Hélio Pólvora por Ramon Muniz
“A emoção é má conselheira”
“A escrita, como a urina, não deve sair em condições de sumário satisfatório ao primeiro jorro. Há que decantá-la”
“Ler e escrever dá sentido à minha existência. Eu escrevo para um leitor sem rosto, para um interlocutor que procurei a vida toda – e estava dentro de mim, à espreita. Escrevemos basicamente para nos encontrar, contradizer, condenar e executar, sentenciados e carrascos a um só tempo. Não há heroísmo nisso. Há desespero. E não adianta ninguém se fazer de vítima”
“A literatura, em especial a outrora chamada prosa de ficção, está em retirada. Não sei se ainda haverá tempo de nós, escritores, marcarmos encontro nas catacumbas, ao redor de fogueiras, e lermos nossos textos uns para os outros, enquanto devoramos nacos de carne crua”
“É lendo que se aprende a escrever, se há vocação. Caso contrário, seria melhor ficar nas leituras, ou vender melancia nas feiras. Um escritor de raça pode deflagrar outro”
“O escritor sabe-se vencido de antemão, inclusive pela linguagem incapaz de acompanhar-lhe o pensamento, por mais que ele a deforme ou apure. Isso explicaria a inquietação permanente”
Hélio Pólvora por Ramon Muniz
“Não há mais romance. Não há mais conto. Ambos os gêneros se dessangraram, tomados pela afasia, corroídos pela anorexia que tirou do romance à feição de Tolstói aquele estridor, aquele timbre épico. Eu era do conto, como certas pessoas são do mar e outras se agarram ao pó da terra”
“A literatura de criação está aberta a todas as expressões possíveis, sem posicionamentos radicais, sejam ideológicos ou estilísticos. Uma coisa, porém, é certa: deve-se evitar o supérfluo, o detalhe inútil. O mais correto seria reconhecer que o empenho verbal e o empenho visual andam juntos, e em dosagens diferentes. São indissociáveis. Poucos 'ficcionistas' de hoje se preocupam em abrir espaços ao ficcionismo; ficam no exercício inócuo de palavras vazias, preferem atirar regras fundamentais pela janela e escrever textos anódinos. Ocorre, então, o nivelamento por baixo, com a consequente fuga do leitor”
“Não inventamos; recriamos, reescrevemos. Ultimamente a vida tem sido de uma criatividade espantosa: seus enredos ultrapassam a ficção mais descabelada. Resta-nos, então, a capacidade de resistir e alinhavar esperanças. Nunca os ficcionistas se viram tão acuados, pressionados, apostrofados”
“Fui punido pelo contágio da tragicidade. A reserva de livre arbítrio é pequena para o descampado de circunstâncias tecidas sem o conhecimento pleno do indivíduo. Como qualquer mortal, o escritor é produto do meio: origem, renda, formação intelectual”
“O que é a verdade? Interrogado a respeito por Pilatos, que desejou salvá-lo do martírio, Jesus Cristo calou-se. Talvez não soubesse. Talvez apenas intuísse a verdade. Ou pressentisse a inutilidade do esforço de buscar a verdade”
Trechos retirados da excelente entrevista de Gerana Damulakis com Hélio Pólvora para o jornal Rascunho, leia aqui
Comentários
"Ler e escrever dá sentido à minha existência. Eu escrevo para um leitor sem rosto, para um interlocutor que procurei a vida toda - e estava dentro de mim, à espreita. Escrevemos basicamente para nos encontrar, contradizer, condenar e executar, sentenciados e carrascos a um só tempo. Não há heroísmo nisso. Há desespero. E não adianta ninguém se fazer de vítima"
Tive que ctrl-c-ctrl-vêzar isso!!!