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Podcast K7 #06 - André Setaro

ilustração por Zeca


Bloco 01 (30 Anos de Ensino e Declínio da Contemplação)
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Bloco 02 (Crítica e Mercado)
- Ouça e baixe aqui: www.4shared.com/file/108844201/1243ad36/PodcastK706_Setaro_Bloco02.html

Bloco 03 (Blog e Mulher Maçã)
- Ouça e baixe aqui: www.4shared.com/file/108845545/ccb1ddcb/PodcastK706_Setaro_Bloco03.html

Bloco 04 (Aprendizado e Indicações)
- Ouça e baixe aqui: www.4shared.com/file/108846833/70fed284/PodcastK706_Setaro_Bloco04.html

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Programa #06
André Setaro

Crítico e Professor.

Libriano, natural da cidade do Rio de Janeiro, de 1950, veio morar na Bahia com um pouco mais de três anos de idade e, por isto, considera-se baiano. É formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com Mestrado em Teoria da Arte pela Escola de Belas Artes na mesma universidade. É professor adjunto da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFBA há 30 anos, onde ensina disciplinas relacionadas ao audiovisual (como Oficina de Comunicação Audiovisual, Linguagem Cinematográfica, Temas Especiais de Cinema, Cinema Internacional, entre outras).

Crítico de cinema do jornal Tribuna da Bahia desde 1974, colaborador bissexto do suplemento cultural do jornal A Tarde, foi um dos colaboradores da Enciclopédia do Cinema Brasileiro, organizada por Ferrnão Ramos e Luiz Fernando Miranda. Bloguista assíduo, mantém, muito bem atualizado, o articulado Setaro's Blog. Possui ainda três livros no prelo, para serem dados à devida luz ainda este ano, reunindo escritos selecionados em três décadas de atividade na área do ensino e crítica cinematográfica.

André Setaro indica para ouvir as nove sinfonias de Beethoven e toda a obra musical do maestro Tom Jobim; ler Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski, e a obra completa de Machado de Assis; assistir Oito e Meio, de Federico Fellini, A Aventura, de Michelangelo Antonioni, e Rastros de Ódio, de John Ford; e contemplar Guernica, de Pablo Picasso, além de Henri Matisse e Diego Velásquez.

“Eu não sei quem sou, não gosto de me definir. Você não pede para vir ao mundo, você é despejado. Só me deram um nome e eu cumpro a minha função de viver”.

“Atualmente estou pouco ambicioso. O que eu almejo é ter paz e sossego na vida, ter tranqüilidade para exercer as minhas tarefas, e viver alguns anos a mais, só isso”.

“Vou lhe dizer a verdade: cinema não se ensina, não pode ser ensinado. É uma poesis. Você não pode ensinar um sentimento poético. E aprender cinema me parece que é um exercício autodidata. A função do professor é mais no sentido de orientar e sistematizar idéias a respeito do cinema para que o próprio aluno, por si, comece um processo de conhecimento e investigação”.

“Antigamente as pessoas contemplavam mais, estavam mais disponíveis, e hoje, com essa exigência perversa do mercado pela sobrevivência, as pessoas não têm mais tempo de contemplar. E as coisas estão muito velozes, porque elas querem tudo muito rápido, tudo muito mastigado”.

“O grande filme é sentido pela contemplação”.

“O filme produz sentidos não somente pela história, mas também pela articulação da linguagem cinematográfica: os planos, os movimentos de câmera, a angulação, os cortes. E o que eu tento humildemente fazer aqui é dar consciência aos alunos de que o cinema também é uma linguagem”.

“Na Bahia, Salvador, praticamente não existe crítica de cinema. Existem comentaristas, que informam, comentam, dão sua impressão nos jornais. Agora, o que está existindo é uma grande expansão de escritos sobre cinema na web, através de blogs e sites, e algumas pessoas têm se revelado como investigadores e estusiosos, como o Saymon Nascimento”.

“Não existe mais crítica de arte na Bahia. Já existiu, nos anos 50 e 60. E a imprensa baiana (atual), é um desastre completo, é triste”.

“A Bahia é uma terra arrasada, um estado culturalmente miserável. Dá pena. Hoje a cultura baiana é um lixo, imposta, aparelhada”.

“Antigamente um sujeito que quisesse expor, tinha a vergonha de ser esculhambado, porque existia uma crítica séria. E hoje o que acontece? Qualquer ignorante, completamente destituído de talento, resolve expor. E se tem amigos nos cadernos culturais, aí sai logo na primeira página. Então, os cadernos culturais são promotores dessa miséria”.

“Pessoas do sul do país e de NY vinham à Bahia assistir peças de teatro nos anos 50. E um aluno da escola de teatro, quando aparecia como garçom numa peça, ficava feliz. E hoje um sujeito da noite pro dia está dirigindo uma peça, sem nenhuma preparação. E o que é que se vê por aí são essas montagens vagabundérrimas, com os sujeitos pulando e gritando feitos macacos. Não vou mais a teatro”.

“A partir dos anos 80, a indústria cultural hollywoodiana, percebendo que 80% do público que vai ao cinema é constituído de adolescentes, infantilizou o cinema americano. E o grosso dessa produção cinematográfica é destinada a débeis mentais”.

“Hoje apenas 4% da população baiana pode ir ao cinema, (com esses) ingressos a R$ 17,00. O povo não vai mais ao cinema. Que Estado é esse? E quem não vai ao cinema pequeno, não vai mais. É como na literatura”.

