Pular para o conteúdo principal

Pílulas: Zanom (Especial)

Zanom na Bolívia (2009)

Hoje é aniversário deste cabra aí. Conheci Marcus Vinícius (Jesus, Zanom, Zanomia, etc.), natural de Itapuã, no ano 2000, no cursinho pré-vestibular do PhD, em Salvador. Em março de 2001, estreou comigo a The Orange Poem, com mais três cabras que não se conheciam. Durante seis anos, tocou uma guitarra espetacularmente sensível e psicodélica, um Hendrix floydiano bluseiro sem exageros, suficiente no feeling, sem falsa estrelinha, raridade nessas terras d’acá. Além disso, dividiu sua sabedoria musical, e me instruiu muito, ampliando meu senso de admiração aos deuses da música, como Hermeto, Sivuca, Gismonti, etc. Graças a esse cabra aí, tenho hoje um discernimento musical mais coerente (tento!) e atuante, que me faz canonizar gênios como Tiganá e Mou Brasil, o que seria, talvez, pouco provável de acontecer sem a influência desse amigo irmão de Libra acima.

Zanom hoje mora no Rio, vive uma história de amor real, é fonoaudiólogo mestre, e tem uma bela obra musical autoral pouquíssima conhecida, engavetada, já que não tem a terrível disposição de encarar as armadilhas de uma carreira profissional na música. Escreve bonito também, e tem os dois blogs, este e este, que estão aguardando uma visita de vocês.

Parabéns, meu amigo! Longa vida a tua música e literatura. Ainda produzirei um disco teu, caso deseje assim também. Tal como está no teu Orkut, desde 2006, “eu te admiro profundamente”.

Segue abaixo mais uma série Pílulas com o trabalho de Zanom.

"...

Damos forma ao objeto
para o vazio que o contém

------

Um verso sozinho já faz poema

(...)

E antes só do que mal acompanhado

------

Não sei

se escrevo
ou
se escravo

------

Os partidos são como facas
e nós somos os re-partidos

Entre a Esquerda ou a Direita
É você que vai tomar bem ali no meio

------

O amor pra mim
como sempre imaginei
é morar na mão do outro.

------

Em seu último dia
Inverno se fez presente
Na tentativa de esfriar
Os corações aquecidos

------

São infinitas mulheres infelizes
queixando-se do quão escroto
todos são.

Se ele soubesse,
subia no cordão umbilical

e voltava ao ventre
daquela que
também reclama dele
só que pelos outros

------

Fazendo cara de quem tudo sabe
A médica chegou com o seu estetoscópio
aproximou do peito do homem, e disse :

- Ele morre ainda hoje, vou avisando ao necrotério.

Minha mãe quase morreu junto
afinal, o homem era meu pai

------















------

De fato, tem sempre um momento
que apoiando-se nos joelhos
ele pensa

Porque me levanto?

------

Em tudo aquilo
em que estás, baseado
Eu trouxe, trago e também passo

------

Quem muito se acha acaba se perdendo.

------

Tens Coragem de Amar?

Pouco importa
Será inevitável

------

De longe o que se vê
É um complexo de luzes

A favela é o céu no inferno
Existem ali, milhões de estrelas
Impedidas de brilhar livremente
com violência, fome e desprezo

Mas quando as pessoas acenderem suas luzes
não haverá homem que não se emocione

------

Fazer da pele
um imenso tapete
Imerso em plumas
Abrir os poros
Para que as almas passem
e os corpos passeiem

------

Minha felicidade ao acordar
é ouvir o bater das folhas
ver as sombras que invadem

Escancarar a janela
Para que as árvores entrem
e façam parte daqui de casa

..."

Trechos dos poemas O Vazio, Destinos - No Centro - Milagres, Deixa Eu Cuidar de Ti, O Inverno, A História da Culpa e da Reclamação, Será que Existe um Convênio Entre a Morte e os Médicos?, Encontro, Luzes, Sumiço e Árvores das Laranjeiras, e a íntegra dos poemas Um Verso, Não Sei, Queda, Ele Traz, Eu Trago e Coragem..., de Zanom (Marcus Zanomia), publicados no blog O Poema Nosso de Cada Dia (2009). www.opoemanossodecadadianosdaihoje.blogspot.com

.

Comentários

Zanom. disse…
Valeu cabra !!! A idade tá chegando, e como diz Aquele poema - Não escaparás !

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: R.E.M.

Foto: Chris Bilheimer A “ Seleta: R.E.M. ” destaca as 110 músicas que mais gosto da banda norte-americana presentes em 15 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Out of Time ”, “ Reveal ”, “ Automatic for the People ”, “ Up ” e “ Monster ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 15 álbuns participantes desta Seleta 01) Losing My Religion [Out of Time, 1991] 02) I'll Take the Rain [Reveal, 2001] 03) Daysleeper [Up, 1998] 04) Imitation of Life [Reveal, 2001] 05) Half a World Away [Out of Time, 1991] 06) Everybody Hurts [Automatic for the People, 1992] 07) Country Feedback [Out of Time, 1991] 08) Strange Currencies [Monster, 1994] 09) All the Way to Reno (You're Gonna Be a Star) [Reveal, 2001] 10) Bittersweet Me [New Adventures in Hi-Fi, 1996] 11) Texarkana [Out of Time, 1991] 12) The One I Love [Document, 1987] 13) So. Central Rain (I'm Sorry) [Reckoning, 1984] 14) Swan Swan H [Lifes Rich Pageant, 1986] 15) Drive [Automatic for the People, 1992]...

Dez passagens de Clarice Lispector no livro Laços de família

Clarice Lispector (foto daqui ) “A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo do orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver no armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve horror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felici...

Dez passagens de Jorge Amado no romance Capitães da Areia

Jorge Amado “[Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava ‘meu padrinho’ e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido por outros mais fortes. A...