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Quinze passagens do romance Niketche: Uma história de poligamia, de Paulina Chiziane

Paulina Chiziane (foto: Nuno Ferreira Santos)


“Mulher é linha curva. Curvos são os movimentos do sol e da lua. Curvo é o movimento da colher de pau na panela de barro. Curva é a posição de repouso. Já reparaste que todos os animais se curvam ao dormir? Nós, mulheres, somos um rio de curvas superficiais e profundas em cada palmo do corpo. As curvas mexem as coisas em círculo. Homem e mulher se unem numa só curva no serpentear dos caminhos. Curvos são os lábios e os beijos. Curvo é útero. Ovo. Abóbada celeste. As curvas encerram todos os segredos do mundo. (...) Tu és feitiço por excelência e não deves procurar mais magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro cabe nas curvas de uma mulher. (...) Mulher é ser solitário na marcha da multidão. Mulher é a dor coletiva que cobre o mundo inteiro. É passado, presente e futuro, lugar e distância, ligados pelo mesmo grito. Em cada passo há uma mulher que se dá, para dar vida à vida. Em cada instante há uma mulher que se espalha como o vento, fertilizando os campos, para transformar o planeta numa alcofa de rendas. (...) Mulher é tronco de salvação para as vítimas de todos os naufrágios. (...) O coração do universo inteiro palpita no ventre de uma mulher. (...) A mulher é a primeira morada. A última morada. (...) A mulher é forte como as rochas do monte Vumba. Suave como as ervas dos prados. Generosa e fértil como as terras negras do vale do Zambeze. Benevolente como um campo de milho. Venenosa como as lavas do Etna. Altiva como o Quilimanjaro. Incómoda e traiçoeira como as brumas do Saara. Ela é a profetisa da eternidade, que revela o passado, o presente e o futuro, quando profundamente escavada pelas mãos mágicas de um bom arqueólogo.”


“(...) É algum crime ter uma escola de amor? Diziam eles que essas escolas tinham hábitos retrógrados. E têm. Dizem que são conservadoras. E são. A igreja também é. Também o são a universidade e todas as escolas formais. Em lugar de destruir as escolas de amor, por que não reformá-las? O colonizado é cego. Destrói o seu, assimila o alheio, sem enxergar o próprio umbigo. E agora?”


“As culturas são fronteiras invisíveis construindo a fortaleza do mundo. Em algumas regiões do norte de Moçambique, o amor é feito de partilhas. Partilha-se mulher com o amigo, com o visitante nobre, com o irmão de circuncisão. Esposa é água que se serve ao caminhante, ao visitante. A relação de amor é uma pegada na areia do mar que as ondas apagam. Mas deixa marcas. Uma só família pode ser um mosaico de cores e raças de acordo com o tipo de visitas que a família tem, porque mulher é fertilidade. É por isso que em muitas regiões os filhos recebem o apelido da mãe. Na reprodução humana, só a mãe é certa. No sul, a situação é bem outra. Só se entrega a mulher ao irmão de sangue ou de circuncisão quando o homem é estéril. (...) Nas práticas primitivas, solidariedade é partilhar pão, manta e sémen. Sou do tempo moderno. Prefiro dar a minha vida e o meu sangue a quem deles precisa. Posso dar tudo, mas o meu homem não. Ele não é pão nem pastel. Não o partilho, sou egoísta.”


“No coração da noite residem os sonhos. Umas vezes são coloridos como as flores. Outras, pássaros negros dançando nas trevas como fantasmas. Anoitece, meu Deus, eu tenho pavor de uma cama fria. Encosto a cabeça no travesseiro e conto o número de vezes que morri. Resisto. Não consigo aceitar a ideia de ser rejeitada. Eu, Rami, mulher bela. Eu, mulher inteligente. Fui amada. Disputada por vários jovens do meu tempo. Causei paixões incendiárias. De todos os que me pretenderam escolhi o Tony, o pior de todos, que na altura julgava ser o melhor. Vivi apenas dois anos de felicidade completa num total de vinte e tantos anos de casamento.”


