Como o blog é ditatorial, e taí a grande vantagem de fazê-lo, aceito tranqüilamente ser criticado por estar me repetindo. Pois continuarei agora a repetir. Mais uma vez a atração desta seção Pílulas foi me apresentada nos negros anos da Faculdade de Comunicação da UFBA, a famigerada FACOM. Só que desta vez, ao invés das feras anteriores, é uma dama de um incrível e expansivo gargalhar que os apresento: a pulsante atriz e poetisa Raiça Bomfim.
Ela ficou pouco no curso de produção cultural, e foi logo se encontrar na Faculdade de Teatro, onde se formou, e é hoje uma atriz profissional, de intensa atividade. Eu desconhecia sua face literária, que me foi alertada pela Bienal do ano passado, onde se apresentou na mesma praça que este espinho aqui. Mesmo assim, foi graças ao motor da poesia baiana, o amigo José Inácio, que pude conhecer um pouco dos versos de Raiça; JIVM a entrevistou para a seção Sangue Novo (leia aqui). Desde então, sigo seu celebrado e recomendado blog Mainha me Deu Lápis, cujo trabalho, em uma pequena amostra, figura pilulado logo abaixo (os três primeiros estão na íntegra).
Parodiando o que diz Roberto Mendes, o “bom começo de tudo é a Bomfim”. Se jogue, querida, sempre!
"...
Sentada
com as pernas em cruz
largou-se a sorrir feito louca
jurando que era santa
e provava o milagre
a quem lhe pagasse pra ver:
tirava leite de pedra,
água de pau, melaço de carne
e prometia o paraíso
a quem lhe alcançasse
o céu
da boca
------
é maré tonta
e o mar é tanto
que por bem
que eu chore
e sal e seque
e vá e volte
meu naufrágio
é sempre mais
distante e fundo
------
por temor de me ferir
dispense a prudência, corazón
não será o primeiro nem o último
recebo a diferença e o embate
sem escudo ou veredicto, venha
o que peço não é muito:
alguma inspiração, alívio
uma maravilha errante
e a modesta eternidade
dos orgasmos múltiplos
------
Eu queria ser uma
que em tua mão coubesse
acalmada e acolhida
Antes sou esta, que escapa
e grita, e te vê fugir
de espanto e asco
e segues, covarde
entre princesas
e ilusões
Eu sou o que não queres
e avessamente
desejas e te olvidas
de conquistar
------
ninguém
em meu peito há
por ti, ninguém
eu chamo
só tu, ninguém
respondes
ninguém que bem
me ama
ninguém em minha
cama
------
O que nasce da terra
sou Eu
O que a terra seca
aterra e desterra
Pelo vinco sagrado
desenterro-me
sob o palácio estrelado
aterrorizado
Nasci do mistério
e estranho tudo
Mas floresço
e sei
(para Daniel Guerra)
------
Eu sei a cor dos infernos
É nítida pra mim a boca enorme do universo
pronta pra me devorar
Que venha, então, meu inquisidor
e ardamos
------
Em meu altar invisível
santa, puta, louca
e qualquer outra
olham por mim
Ainda que te odeiem, ama
ainda que te prendam, ama
ainda que te deixem
Que esta é a herança
das estrelas
e nossa rebeldia
------
nem leve nem pluma
eu quero amor osso que
se roa pedra que se
parta reta que se
espante realeza parda
sonho de padaria
quero bigorna que incida
desfaça quebre o chão
a casca a via
a rotina quebre a
corrente e o quebranto
------
Vendo o homem que aportou naquela tarde
Que me olhava como quem me conhecesse
Cri-me dona de meu curso, de meu seio
E ao eleito, dispus todo meu engenho
Com um só fio a liberdade eu concedia
E amarras firmes, armadilhas, eu tecia
Projeção de quebradiça tessitura
Flor e ferro de abandono confrontada
E à minha própria força, então, disponho crivo
Pra inconsútil e forra, enfim, libar o gozo
Absolvido
------
O que tomaram não era seu, José
que de ninguém nada se tira.
------
pensei que fosse a morte
ou que fosse a loucura
mas não
foi tema mais terrível
sentido ainda mais forte
meu deus, era o amor
sem norte
------
abismo, amor, poço fundo é risco
não é sina, é sangue, coisa viva à vista
derrame o que seja, veja o que veja
me alcance a vertigem, o medo, e inflame
que o nosso destino, amor, é ponte
e estamos no meio, no veio, ao meio.
(a Seu Pitico)
------
Quis beijá-los com ternura e fúria
o amor frágil de sequência inevitável
amanhã poderia perdoar-nos...
Que meninos foram esses, em que gesto se perderam
ninguém saberá, é selva imensa, é noite longa
compreenda os monstros, mas revele-os.
Os homens não são cães, Caimã,
eles são é carentes.
------
Bela musa ácida
molha a saliva
de tua filha cálida
------
cansados de tanto lamento
caíram na noite, sacudiram o corpo
trocando as pernas, pediram mais uma
..."
.
