Pular para o conteúdo principal

Tardes noites & dias, uma canção que eu amo




Tardes noites & dias
(Wal Jr./Esso A.)

saímos soturnos no escuro da noite
caindo poeira, vertendo histórias
mas é tão tarde, tão tarde da noite
no mesmo lugar dess’euforia lenta
canções dispersas, tantos dispersos
que eu possa cantar, trazer-nos aqui
vem, se distraia com algo estranho
lhe beba a leveza, lhe dança a tristeza

vem a madrugada densa, leve e fria
iluminando o corpo de sombras e sonhos
horas lancinantes em ruas, becos, cidades
monstros que devoram a vontade de ficar
mas sozinho vai andar de hoje em diante
procurando curar seus ferimentos de batalhas
e outros sem lugar

mas é tão cedo, tão cedo e cortante
retirando as cordas do violão noturno
me vens tão cansado com a mão enrugada
de viagens tão distantes por sobre o vazio
a vida e os desejos
desenhos em ti mesmo
borrados no teu rosto
por que tanto choras?
se mostra em teu corpo no escuro da tua boca
a pele na leveza, os tons da tristeza

dorme o prisioneiro no canto de uma cela
lhe jogam o que comer e ele grita de fome assim mesmo
somos tão menores acordados nos braços de sonhos
isso é tão gigante, ninguém poderia nos contar
é tão tarde
é tão cedo
as noites e os dias vão embora
e voltam amanhã


Sexta faixa do disco Bossta Nova (Elephante Registros/2006), do cantor e compositor Esso.

Esso - voz, violão de nylon e guitarra
Lula Alencar - baixo e violão de aço
Wal Jr. - base eletrônica
Teco Cardoso - sax

Letra: Wal Jr.
Música: Esso A./ Wal Jr.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: R.E.M.

Foto: Chris Bilheimer A “ Seleta: R.E.M. ” destaca as 110 músicas que mais gosto da banda norte-americana presentes em 15 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Out of Time ”, “ Reveal ”, “ Automatic for the People ”, “ Up ” e “ Monster ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 15 álbuns participantes desta Seleta 01) Losing My Religion [Out of Time, 1991] 02) I'll Take the Rain [Reveal, 2001] 03) Daysleeper [Up, 1998] 04) Imitation of Life [Reveal, 2001] 05) Half a World Away [Out of Time, 1991] 06) Everybody Hurts [Automatic for the People, 1992] 07) Country Feedback [Out of Time, 1991] 08) Strange Currencies [Monster, 1994] 09) All the Way to Reno (You're Gonna Be a Star) [Reveal, 2001] 10) Bittersweet Me [New Adventures in Hi-Fi, 1996] 11) Texarkana [Out of Time, 1991] 12) The One I Love [Document, 1987] 13) So. Central Rain (I'm Sorry) [Reckoning, 1984] 14) Swan Swan H [Lifes Rich Pageant, 1986] 15) Drive [Automatic for the People, 1992]...

Dez passagens de Clarice Lispector no livro Laços de família

Clarice Lispector (foto daqui ) “A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo do orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver no armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve horror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felici...

Dez passagens de Jorge Amado no romance Capitães da Areia

Jorge Amado “[Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava ‘meu padrinho’ e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido por outros mais fortes. A...