          “— O Tony é meu marido — digo eu —, arranja um homem só para ti, mulher bonita. Deixa o meu marido que, para além de ter já duas, mostra sinais de cansaço. Está a ficar velhinho, o meu Tony. Eu não te quero agredir. Só quero defender o meu lar.
          — Ele também é meu.
          — Sabes o que significa ser mulher de um homem casado? É o mesmo que fazer filhos na sombra da outra mulher. É não ser socialmente reconhecida como esposa. É ser abandonada a qualquer momento, ser usada, ser trocada. Que futuro esperas tu?
          — E a senhora, que presente tem? Lutar com rivais na rua, estar detida numa cela, era o futuro que esperava?
          — Mas tu não fazes a instituição, eu sim. Tu és a concubina e eu a esposa. És secreta e eu reconhecida Tenho segurança, direito a herança, e tu não tens direito a nada. Tenho certidão de casada e aliança no dedo.
          — Mas eu é que tenho prazer, recebo amor e todo o salário do seu marido. Eu conheço a alegria de viver. Acha isso pouco?”


“Amor. Tão pequena esta palavra. Palavra bela, preciosa. Sentimento forte e inacessível. Quatro letras apenas, gerando todos os sentimentos do mundo. As mulheres falam de amor. Os homens falam de amor. Amor que vai, amor que vem, que foge, que se esconde, que se procura, que se encontra, que se preza, que se despreza, que causa ódios e acende guerras sem fim. No amor, as mulheres são um exército derrotado, é preciso chorar. Depor as armas e aceitar a solidão. Escrever poemas e cantar ao vento para espantar as mágoas. O amor é fugaz como a gota de água na palma da mão. (...) Acabei de aprender a lição da vida. História de um amor só, um amor imortal? Balelas! Uma canção de poetas. O amor solta-se do peito e corre perdido como uma pedra rolando no desfiladeiro. Amar uma vez na vida? Tretas. Só as mulheres, eternas palermas, engolem esta pastilha. Os homens amam todos os dias. Em cada sol partem à busca de novas paixões, novas emoções, enquanto nós ficamos a esperar eternamente por um amor já caduco. Todos os homens são polígamos. O homem é uma espécie humana com vários corações, um para cada mulher.”


“(...) Persegui o rasto do meu homem, o que foi fácil, porque em cada passo ele caga um filho. Fui procurar a Julieta, a segunda, e encontrei uma fera que me deu uma sova mestra e colocou as suas garras no meu pescoço Ela fez comigo o que uma fera faz às suas presas: as ver fui pasto. Acalmei a sua histeria. Vingou sobre mim todas as suas insónias. Tem cinco filhos e espera o sexto. Deu ao meu marido Tony muito mais filho do que eu, que sou a dona do marido. Fui ver a Luísa. Ela defendeu-se a com a valentia dos antigos gladiadores, e ficámos enjauladas como leoas numa esquadra da polícia. Construiu raízes sobre ela. São dois filhos a quem ele presta assistência apenas quando lhe dá na gana. Para alimentar os filhos, a pobre tem que arrancar cabelos e pentelhos, transformar em grão, para cozer o pão. Nem tem emprego, esta mulher. Fui ver a Saly, a quarta. Ela também me deu muita sova e disse-me: teu é o que transportas contigo, no teu ventre, no teu estômago. Teu é o que comeste. Este homem dá-me aquilo que é seu. Enquanto ele estiver comigo é meu, enquanto estiver contigo é teu. E disse-me: eu sou pobre. Sem pai, nem emprego, nem dinheiro, nem marido. Se não tivesse roubado o teu marido, não teria nem filhos, nem existência. A minha vida seria árida como um deserto. O amor que me dá é quase nada, mas é quanto basta para me fazer florir. Deu-me estes rebentos, são dois. Deu-me momentos de felicidade que guardo nos arquivos da minha memória. Digo a toda a gente que sou casada e tenho um marido um dia por mês. E sou feliz. Há mulheres que nem sequer têm um dia de amor em toda a sua vida. Fui ver a Mauá, a quinta. Uma criança ainda. Uma flor silvestre nascida nos jardins do norte do meu país. Ela é a mulher mais amada pelo Tony. Ciúmes dela? Não. Não posso ter ciúmes de uma flor, nem de uma borboleta ao vento. Aquela menina não deve ter mais que dezanove anos. Que ajuste de contas posso fazer com uma criatura que nem tem a idade da minha terceira filha? Andei em brigas, escândalos, feitiços, escolas de sedução. Do amor o que ganhei eu? Nada! Chatices, só chatices. Enquanto me chateio o meu marido não para de fazer das suas.”