Ela ficou pouco no curso de produção cultural, e foi logo se encontrar na Faculdade de Teatro, onde se formou, e é hoje uma atriz profissional, de intensa atividade. Eu desconhecia sua face literária, que me foi alertada pela Bienal do ano passado, onde se apresentou na mesma praça que este espinho aqui. Mesmo assim, foi graças ao motor da poesia baiana, o amigo José Inácio, que pude conhecer um pouco dos versos de Raiça; JIVM a entrevistou para a seção Sangue Novo (leia aqui). Desde então, sigo seu celebrado e recomendado blog Mainha me Deu Lápis, cujo trabalho, em uma pequena amostra, figura pilulado logo abaixo (os três primeiros estão na íntegra).
Parodiando o que diz Roberto Mendes, o “bom começo de tudo é a Bomfim”. Se jogue, querida, sempre!
"...
Sentada
com as pernas em cruz
largou-se a sorrir feito louca
jurando que era santa
e provava o milagre
a quem lhe pagasse pra ver:
tirava leite de pedra,
água de pau, melaço de carne
e prometia o paraíso
a quem lhe alcançasse
o céu
da boca
------
é maré tonta
e o mar é tanto
que por bem
que eu chore
e sal e seque
e vá e volte
meu naufrágio
é sempre mais
distante e fundo
------
por temor de me ferir
dispense a prudência, corazón
não será o primeiro nem o último
recebo a diferença e o embate
sem escudo ou veredicto, venha
o que peço não é muito:
alguma inspiração, alívio
uma maravilha errante
e a modesta eternidade
dos orgasmos múltiplos
------
Eu queria ser uma
que em tua mão coubesse
acalmada e acolhida
Antes sou esta, que escapa
e grita, e te vê fugir
de espanto e asco
e segues, covarde
entre princesas
e ilusões
Eu sou o que não queres
e avessamente
desejas e te olvidas
de conquistar
------
ninguém
em meu peito há
por ti, ninguém
eu chamo
só tu, ninguém
respondes
ninguém que bem
me ama
ninguém em minha
cama
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O que nasce da terra
sou Eu
O que a terra seca
aterra e desterra
Pelo vinco sagrado
desenterro-me
sob o palácio estrelado
aterrorizado
Nasci do mistério
e estranho tudo
Mas floresço
e sei
(para Daniel Guerra)
------
Eu sei a cor dos infernos
É nítida pra mim a boca enorme do universo
pronta pra me devorar
Que venha, então, meu inquisidor
e ardamos
------
Em meu altar invisível
santa, puta, louca
e qualquer outra
olham por mim
Ainda que te odeiem, ama
ainda que te prendam, ama
ainda que te deixem
Que esta é a herança
das estrelas
e nossa rebeldia
------
nem leve nem pluma
eu quero amor osso que
se roa pedra que se
parta reta que se
espante realeza parda
sonho de padaria
quero bigorna que incida
desfaça quebre o chão
a casca a via
a rotina quebre a
corrente e o quebranto
------
Vendo o homem que aportou naquela tarde
Que me olhava como quem me conhecesse
Cri-me dona de meu curso, de meu seio
E ao eleito, dispus todo meu engenho
Com um só fio a liberdade eu concedia
E amarras firmes, armadilhas, eu tecia
Projeção de quebradiça tessitura
Flor e ferro de abandono confrontada
E à minha própria força, então, disponho crivo
Pra inconsútil e forra, enfim, libar o gozo
Absolvido
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O que tomaram não era seu, José
que de ninguém nada se tira.
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pensei que fosse a morte
ou que fosse a loucura
mas não
foi tema mais terrível
sentido ainda mais forte
meu deus, era o amor
sem norte
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abismo, amor, poço fundo é risco
não é sina, é sangue, coisa viva à vista
derrame o que seja, veja o que veja
me alcance a vertigem, o medo, e inflame
que o nosso destino, amor, é ponte
e estamos no meio, no veio, ao meio.
(a Seu Pitico)
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Quis beijá-los com ternura e fúria
o amor frágil de sequência inevitável
amanhã poderia perdoar-nos...
Que meninos foram esses, em que gesto se perderam
ninguém saberá, é selva imensa, é noite longa
compreenda os monstros, mas revele-os.
Os homens não são cães, Caimã,
eles são é carentes.
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Bela musa ácida
molha a saliva
de tua filha cálida
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cansados de tanto lamento
caíram na noite, sacudiram o corpo
trocando as pernas, pediram mais uma
..."
Íntegra dos poemas Esquina, Coração Lodo e Repeteco, e trechos dos poemas Por Jorge, Gruta, Lunário, Flama, Matiz, Quedo, Ariadne, An-Dar, Terrível, Ponte, Lobo Lobo Bobo, Sela e Balança Mas No Cry, de Raiça Bomfim, publicados no blog Maínha me Deu Lápis (2009). www.raibomfim.blogspot.com
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Comentários
abs;
Fabrício
Entre as farpas doces deste alime da psicodelia.
Que massa!
Um abraço forte,
Rai.
Espero que volte este ano para São Paulo para pode te conhecer pessoalmente, abraço luz e sucesso!
Fran
Visite meu blog, quando puder...
Sucesso!
Gostei da Raiça Bomfim, só não sei se somos da família sanguínea, mas da família cósmica, certamente.