Anton Tchekhov (foto daqui)
"Ver e ouvir como mentem (...) e depois te chamam de bobo, porque toleras essas mentiras; suportar ofensas, humilhações, não se atrever a declarar abertamente que estás do lado das pessoas honestas e livres, e mentires tu mesmo, sorrir, e tudo por causa de um pedaço de pão, por causa de um titulozinho qualquer, que não vale um centavo – não, não é mais possível viver assim!"
"(...) o marido é sempre assim... honesto, justo, ponderado, sensatamente econômico, mas tudo isso em dimensões tão extraordinárias, que os simples mortais sentem-se sufocados. Os parentes afastaram-se dele, os criados não param mais do que um mês, conhecidos não há, a mulher e os filhos estão sempre tensos de medo com cada um dos seus passos. Ele não bate, não grita, tem muito mais virtudes que defeitos, mas quando ele sai de casa, todos se sentem mais leves e saudáveis."
"Quanto mais desenvolvido é o homem, quanto mais ele pondera e entra em detalhes, tanto mais ele fica vacilante, cismado, e põe mãos à obra timidamente. Na verdade, se pensarmos em profundidade, quanta coragem e confiança em si mesmo são necessárias para se atrever a ensinar, julgar, escrever um livro grosso."
"Confesso que sepultar pessoas como Biélikov é um grande prazer. Quando voltávamos do cemitério, ostentávamos expressões modestas e neutras; ninguém queria demonstrar esse momento de satisfação – um sentimento parecido com aquele que experimentávamos havia muito, muito tempo, ainda na infância, quando os adultos saíam de casa e nós corríamos pelo jardim uma hora ou duas, deliciando-nos com a liberdade completa. Ah, liberdade, liberdade! Até uma alusão, até uma débil esperança da sua possibilidade empresta asas à alma, não é verdade?"
"As desgraças que já experimentamos e que estão presentes agora são tão grandes, que é difícil imaginar algo ainda pior. Que mal ainda se pode causar ao peixe que já está pescado, frito e servido à mesa, ao molho?"
Presente no livro de contos "Um homem extraordinário [e outras histórias]" (L&PM Pocket, 2013), de Anton Tchekhov, tradução de Tatiana Belinky, páginas 89, 94, 47, 87 e 61, respectivamente.
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