“(...) A saia produz calor nos meus interiores, apetece-me despi-la. Talvez seja do vinho. Eu bebi pouco vinho, mas bebo muito afrodisíaco que brota deste desconhecido com olhos de sol. Esqueço todas as regras de boas maneiras e me afundo. Sou um rio escorrendo, fluindo na cascata, estou a cair no precipício. Onde vou ancorar, meu Deus? Estou no abismo, eu me afundo. Vergonha, minha vergonha, não me deixes sozinha, perdida por esta vida. Onde vais, minha vergonha, que me deixas só? Não consigo controlar-me. A vergonha me abandona e me deixa desprotegida. Luto com toda a energia contra e loucura que me derruba. (...) O meu corpo inteiro treme como um terramoto. De medo. De vergonha. Dormi com o amante da Lu! Aquela sedenta era eu, no meio do deserto, perseguindo um grão de chuva. Aquela depravada era eu, bebendo vinho, copo sobre copo, como uma prostituta. Entreguei-me a um desconhecido como uma vagabunda. Será que a Luísa me criou esta cilada? Quem é a Luísa? Quem é o estranho? Eu era uma pedra firme. Incorruptível. Sempre vivi acima das outras mulheres porque era a mulher de todas as virtudes. Feri a minha fidelidade, abri uma brecha, uma ferida que não cicatriza. Derrubei os pilares onde assentavam todos os valores, não resisti à tentação. Queria tanto um detergente para esfregar esta mancha. Uma caverna profunda para esconder a arma do crime, mas a arma do crime é o meu corpo, ah, meu corpo, meu inimigo! Como podia eu resistir aos teus apelos? Carne maldita, o que fizeste da minha alma? É difícil ser fiel, quando se tem o corpo em chamas.”


Paulina Chiziane recebendo o Prêmio Camões 2021 em cerimônia em maio de 2023 (foto: Daniel Rocha)


“A moral é uma moeda. De um lado o pecado, de outro lado a virtude. Silêncio e segredo unidos, no equilíbrio do mundo”


“O sofrimento talha comportamentos à sua medida. Fornece voos curtos e dá visões profundas. Arranca pedestais, descalça os pés e faz pisar o esterco da terra. Despe as penas de pavão e faz rebolar o corpo em poeira e lama. O Tony trajou o seu fato de sofrimento e chora como uma criança. Ficou com a garganta delgada, fala como os pássaros, imitando o sopro das flautas. Ah, mas como me embala esta voz e este canto. Sinto que estou a apaixonar-me outra vez.”


“Respiro um ar amargo. A corda rebenta sempre do lado mais fraco. É o ciclo da subordinação. O branco diz ao preto: a culpa é tua. O rico diz ao pobre: a culpa é tua. O homem diz à mulher: a culpa é tua. A mulher diz ao filho: a culpa é tua. O filho diz ao cão: a culpa é tua. O cão furioso ladra e morde ao branco e este, furioso, grita de novo para o preto: a culpa é tua. E a roda continua por séculos e séculos.”


