Orides Fontela (foto daqui)
Aforismos
Orides Fontela
Matar o pássaro eterniza
o silêncio
matar a luz elimina
o limite
matar o amor instaura
a liberdade.
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CDA (Imitado)
Orides Fontela
Ó vida, triste vida!
Se eu me chamasse Aparecida
dava na mesma.
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Aurora
Orides Fontela
Rosa, rosas. A primeira cor.
Rosas que os cavalos
esmagam.
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Iniciação
Orides Fontela
Se vens a uma terra estranha
curva-te
se este lugar é esquisito
curva-te
se o dia é todo estranheza
submete-te
– és infinitamente mais estranho.
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Ode
Orides Fontela
Neste tudo
tudo falta
(neblina)
e nesta
falta: eis
tudo.
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"Nem tronco ou
caule. Nem sequer planta
– só a raiz
é o fruto."
"Só porque
erro
encontro
o que não se
procura
só porque
erro
invento
o labirinto
(...)
só porque
erro
acerto: me
construo."
"em tudo pulsa
e penetra
o clamor
do indomesticável destino."
"Não amo
o espelho: temo-o."
"A tarde em mim se repete
num tempo irreal, decadência
obstinada, onde o
silêncio
nunca é completamente
treva
A tarde em mim se repete
configurando uma distância
irrealizada, evanescência
onde nunca anoitece."
"Cansa-me ser. A chaga inumerável
de mim cintila; sem palavras, úmida
fonte rubra do ser, anseio e tédio
de prosseguir, inabitada, viva."
Presentes no livro de poemas "Rosácea" (1986), presente na coletânea "Poesia completa" (Hedra, 2015), de Orides Fontela, páginas 230, 249, 221, 222 e 260, respectivamente, além dos trechos dos poemas "Origem" (p. 283), "Errância" (p. 223), "As coisas selvagens" (p. 235), "O espelho" (p. 238), "Duas odes (antigas)" (p. 285) e "um soneto sem título" (p. 293), presentes na coletânea.
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