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Ralph Ellison, preciso

Ralph Ellison - Foto daqui


“(...) Não há nada melhor para fazer o povo dormir do que a simples ideologia. O ideal é encontrar um meio-termo entre a ideologia e a inspiração. Diga o que o povo quer ouvir, mas diga-o de tal modo que ele faça o que queremos.”

“(...) a diferença entre a indignação individual e a organizada é a mesma entre a ação criminosa e a ação política.”

“Olhei o escuro aro de metal ao redor do meu punho e deixei-o sobre a carta anônima. Eu nem o queria, nem sabia o que fazer com aquilo; embora não houvesse nenhuma dúvida sobre guardá-lo, ainda que por nenhuma outra razão além do fato de eu sentir que o gesto do irmão Tarp, de oferecê-lo, era de grande significado e profundamente reconhecido, que eu era obrigado a respeitar. Algo, talvez, como um homem que lega ao filho o relógio do pai, e que o filho aceita não por desejar a máquina antiquada em si, mas por causa das implicações da circunspecção e da solenidade do gesto paternal que, ao mesmo tempo, o ligava aos seus antepassados, assinalava um ponto alto de seu presente e prometia um sentido concreto a seu futuro caótico e nebuloso.”

“(...) a história registra os padrões da vida dos homens, e estes dizem quem dormiu com quem, e com que resultados; quem combateu e quem venceu, e quem viveu para mentir a esse respeito, depois. Todas as coisas, já se disse, são devidamente registradas, isto é, todas as coisas importantes. Mas não de maneira completa, pois, na verdade, é apenas o conhecido, o visto, o ouvido, e apenas esses acontecimentos que o registrador julga significativos é que são assinalados, as mentiras que seus defensores guardam em seu poder.”

“Talvez, como eles, eu fosse uma reversão, um pequeno e remoto meteorito que morreu há várias centenas de anos e vivia, hoje, apenas em função da luz que se desloca através do espaço a uma velocidade grande demais para compreender que sua fonte se converteu num pedaço de chumbo...”

“Nunca fui mais odiado do que quando tentei ser honesto. Ou quando, nesse mesmo instante, tentei elaborar exatamente o que percebi capaz de ser a verdade. Ninguém se satisfaz - nem mesmo eu. Por outro lado, nunca fui mais amado e considerado do que quando tentei 'justificar' e reafirmar as crenças equivocadas de alguém. Ou quando tentei dar a meus amigos as respostas incorretas e absurdas que eles desejavam ouvir. Na minha presença, eles podiam conversar com eles mesmos, pois o mundo estava em suas mãos, e eles o amavam. Assimilavam, assim, uma sensação de segurança. Mas aí o embaraço: com muita frequência, com a finalidade de justificá-los, eu tinha de me agarrar pela garganta e me sufocar até meus olhos se esbugalharem e minha língua pender, oscilando como a porta de uma casa vazia sob um vento forte. Ah, sim, isso os deixava felizes, e me deixava doente.”

“(...) a humanidade é conquistada ao manter nosso desempenho diante de eventuais derrotas.”




Trechos presentes no romance Homem invisível (José Olympio, 2013), de Ralph Ellison, tradução de Mauro Gama, páginas 360, 299, 389, 435, 438, 563-564 e 568, respectivamente.




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