“(...) Choro. Por mim. Pelos milhões de mulheres que vagueiam náufragas na lixeira da vida. Quem carrega no ventre os mistérios da criação e as sementes da eternidade, para dar luz à vida e iluminar a cegueira do mundo? Somos nós, mulheres, somos nós! (...) Somos nós a noite e a madrugada num só astro. Somos nós que semeamos a flor e o vento que transporta a nuvem negra que fertiliza a terra. Somos a curva do céu e a curva da terra no sim do horizonte. Somos o centro à volta do qual todas as curvas do universo se curvam. Mas somos nós que colhemos a tempestade. É a nós que a vida sufoca, lentamente, e enterra nas entranhas do morro distante. É a nós que os homens matam de sede (...) a nós que a sociedade não dá oportunidade para ganhar com dignidade o nosso próprio pão. Em cada dia buscamos o amor e só encontramos enganos. (...) Nas nossas aldeias, somos levadas as escolas de sexo com dez anos de idade e aprendemos a alongar os genitais, para nos tornarmos lulas, tunas, polvos e bicos de peru. Enquanto isso, os homens vão para a escola do pão. Enquanto eles aprendem a escrever a palavra vida no mapa do mundo, nós vamos pela madrugada fora, atrás das nossas mães, espantar os pássaros nos campos de arroz. (...) Levanto os olhos e contemplo o mundo. Num canto, as mulheres juntam-se em roda e as suas vozes explodem num majestoso canto. As ondas de som sobem de tom e serpenteiam no céu como cavalos selvagens. Esperanças, forças e alegrias brotam do suave canto e caem sobre a terra num dilúvio de flores. A minha dor se transforma em alegria”


“(...) Este povo deixou as suas raízes e apoligamou-se por influência da religião. Islamizou-se. Os homens deste povo aproveitaram a ocasião e converteram-se de imediato. Porque poligamia é poder, porque é bom ser patriarca e dominar. Conheço um povo com tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país. Inspirado no papa, nos padres e nos santos, disse não à poligamia. Cristianizou-se. Jurou deixar os costumes bárbaros de casar com muitas mulheres para tornar-se monógamo ou celibatário. Tinha o poder e renunciou. A prática mostrou que com uma só esposa não se faz um grande patriarca. Por isso os homens deste povo hoje reclamam o estatuto perdido e querem regressar às raízes. Praticam uma poligamia tipo ilegal, informal sem cumprir os devidos mandamentos. Um dia dizem não aos costumes, sim ao cristianismo e à lei. No momento seguinte, dizem não onde disseram sim, ou sim onde disseram não. Contradizem-se, mas é fácil de entender. A poligamia dá privilégios. Ter mordomia é coisa boa: uma mulher para cozinhar, outra para lavar os pés, uma para passear, outra para passar a noite. Ter reprodutoras de mão de obra, para as pastagens e gado, para os campos de cereais, para tudo, sem o menor esforço, pelos simples facto de ter nascido homem. (...) No comício do partido aplaudimos o discurso político: abaixo a poligamia! Abaixo! (...) Depois do comício, o líder que incitava o povo aos gritos de vivas e abaixos ia almoçar e descansar em casa de uma segunda esposa. (...) Todo o problema parte da fraqueza dos nossos antepassados. Deixaram os invasores implantar os seus modelos de pureza e santidades. Onde não havia poligamia, introduziram-na. Onde havia, baniram-na. Baralharam tudo, os desgraçados! (...) No passado os homens deixaram-se vencer pelos invasores que impuseram culturas, religiões e sistemas a seu bel-prazer. Agora querem obrigar as mulheres a retificar a fraqueza dos homens. No regime cristão, as mulheres são educadas para respeitar um só rei, um deus, um amor, uma família, por que é que vão exigir que aceitemos o que nem eles conseguem negar? Negar não é gritar: é olhar a lei, mudar e lei, desafiar a religião e introduzir mudanças, dizer não à filosofia dos outros, repor a ordem e reeducar a sociedade para o regresso ao tempo que passou.”


