro
a aranha espera.
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Fala
Orides Fontela
Falo de agrestes
pássaros de sóis
que não se apagam
de inamovíveis
pedras
de sangue
vivo de estrelas
que não cessam.
Falo do que impede
o sono.
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Mão única
Orides Fontela
– é proibido
voltar atrás
e chorar.
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"mescladas
a esmo:
o fim o infinito
o mesmo
a hora e a sua
seta
o limite e o após
a meta"
"Ver
o avesso
do sol o
ventre
do caos os
ossos."
"E anulado
o espelho: eis
o infinito."
"e a pedra é
pedra: não germina.
Basta-se."
"o espelho aprofunda
o enigma"
Presentes no livro de poemas "Teia" (1996), presente na coletânea "Poesia completa" (Hedra, 2015), de Orides Fontela, páginas 372, 326, 313-314, 307, 308 e 328, respectivamente, além dos trechos dos poemas "Coisas" (p. 309), "Ver" (p. 339), "Noturnos" (p. 349), "Pesca" (p. 381) e "sem título" (p. 374), presentes na coletânea.
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