O escritor Emmanuel Mirdad promove o lançamento virtual do livro “O limbo dos clichês imperdoáveis”, com todos os seus contos, no dia 28 de maio de 2018, às 18h.
“O limbo dos clichês imperdoáveis — Todos os contos de Emmanuel Mirdad” é um livro virtual, editado pelo próprio autor e disponibilizado em posts do seu blog, em fotos da página de escritor no Facebook e download gratuito do PDF da obra. São 60 contos, a compreender o período de 2000 a 2018 da produção contística de Emmanuel Mirdad.
O plural, ácido e reflexivo “O limbo dos clichês imperdoáveis — Todos os contos de Emmanuel Mirdad” apresenta uma constelação de personagens complexos, situações extremas, solidão, romance, ironia e prosa poética. Os 60 contos podem ser divididos em três linhagens: “reflexivos e poéticos”, “sobre relações afetivas e sexuais” e “literatura policial”.
O conto que abre o livro é “Chá de boldo”, em que um bisavô é abandonado pela filha e tem de viver em um asilo contra a sua vontade, até que surge a chance de retribuir a covardia. No erótico “A proposta”, a esposa aceita transar com outro homem para o marido assistir, mas ele não avalia a tempo os riscos envolvidos e ela é surpreendida por desejos há muito adormecidos. Já o cinematográfico “O banquete”, apresenta opressores que são oprimidos e oprimidos que praticam a opressão, todos a devorar e serem devorados num ritmo frenético.
Para o escritor Carlos Barbosa os contos são pontuados por “amor e traição, bebidas e drogas, insegurança e solidão, tédio e indignação, sarro e revolta, sexo e medo — coisas da nossa contemporaneidade difusa e obscena”. No conto “Receba”, acompanha-se a saga de Pedro Henrique, um autodestrutível Casanova às avessas, que recebe uma série tragicômica de foras de mulheres. “Assexuada” traz o dilema de Monique, a mulher que nunca gozou e não se importa, e quer vivenciar o amor, mesmo que seja preciso fingir que gosta de sexo. O conto “Cinzas” retrata os seis dias de Carnaval de uma mãe solteira, com duas filhas pequenas, entre uma arrochada de camisola a uma fossa regrada ao brilhante filme “Leviatã”. E em “Amante”, o autor relata as peripécias de um ser que atende às necessidades sexuais de diversas mulheres, cada uma com um motivo distinto que justifica a traição — o final é surpreendente.
Foto: Sarah Fernandes
O escritor Márcio Matos analisa que o livro é “um agudo painel das relações humanas, sobretudo afetivas, nas quais homens e mulheres expõem suas fraquezas ante a banalidade da vida e do tempo”, e que o autor “move-se pelo ringue na certeira intenção de deixar o leitor tonto e, quando este baixa a guarda, aplica-lhe o golpe fatal”. O conto “Sol de abril” apresenta a história de Lourdes, a exímia sanfoneira caolha, uma homenagem à canção “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Em “Pássaros deliram”, o delegado Mauro caça o psicopata Monstro, prolífico no intento de exterminar a humanidade. Já no psicodélico e surreal “Alucinação”, uma peça de dominó escapole do tabuleiro para o nosso mundo, indignada pela morte do seu amor: Rita, a bucha de sena.
Para o escritor Mayrant Gallo, o propósito do livro é “retratar o nosso mundo”, e cada conto é “uma fotografia de um álbum espúrio”, e que “os signos da contemporaneidade sobejam em todo o volume, numa evidência explícita à vida que levamos, em meio a uma multiplicação infindável de ícones da propaganda, internet, dos aparelhos de celulares, tablets, games, canais de tevê por assinatura etc.”. E o contista Victor Mascarenhas analisa que o livro “apresenta uma plêiade de personagens que vagueiam por aí, levando sua escuridão particular a qualquer hora do dia e da noite, assombrando e tirando o sono dos incautos leitores”.
No conto “O Reino”, um conquistador barato foge para a Chapada e confronta um adversário mais viril e poderoso: dois falos de pedra maciça encantada, brotados da terra, o mistério do sertão-montanha. Em “O barão do cagaço”, acompanha-se a paranoia de um medíocre solitário que acabou de ganhar sozinho na loteria o prêmio de 47 milhões de reais e vai da euforia incontrolável à paranoia suprema — O que fazer? Quem procurar? Em quem confiar? Onde guardar o bilhete, única prova que dará acesso à vida de luxo e ostentação? E o conto “Deserto poema” é o que melhor representa a prosa poética e a linhagem dos contos reflexivos e poéticos do livro, com as decepções do consagrado professor Belizário com a literatura e o encontro de um zumbi telepático, que oferece lições filosóficas a anjos e transeuntes carnais, com a empresária Aisha, cuja especialidade é faturar em cima de mitos burgueses.
Foto: Sarah Fernandes
Carlos Barbosa explica que Mirdad “demonstra desapego à fórmula de sucesso”, “arrisca em forma e linguagem” e apresenta “cenas de um cotidiano citadino extraídas dessa condição contemporânea de violência, sexo e desorientação psicofilosófica” em “contos mais extensos, minicontos, prosa poética e alguns gritos sedentos (...) contribuindo muito para revelar a faceta arrojada do autor, que se expõe e se arrisca”. Carlos destaca os contos “Botox”, em que “o autor fez o mergulho no mundo das aparências e ilusões de poder e glória terrenos, tão valorizados em nosso tempo, revelando truques e tramas traiçoeiros que promovem ascensão e ruína social”, “Sereno aceitar”, que é “um reflexo patético de ilusão e aparência no extremo oposto da pirâmide social, com o mesmo objetivo e consequência: ascensão e ruína”, e “Selvagem”, com “o homem preenchendo sua solidão noturna com a mais inútil das violências, matando a quem não morre”.