“Oh, mentirosos são eles. Tenho destino de água porque sou do mar. De todo o corpo sou aquela que mais mergulha, ao despertar, ao deitar, ao sol do meio-dia. Tenho a humidade do limbo e das margens dos rios. Sou um pedaço de mar que não sobrevive sem um mergulho nas águas tépidas. (...) Os homens mentem, mas ah, como eles mentem! Dizem que não somos nada? Que não servimos? Tretas! Mais milagrosas que nós não existe em todo o corpo humano. Por isso nos odeiam, nos temem, nos mutilam, nos violam, nos torturam, nos procuram, nos magoam. Mas é por nós que eles suspiram a vida inteira. É a nós que eles procuram, de noite, de dia, desde que nascem até que morrem. (...) A... é fantástica. Fala todas as línguas do mundo, sem falar nenhuma. É altar sagrado. Santuário. É o limbo onde os justos repousam todas as amarguras desta vida. É magia, milagre, ternura. É o céu e terra dentro da gente. É êxtase, perdição, redenção. Ah, minha..., és o meu tesouro. Hoje tenho orgulho de ser mulher. Só hoje é que aprendi que dentro de mim resides tu, que és o coração do mundo. Por que te ignorei todo este tempo? Mas por que é que só hoje aprendi esta lição?”


“Penso. Quem inventou a moda feminina foi um homem, só pode ser. Inventou sapatos de salto alto para que a mulher não corra, e não lhe fuja do controlo. Se pensasse nela, teria inventado uma botas e mocassinos, sapatos do tamanho do chão, para ela poder caminhar, correr e caçar o sustento, como as amazonas. Inventou as saias apertadas para obrigar a mulher a manter as pernas fechadas, coladas. Se pensasse nela, teria inventado umas saias bem rodadas, para andar à vontade e refrescar os interiores, nos dias de verão. No lugar disso, inventou as roupas coladas, atrevidas, para poder deliciar a vista na paisagem ondulada de qualquer uma e masturbar-se com o simples olhar.”


Presentes no romance “Niketche: Uma história de poligamia” (Companhia de Bolso, 2021), de Paulina Chiziane, páginas 38+188+240, 41, 35-36, 13, 48, 12-13+62, 60, 70 a 72, 79, 199, 236, 252-253, 81-82, 163+165-166 e 232, respectivamente.


Aforismos de Paulina Chiziane em “Niketche: Uma história de poligamia”

“Quando o amanhã chega se transforma em hoje. O tempo é um jogo de luz e sombra, e a eternidade é o presente instante”

“De que vale viajar para a lua para quem ainda não viajou para dentro de si próprio? (...) O paraíso está dentro de nós”

“O amor é muito mais forte na despedida, tal como o último beijo é o maior de todos os beijos”

“Titubeio uma canção antiga daquelas que arrastam as lágrimas à superfície”

“No amor, a solução de um dia não serve para outro dia”

“O sexo é um copo de água para matar a sede, pão de cada dia, precioso e imprescindível como o ar que respiramos”

“Quero ser o horizonte onde os olhos cansados se inspiram e os desesperados repousam”

“Na morte todos se reúnem e choram, mas em vida o homem combate só”

“E o que é o amor senão um acordo de interesses?”

“Para as mulheres o eterno conselho é: segura, fecha, cobre, esconde. Para os homens é: larga, voa, abre, mostra — pode alguém compreender as contradições deste mundo?”

“No amor, todos os homens são traidores”

“Os homens andam de cabeça erguida para o céu, mas a terra é o berço e o céu apenas a estrada láctea, eterna passagem”

“O segredo da sedução reside na cor”

“Por que é que um polígamo é feliz quando as mulheres se batem e é infeliz quando elas se entendem?”

“O amor é um punhado de água escapando nos interstícios da mão”

“Mães, mulheres. Invisíveis, mas presentes. Sopro de silêncio que dá a luz ao mundo”

“Caminho serpenteando com a fluidez da água”

Aforismos presentes no romance “Niketche: Uma história de poligamia” (Companhia de Bolso, 2021), de Paulina Chiziane, páginas 223, 156, 239, 14, 29, 73, 249, 173, 105, 88, 214, 133, 37, 101, 88, 89 e 78, respectivamente.

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