Andrew Solomon
Foto: Annie Leibovitz / Scribner
"Por mais alegre que eu me sentisse por causa de nossa decisão, me entristecia o fato de que eu nunca saberia o que poderia resultar da mistura de meus genes com os de John. Eu estava feliz por podermos conseguir um óvulo, mas triste por nenhum de nós ser capaz de produzi-lo; feliz por podermos afinal ter um filho, mas triste por causa da aura de produção industrial que permeava todo o processo. Sem a tecnologia da reprodução assistida, eu nunca teria os filhos que tenho, mas teria sido bom produzi-los num momento de êxtase de amor físico em vez da exaustiva burocracia. Foi caro, também, e embora o dinheiro tenha sido bem empregado, nós dois lamentamos que uma situação econômica privilegiada tenha sido condição necessária para o que preferimos considerar como um ato de amor" [PS: O autor fala da sua experiência com o companheiro John]
"Conversando com muitas mulheres que deram à luz filhos nascidos de estupro, impressionei-me com sua incapacidade de prever a probabilidade do perigo inerente a suas decisões. Todas as coisas ruins que lhes aconteceram, mesmo nas mãos de quem já as agredira, foram recebidas com surpresa. Elas não distinguiam as pessoas que mereciam confiança das demais. Não tinham a intuição a guiá-las e apresentavam uma cegueira para a falta de caráter até o momento em que esta se manifestava (...) Praticamente todas as mulheres com essas características que conheci não tinham sido amadas ou protegidas na infância. No nível mais elementar, elas não sabem o que é o comportamento carinhoso, portanto são incapazes de reconhecê-lo. Algumas estavam tão carentes de amor e atenção que se tornavam alvos fáceis. A maior parte delas estava tão familiarizada com o abandono e o abuso que aceitava essas atitudes como normais quando apareciam em seu caminho; para muitas, abuso era sinônimo de intimidade"
"Não admito modelos competitivos de amor, só modelos aditivos. Tanto minha jornada em busca de uma família quanto esse livro me ensinaram que o amor é um fenômeno multiplicador – qualquer aumento de amor fortalece todo o amor do mundo, que o amor que sentimos por nossa família pode ser um meio de amar a Deus, de modo que o amor existe numa família pode fortalecer o amor de todas as famílias. Defendo o libertarianismo reprodutivo porque, quando todos podem fazer escolhas mais simples, o amor se expande"
Presentes no livro de ensaios "Longe da árvore" (Companhia das Letras, 2013), de Andrew Solomon, páginas 802, 599-600 e 810, respectivamente.
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