Nostalgia da lama no traço do seu autor
2014 será um ano de lançamentos para mim. O primeiro a ser desengavetado é o livro de poemas Nostalgia da lama, com 100 poemas, as minhas farpas psicodélicas em uma jornada sobre o cotidiano e o tênue disfarce ilusório que nos habituamos a amar e a chamar de realidade. Mas e esse título?
O poeta e dramaturgo francês Émile Augier (1820-1889) [acima na foto de Antoine Samuel Adam-Salomon] apresentou a expressão nostalgie de la boue (nostalgia da lama em francês) na sua peça Le Mariage d'Olympe (1855), no final da cena I do primeiro ato. O personagem principal, o Marquês de Puygiron, fala algo do tipo "coloque um pato num lago de cisnes que ele vai se arrepender e eventualmente irá retornar", e o personagem Montrichard responde: "La nostalgie de la boue!", ou seja, a nostalgia da lama. Veja abaixo a reprodução do texto:
A peça foi traduzida para o português e o mestre Machado de Assis (1839-1908), admirador de Émile, inseriu a expressão nostalgia da lama no conto "Singular ocorrência" (1883). Ao ler, em 2012, a maravilhosa antologia "50 contos de Machado de Assis" (Companhia das Letras, 2012), organizada pelo professor e crítico John Gledson, em que o conto está presente, encontrei, na pg. 209, a citação à nostalgia da lama pelo mestre bruxo, veja abaixo:
Conheci a expressão no trecho acima e decidi imediatamente batizar algum livro meu com ela. Sobrou para o nome Deserto poema, que perdeu o lugar e hoje nomeia o arquivo restante da minha produção poética. Na nota do organizador, o crítico John Gledson explica: "Em francês, 'la nostalgie de la boue': frase usada ainda hoje, e que provém de uma peça de Émile Augier, Le mariage d'Olympe, traduzida para o português em 1857, proibida pela censura naquela época, mas representada com certo sucesso no Rio em 1880. A peça mostra a maldade da heroína, Olympe Taverny, ex-cortesã que se casa com o conde de Puygiron, mas, por tédio (ou por 'nostalgia da lama'), acaba voltando a seus antigos hábitos."
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