“(...) A atmosfera de Natal e de fim de ano, essa tortura a que milhões de pessoas se submetem em honra à felicidade obrigatória, reforçava o desespero. Como escapar?” “(...) Da infância, tenho lembrança viva das surras que levei. Nenhuma novidade. A pancada é a norma imemorial, o grande professor universal na formação de praticamente todas as culturas do mundo. Diante desse milhão de anos, o paradigma dominante contemporâneo de não violência e solidariedade universais, fruto sofrido e prolongado da cultura ocidental iluminista e urbanizada, transformada a duras penas em política de Estado, com graus diferentes de convicção, sempre de incerta implementação judicial e sob o fogo incansável das extremas direitas, das ditaduras de esquerda, das razões nacionais, da estupidez religiosa e dos movimentos regressivos, é um mero pingo romântico de verniz. Os monstros físicos e mentais continuam todos à solta.” “(...) Na vida concreta, nunca há tempo para pensar, refazer, mesmo arrepender-se, e...
O lampião e a peneira do mestiço