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Mostrando postagens de dezembro, 2024

Produções de Emmanuel Mirdad: Anos 2022 e 2023

A saída da Flica e da produtora Cali me afundaram numa deprê complicada, e eu passei um ano sabático de eventos em 2022 , desorientado e infeliz. Neste ano tão difícil, apenas concluí e lancei o EP “ Andanças ”, da Orange Poem & Mateus Aleluia Filho , e finalizei a gravação do álbum “ Silent Dreams ”, com a voz e assinado pelo reggae star Jahgun e a produção musical de Átila Santana junto comigo, lançando quatro singles do disco (o lança completo só ocorreu em fevereiro do ano seguinte). Já em 2023 , voltei ao mercado como uma fênix! A partir de março, sacudi a poeira da tristeza pela perda da Flica e comecei a desenhar diversos produtos novos, principalmente no segmento literário. Retomei a marca Mirdad Cultura (a primeira versão vivi 10 anos antes, apenas em 2013, antes de assumir a Cali completamente e desistir da MC) e abri uma nova empresa num regime que resisti por anos, mas compreendi que é o melhor para mim: sem sócio. A Mirdad Cultura é só minha. Retomei a parceria ...

Os livros de memórias e ensaios de Joan Didion

Joan Didion (foto: Jante Fries) Entre 2023 e 2024 , tive a sorte de ler seis livros de ensaios e memórias da escritora californiana Joan Didion (1934-2021), um ícone do jornalismo. Era uma das dívidas que mais me incomodavam, pois eu ouvi falar muito bem dela desde os bons tempos da Facom-Ufba e esse estilo mais literário de escrever crônicas, ensaios, reportagens e perfis sempre me fascinou nos produtos midiáticos (fui assinante da piauí entre 2006 e 2016) mais do que os outros estilos. Bastou assistir ao doc “ Joan Didion: The Center Will Not Hold ”, de Griffin Dunne , na Netflix , que resolvi me dar de presente a coleção lançada pela HarperCollins Brasil e mais o “ Rastejando até Belém ”, lançado pela Todavia (que tem a melhor tradução da Didion , feita por Maria Cecília Brandi ). Mergulhei e aproveitei muito. Devorei, a saborear esse estilo tão singular, que o crítico de arte Hilton Als descreve: “a não ficção de Joan Didion se radicalizou pela rejeição à ideia de que o mund...

Quinze passagens do romance O mapeador de ausências, de Mia Couto

Mia Couto (foto: Renato Parada)           “Encosto-me à porta, fecho os olhos e suspiro. Escuto os passos do porteiro que se aproxima com a gentileza de um gato. Encosta a boca ao meu ouvido para superar o volume da música.           — Está cansado, meu poeta? — quer saber o homem. — Que direi eu que trabalho aqui há mais de quarenta anos? Vou confessar-lhe uma coisa: estas festas são iguais às dos antigos colonos...           — Nada mudou para si?           — Para mim? — E o porteiro revira os olhos como se buscasse a resposta no escuro. — O que mudou foi assim: antes, eu não existia; agora, sou invisível.” “O médico conhecia as tendências hipocondríacas do poeta. E sabia dos fundamentos desse estado de carência. Um escritor, defendia Adriano Santiago, precisa de uma doença, de preferência uma que não seja possível diagnosticar. Segundo ele, havia dois inimigos da inspiração poética: o p...

Os romances de Paulina Chiziane

Em 2024 , tive a sorte de ler quatro romances da escritora moçambicana Paulina Chiziane . Até então, não havia lido nenhum da mestra africana, embora tenha endossado a presença dela na Flica 2017 (curadoria de Tom Correia ) – e, como saí da festa antes dela acabar, perdi a oportunidade de conhecê-la (lamento até hoje). Depois de conferir dois livros do Nobel africano Abdulrazak Gurnah (que achei legal, bem escrito, e só), resolvi investir na vencedora do Camões 2021 e... bum! Encanto puro. Viciei. Virei fã. Melhor: sou leitor de Paulina Chiziane . Para mim, a africana que deveria ter levado o Nobel. Recomendo os seus quatro romances (o predileto foi “ O alegre canto da perdiz ”), repletos de frases instagramáveis, emoções doídas, belas imagens, linguagem fluida e repleta de versos em prosa, personagens fortes, enredos polêmicos, reflexivos, duros, diversas questões que a humanidade não consegue resolver. Livros que sangram, como a alta literatura exige que aconteça. Ao devorar os qua...