Pular para o conteúdo principal

Choose life — T2 Trainspotting

A melhor cena do filme T2 Trainspotting (2017), de Danny Boyle.

“‘Choose life’ was a well meaning slogan from a 1980’s anti-drug campaign and we used to add things to it, so I might say for example, choose... designer lingerie, in the vain hope of kicking some life back into a dead relationship. Choose handbags, choose high-heeled shoes, cashmere and silk to make yourself feel what passes for happy. Choose an iPhone made in China by a woman who jumped out of a window and stick it in the pocket of your jacket fresh from a South Asian firetrap. Choose Facebook, Twitter, Snapchat, Instagram and a thousand others ways to spew your bile across people you’ve never met. Choose updating your profile, tell the world what you had for breakfast and hope that someone, somewhere cares. Choose looking up old flames, desperate to believe that you don’t look as bad as they do. Choose live-blogging, from your first wank till your last breath; human interaction reduced to nothing more than data. Choose Ten Things You Never Knew About Celebrities Who’ve Had Surgery.”


Veja no YouTube aqui

“Choose screaming about abortion, choose rape jokes, slut-shaming, revenge porn and an endless tide of depressing misogyny. Choose 9/11 never happened, and if it did, it was the Jews. Choose a zero-hour contract and a two hour journey to work, and choose the same for your kids, only worse, and maybe tell yourself that it’s better that they never happened. And then sit back and smother the pain with an unknown dose of an unknown drug made in somebody’s fucking kitchen. Choose unfulfilled promise and wishing you’d done it all differently. Choose never learning from your own mistakes. Choose watching history repeat itself. Choose the slow reconciliation towards what you can get, rather than what you always hoped for. Settle for less and keep a brave face on it. Choose disappointment and choose losing the ones you love, then as they fall from view, a piece of you dies with them until you can see that one day in the future, piece by piece they will be all gone and there will be nothing left of you to call alive or dead. Choose your future, Veronica. Choose life.”

Esta fala sensacional é do personagem Mark Renton, interpretado por Ewan McGregor, escrita por John Hodge (roteiro baseado nos livros Porno e Trainspotting, de Irvine Welsh), no momento em que a personagem Veronika pergunta o que é “Choose life” — a melhor cena do longa T2 Trainspotting (2017), de Danny Boyle.

Disponibilizaram no YouTube também uma versão legendada em português. Confira aqui:


Veja no YouTube aqui 

“‘Escolha a vida’ era o slogan bem-intencionado de uma campanha antidrogas dos anos 80 e costumávamos adicionar coisas a ele. Então, eu poderia dizer, por exemplo, escolha... lingerie de marca, na vã esperança de reviver um relacionamento morto. Escolha bolsas, escolha sapatos de salto alto, caxemira e seda, para fazer você sentir o que se passa por feliz. Escolha um iPhone feito na China por uma mulher que pulou da janela, e enfie-o no bolso do seu casaco recém-chegado de uma arapuca no sul da Ásia. Escolha Facebook, Twitter, Snapchat, Instagram e um milhão de outros modos de vomitar sobre pessoas que nunca conheceu. Escolha atualizar o seu perfil; diga ao mundo o que comeu no café da manhã e torça para que alguém, em algum lugar, se importe. Escolha procurar velhas paixões, desesperado para crer que não está tão mal quanto elas. Escolha blogar ao vivo, da sua primeira punheta ao seu último suspiro; a interação humana reduzida a nada mais do que dados. Escolha dez coisas que nunca soube sobre celebridades que fizeram cirurgias. Escolha protestar contra o aborto, escolha piadas sobre estupro, slut-shaming, pornô de vingança e uma maré infinita de misoginia deprimente. Escolha que 11/09 nunca aconteceu; e se aconteceu, foram os judeus. Escolha um contrato de trabalho intermitente e uma jornada de duas horas para o trabalho, e escolha o mesmo para os seus filhos, só que pior, e diga a si mesma que seria melhor se eles nunca tivessem nascido. E então recoste-se e sufoque a dor com uma dose desconhecida de uma droga desconhecida feita numa cozinha qualquer. Escolha uma promessa não cumprida e deseje ter feito tudo diferente. Escolha nunca aprender com os seus erros. Escolha observar a história se repetir. Escolha a lenta reconciliação com o que você pode conseguir, ao invés do que sempre quis. Contente-se com menos e finja que isso não importa. Escolha o desapontamento e escolha perder aqueles a quem ama, e, enquanto eles somem, um pedaço de você morre com eles, até ver que, um dia no futuro, pouco a pouco, todos terão morrido, e não restará nada de você para chamar de vivo ou de morto. Escolha o seu futuro, Veronika. Escolha a vida.”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dez passagens de Clarice Lispector nas cartas dos anos 1950 (parte 1)

Clarice Lispector (foto daqui ) “O outono aqui está muito bonito e o frio já está chegando. Parei uns tempos de trabalhar no livro [‘A maçã no escuro’] mas um dia desses recomeçarei. Tenho a impressão penosa de que me repito em cada livro com a obstinação de quem bate na mesma porta que não quer se abrir. Aliás minha impressão é mais geral ainda: tenho a impressão de que falo muito e que digo sempre as mesmas coisas, com o que eu devo chatear muito os ouvintes que por gentileza e carinho aguentam...” “Alô Fernando [Sabino], estou escrevendo pra você mas também não tenho nada o que dizer. Acho que é assim que pouco a pouco os velhos honestos terminam por não dizer nada. Mas o engraçado é que não tendo absolutamente nada o que dizer, dá uma vontade enorme de dizer. O quê? (...) E assim é que, por não ter absolutamente nada o que dizer, até livro já escrevi, e você também. Até que a dignidade do silêncio venha, o que é frase muito bonitinha e me emociona civicamente.”  “(...) O dinheiro s

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão

Dez poemas de Carlos Drummond de Andrade no livro A rosa do povo

Consolo na praia Carlos Drummond de Andrade Vamos, não chores... A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua. Perdeste o melhor amigo. Não tentaste qualquer viagem. Não possuis casa, navio, terra. Mas tens um cão. Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o humour ? A injustiça não se resolve. À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido. Mas virão outros. Tudo somado, devias precipitar-te — de vez — nas águas. Estás nu na areia, no vento... Dorme, meu filho. -------- Desfile Carlos Drummond de Andrade O rosto no travesseiro, escuto o tempo fluindo no mais completo silêncio. Como remédio entornado em camisa de doente; como dedo na penugem de braço de namorada; como vento no cabelo, fluindo: fiquei mais moço. Já não tenho cicatriz. Vejo-me noutra cidade. Sem mar nem derivativo, o corpo era bem pequeno para tanta