“O cinema baiano tem hoje uma produção. No último decênio, temos quase 10 longas produzidos. Mas esses longas precisam ser distribuídos no mercado cinematográfico de exibição, que é dominado 99% por multinacionais. Ou seja, (por falta de viabilidade comercial) o cinema baiano não é exibido. E o que é que adianta fazer um filme se você não pode mostrá-lo?”.

“Surpreendentemente o Setaro’s Blog, que eu comecei sem nenhuma perspectiva (há quatro anos), é muito visitado, com uma média de 200 visitantes por dia, o que eu acho razoável. E o blog, antes de tudo, é um exercício de liberdade. Você não tem um editor; faz o que quiser”.

“Eu tenho um afeto todo especial por Spartacus, de Stanley Kubrick, porque eu vi menino, várias circunstâncias, e que teve uma influência enorme na minha vida, chegando a me formar, por mais incrível que isso possa parecer. Porque as circunstâncias da sua vida pessoal determinam muito a influência do filme sobre você”.

“Apague o seu celular! Eu peço encarecidamente: sejam civilizados. Quem vai ao cinema, deve apagar o celular. Se for um médico que está com um paciente em estado grave, então não vá ao cinema, vá pra casa esperar o telefonema, pra voltar ao hospital”.

“(Sobre a ‘selvageria’ nas salas de cinema) É um comportamento, um processo de deseducação, de decadência que está existindo na sociedade baiana, dessa incultura, dessa miséria que está aí”.

“Quando eu vejo essa Mulher Maçã, eu acho um ‘freaks’, um monstro. E esse exagero dos glúteos é uma coisa monstruosa. Não sei se você concorda comigo”.

- Sobre a afirmação de José Inácio, no K7#05, de que ‘as pessoas estão com o olhar preso às vitrines’: “Eu concordo plenamente, ele tem toda a razão”.

“O homem, que passa por um sofrimento, se engrandece. Ele começa a saber apreciar mais a vida, passa a refletir mais sobre a passagem do tempo, sobre a finitude da existência. Acho que todos nós deveríamos, sem morrer, passar por uma cirurgia de ponte de safena como um processo de aprendizado da vida”.

“Morrer faz parte da vida. Nascer e morrer são a mesma coisa. Agora o que a morte tem é isso, o sofrimento, que é terrível e não deveria existir, porque maltrata o homem. E a liturgia da morte, o enterro, que é uma coisa abominável”.

“O escrever em jornal, no outro dia, se enrola peixe, enrola lixo, se joga fora. E o livro é a permanência daquilo que você, bem ou mal, escreveu e elaborou em textos”.

“Não se deve fazer mais nada e se rever o que já foi feito”.

“Eu gosto muito de farpas, porque eu gosto muito de ironia. E a psicodelia faz parte da nossa loucura, da nossa existência. Viver é um nonsense”.

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Onde encontrar André Setaro:
www.setarosblog.blogspot.com

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Ficha Técnica Podcast K7 #06
Gravado em 28.05.2009, Salvador-Ba.

Direção, produção, entrevista, gravação, edição, montagem, vinhetas e locução: Emmanuel Mirdad.
Trilha sonora: Curtas e Poemas, Noturno, Reflexo Pesadelo, Homeopata e A Esposa Impossível, Mirdad - Harmonogonia (2008).

Trilha das aberturas e vinhetas: Lost Mails, The Orange Poem - Psicodelia (2008).

Fotos: Mirdad.

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Comentários

Franchico disse…
Relato de um menino criado na casa dos avós. Eles, que já partiram dessa pra melhor faz tempo, eram amigos/vizinhos de Joaci Góes, então dono da Tribuna da Bahia. Por conta disso, tínhamos uma "assinatura vitalícia" do jornal. E assim eu cresci, ao longo das décadas de 70 e 80, acordando cedinho para pegar a Tribuna no quintal da casa onde morávamos, em Piatã (onde hj em dia é uma Unirb - bleargh). Meu avô que era outro madrugador, claro, tinha a primazia de lê-lo primeiro. Depois eu pegava e adivinha quem eu lia, religiosamente, todos os dias? Setaro, óbvio. Foi lendo sua coluna que eu aprendi que cinema podia ser mais que diversão. Foi lendo sua coluna que eu li pela primeira vez sobre Kubrick, Welles, Minelli, Jerry Lewis, Eisenstein, David Lynch, Coppola, Glauber Rocha e Edgar Navarro (na época do lançamento do Superoutro) e tantos outros. Foi lendo sua coluna que eu decidi que queria ser jornalista e crítico de cinema tb. (Coisa que não me tornei, mas não vem ao caso). Foi lendo sua coluna que eu decidi estudar na Facom, quando soube que ele era professor lá. Infelizmente, quando finalmente consegui me matricular em uma de suas turmas, muitos anos depois, comecei a trabalhar e tive de largar a disciplina. Um porre, mas e daí? Sempre o terei como mestre, alguém que ampliou meus horizontes para sempre, que abriu minha mente, que me mostrou o mundo. Por tudo isso, o mínimo que eu posso dizer é: Obrigado, Mestre.
ARMANDO MAYNARD disse…
Caro Emmanuel, está excelente sua entrevista com o sábio Setaro. Dei boas gargalhadas. Entrevistado e entrevistador foram bastante inteligentes. Parabéns a ambos. Um abraço, Armando.
André Setaro disse…
Obrigado Chico. Fiquei sensibilizado.
Emmanuel Mirdad disse…
Obrigado, Armando! E realmente, Chico, foi um belo depoimento, sincero, e muito sensível. Uma raridade nestes dias de egoísmo.
Emmanuel Mirdad disse…
Podcast com Setaro no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=rW__ED7eZD4

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