Pular para o conteúdo principal

10 anos da seção Leituras



Em 2023, comemoro os 10 anos da seção “Leituras” do meu blog. É a principal deste veículo, a que eu mais me empenho em produzir conteúdo, o precioso acervo da literatura que consumo. Enquanto uns ostentam viagens, festas, roupas, filhos, eu me orgulho de exibir o êxito dos escritores: seleciono e copio os melhores trechos das leituras que faço, publico no blog & divulgo nas redes, tanto para promover o interesse pelo autor, obra e pelo hábito da leitura, quanto para divulgar autores não tão conhecidos e promover a venda de exemplares das obras divulgadas. O principal intento é espalhar doses homeopáticas de literatura por aí.

Eu sou um caça-frase. Um colecionador de passagens que nos impulsionam para além do óbvio. Os trechos que valem o investimento de tempo & dinheiro num livro. As pílulas que injetam aditivo à vida: contra o amortecimento do entretenimento e o pré-fabricado dos sistemas de opressão, há a boa literatura. Confesso: a minha leitura é um ato de peneirar; leio para encontrar os tesouros nas páginas, copiar & compartilhá-los na minha coleção no blog, que celebro como se fosse um tesouro, o acervo “Leituras” que encandeia o ser humano.

O hábito de caçar trechos me faz valorizar a frase. Há sempre uma que me arrebenta; e o resto é só cenário, escada ou preparação para que o seu efeito consiga impactar com potência. O enredo pode ser interessante, a linguagem, atraente, os diálogos, engraçados, mas de nada valem ao livro se não houver aquela frase bem-feita, um murro, uma facada, um empurrão no precipício, o ar que o mergulhador compartilha quando o do seu cilindro acaba. Resumo: a frase é o que me interessa na literatura [quando me envolvo com um enredo foda, surpreendente e incomum, transformo logo o sentimento para “tenho que adaptar ao cinema”, creditando o audiovisual como mais relevante; já a frase fodástica, é o êxito das letras].

Lembro do pernambucano Cristiano Ramos, que se definiu numa orelha: “é leitor” — ele não listou os livros publicados, nem prêmios e/ou títulos, o marketing de sempre. Um escritor que se resume como leitor. E basta. Arretado! Ele tem razão. É muito melhor ler do que escrever. E você só pode ser um escritor se for um leitor. Ler, ler, ler. Muitas & variadas leituras. É a dica que sempre repito quando me perguntam como publicar um livro: leia.


Os 420 livros lidos em 10 anos da “Leituras”


O obsessivo pelo índex contabiliza: em 10 anos da seção “Leituras” (2013-2023), leio 420 livros (uma média de 3,5 livros por mês). São 99 livros de contos (23,57%), 95 romances/novelas (22,62%), 94 de poesia (22,38%), 30 de crônicas, 22 biografias, 17 HQs, 16 de ensaios e 47 de outros gêneros [história, teatro, memórias, etc.]. A maioria esmagadora é brasileira: 342 livros (81,43%) — mas a estrangeira também é prestigiada: 78 livros (18,57%).

2016 é o ano em que eu mais leio, com 63 livros, e 2020 é o que eu menos [apenas 10 livros]. Por sorte, tenho condições e tempo para selecionar e copiar os trechos que mais gosto de 282 livros [67,14% do total lido], postando-os na “Leituras”.

O poeta Ruy Espinheira Filho profetiza: “Com o tempo, só os mortos sobrevivem”. Olho para os mortos da minha estante. Deduzo: escrevo para permanecer. E ao ler, permaneço o outro.

Viva a seção “Leituras” (acesse aqui)! E ainda tem um monte de livro para ler...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: R.E.M.

Foto: Chris Bilheimer A “ Seleta: R.E.M. ” destaca as 110 músicas que mais gosto da banda norte-americana presentes em 15 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Out of Time ”, “ Reveal ”, “ Automatic for the People ”, “ Up ” e “ Monster ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 15 álbuns participantes desta Seleta 01) Losing My Religion [Out of Time, 1991] 02) I'll Take the Rain [Reveal, 2001] 03) Daysleeper [Up, 1998] 04) Imitation of Life [Reveal, 2001] 05) Half a World Away [Out of Time, 1991] 06) Everybody Hurts [Automatic for the People, 1992] 07) Country Feedback [Out of Time, 1991] 08) Strange Currencies [Monster, 1994] 09) All the Way to Reno (You're Gonna Be a Star) [Reveal, 2001] 10) Bittersweet Me [New Adventures in Hi-Fi, 1996] 11) Texarkana [Out of Time, 1991] 12) The One I Love [Document, 1987] 13) So. Central Rain (I'm Sorry) [Reckoning, 1984] 14) Swan Swan H [Lifes Rich Pageant, 1986] 15) Drive [Automatic for the People, 1992]...

Dez passagens de Clarice Lispector no livro Laços de família

Clarice Lispector (foto daqui ) “A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo do orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver no armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve horror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felici...

Dez passagens de Jorge Amado no romance Capitães da Areia

Jorge Amado “[Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava ‘meu padrinho’ e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido por outros mais fortes. A...