Pular para o conteúdo principal

Adeus ao grande escultor Doidão

Doidão Bahia - Foto: Jomar Lima

Em 2008, na produção do Prêmio Bahia de Todos os Rocks, o então produtor executivo do evento, Marcus Ferreira (hoje meu sócio na Cali), apresentou a sua solução para a criação dos troféus no formato da marca, a figa rock'n'roll: Doidão. Como é? Doidão? Ele insistiu: artista renomado, os gringos adoram o seu trabalho, e ele é de Cachoeira e meu amigo. Topei. E o resultado ficou maravilhoso. Os artistas que ganharam também acharam. E eu tenho muito orgulho do troféu, eternizado com a forja do grande escultor (os enfeites foram decorados por Heloísa Ferreira, mãe de Marcus).

Figa rock'n'roll do Prêmio Bahia de Todos os Rocks 2008 - Foto: Erivan Morais


Figa rock'n'roll do Prêmio Bahia de Todos os Rocks 2010 - Foto: André Fofano


Engraçado que, em 2011, época da pré-produção da primeira Flica, visitei o seu ateliê em Cachoeira, acompanhado por Marcus, e vi que ele estava vendendo várias peças idênticas ao nosso troféu. Brinquei com ele, que não podia, pois era exclusivo e tal, mas como tínhamos abandonado o prêmio (teve apenas duas edições, 2008 e 2010), e tudo indicava que não iríamos fazer de novo, tava tudo certo.

Meses depois, Doidão nos mostrou o quanto que era generoso. A cinco dias do início da Flica 2011, ficamos sem o local para realizar o evento, e tivemos que readequar tudo, sem nenhuma rubrica a mais no orçamento. Virei cenógrafo e fui lá no ateliê, com Marcus, pedir para Doidão emprestar as suas peças para compor o palco das mesas literárias. Pois bem, ele foi solícito, topou na hora, sem pestanejar, nos apoiou e emprestou, gratuitamente, todas as peças que pedi.

Nunca vou me esquecer disso. Muito obrigado, grande artista e escultor! A sua obra é fantástica, muito preciosa para a Bahia. Luz para a sua passagem. Força aos que ficam. Na foto abaixo, com a presença do saudoso prof. Ubiratan Castro (primeiro apoiador do evento na gestão do Governo da Bahia e um incentivador vital para a existência do evento), as peças de Doidão abrem o caminho para a Flica em Cachoeira.


Flica 2011 - Foto: Vinícius Xavier

Saiba mais sobre Doidão aqui

Nota da Flica sobre o seu falecimento aqui

Assinatura de Doidão, em foto de Jomar Lima:



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: R.E.M.

Foto: Chris Bilheimer A “ Seleta: R.E.M. ” destaca as 110 músicas que mais gosto da banda norte-americana presentes em 15 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Out of Time ”, “ Reveal ”, “ Automatic for the People ”, “ Up ” e “ Monster ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 15 álbuns participantes desta Seleta 01) Losing My Religion [Out of Time, 1991] 02) I'll Take the Rain [Reveal, 2001] 03) Daysleeper [Up, 1998] 04) Imitation of Life [Reveal, 2001] 05) Half a World Away [Out of Time, 1991] 06) Everybody Hurts [Automatic for the People, 1992] 07) Country Feedback [Out of Time, 1991] 08) Strange Currencies [Monster, 1994] 09) All the Way to Reno (You're Gonna Be a Star) [Reveal, 2001] 10) Bittersweet Me [New Adventures in Hi-Fi, 1996] 11) Texarkana [Out of Time, 1991] 12) The One I Love [Document, 1987] 13) So. Central Rain (I'm Sorry) [Reckoning, 1984] 14) Swan Swan H [Lifes Rich Pageant, 1986] 15) Drive [Automatic for the People, 1992]...

Dez passagens de Clarice Lispector no livro Laços de família

Clarice Lispector (foto daqui ) “A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo do orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver no armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve horror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felici...

Dez passagens de Jorge Amado no romance Capitães da Areia

Jorge Amado “[Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava ‘meu padrinho’ e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido por outros mais fortes. A...