Mayrant Gallo comenta o conto “Bonecas”, que traz a derrocada ou a libertação de um macho alfa, encantado e repleto de desejo por uma travesti: “tem na sua essência o propósito de ironia, motor mais constante da alta literatura e palco de autores como o contista Orígenes Lessa (mal lido e mal compreendido) e Nelson Rodrigues, especialmente o mais cáustico, de ‘A vida como ela é’”.
Márcio Matos classifica o conto “Quase onze dias”, o maior do livro, como “tour de force”, em que o autor “cita ícones do momento e brinca com a antítese passado-presente, demonstrando que os grandes feitos inserem-se na trivialidade do dia a dia (mesmo a hedionda trivialidade dos crimes passionais)”. E Victor Mascarenhas questiona, citando os contos “Ela não quis”, “Ingênio”, “Qualquer um” e “Impermanência”: “E quem haveria de dormir estando obcecado por uma ninfeta que nada na raia ao lado ou remoendo os anos dourados do sucesso fugidio? Pode acontecer com qualquer um e de que importa se acontece, quando somos todos assombrados pela impermanência ou pela erosão implacável do tempo?”
Foto: Sarah Fernandes
Em 2017, Emmanuel Mirdad organizou e publicou os seus poemas completos no livro “Quem se habilita a colorir o vazio?”, disponibilizando-o gratuitamente no seu blog e Facebook. Com o mesmo desejo de concluir uma fase da sua obra, e deixar disponível para o leitor interessado de qualquer tempo, sem correr o risco de ficar fora de catálogo, faz o mesmo processo com “O limbo dos clichês imperdoáveis”, superando os livros publicados pela editora baiana Via Litterarum: “Abrupta sede” (2010), “O grito do mar na noite” (2015) e “Olhos abertos no escuro” (2016).
Desses três livros, cinquenta e dois contos foram selecionados, revistos, reescritos em várias partes (alguns títulos foram modificados), revisados e finalizados — apenas um conto foi descartado e renegado, publicado em “Abrupta sede”. Da coluna “Andarilho”, que o autor manteve entre maio e julho de 2000, no jornal “Folha da Pituba” (hoje extinto), foi recuperado o único conto que não havia sido reescrito e publicado em livro ainda, finalizado como “Fábula”. Assim como também foram selecionados e reescritos cinco contos que foram descartados do original do livro “Abrupta sede”: “Israel Deodato”, “Agulhas”, “O flagra”, “Entre o nebuloso e o desanuviado” e “Amem”. Por fim, o conto “A interferência arruinadora das inutilidades” foi produzido a partir do começo descartado de “Despedaço”, e um poema, lançado no livro “Quem se habilita a colorir o vazio?”, foi devolvido à forma original do conto “Folhetim”.
Foto: Sarah Fernandes
“O limbo dos clichês imperdoáveis — Todos os contos de Emmanuel Mirdad” foi feito ao som das bandas Hammock, Sigur Rós, Radiohead, Pink Floyd, Placebo, Bob Marley & The Wailers, Culture e Israel Vibration, dos músicos David Gilmour e Mark Knopfler, e de muitas bandas do gênero post-rock, como This Will Destroy You, 65daysofstatic, This Patch of Sky, The Union Trade, Esmerine, VAR e Tortoise.
Formando o contexto de Emmanuel Mirdad para a criação desse livro, o autor leu Hélio Pólvora, Mayrant Gallo, Nelson Rodrigues, Anton Tchekhov, Clarice Lispector, Machado de Assis, Dino Buzzati, Guy de Maupassant, Reinaldo Moraes, Pepetela, Gonçalo M. Tavares, Julio Cortázar e Andrew Solomon, entre outros.
A capa e contracapa de “O limbo dos clichês imperdoáveis — Todos os contos de Emmanuel Mirdad” é de autoria da fotógrafa e artista gráfica Sarah Fernandes (que também fez o flyer deste post). A revisão é de Acácia Melo Magalhães e do próprio autor.
Baiano de Salvador, de outubro de 1980, formado em Jornalismo pela Facom – UFBA, sócio-diretor da produtora Cali, Emmanuel Mirdad é um dos criadores, donos da marca e coordenadores da Flica, evento em que foi curador de 2012 a 2014. Autor dos livros “O limbo dos clichês imperdoáveis — Todos os contos de Emmanuel Mirdad” (2018), “Quem se habilita a colorir o vazio? — Todos os poemas de Emmanuel Mirdad” (2017), e das antologias de poemas “Ontem nada, amanhã silêncio” (2017) e “Yesterday, Nothing; Tomorrow, Silence” (2018), com tradução de Sabrina Gledhill. O seu primeiro romance, ainda inédito, foi finalista do Prêmio Sesc de Literatura e do Prêmio Cepe Nacional de Literatura em 2017. É também roteirista, compositor e produtor cultural com quase 20 anos de carreira, e mantém o blog “O lampião e a peneira do mestiço”: www.elmirdad.blogspot.com
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