Ana Martins Marques (foto daqui)
Espelho
Ana Martins Marques
d’après e. e. cummings
Nos cacos
do espelho
quebrado
você se
multiplica
há um de
você
em cada
canto
repetido
em cada
caco
Por que
quebrá-
-lo
seria
azar?
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Teatro
Ana Martins Marques
Certa noite
você me disse
que eu não tinha
coração
Nessa noite
aberta
como uma estranha flor
expus a todos
meu coração
que não tenho
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Penélope
Ana Martins Marques
Teu nome
espaço
meu nome
espera
teu nome
astúcias
meu nome
agulhas
teu nome
nau
meu nome
noite
teu nome
ninguém
meu nome
também
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Caçada
Ana Martins Marques
E o que é o amor
senão a pressa
da presa
em prender-se?
A pressa
da presa
em
perder-se
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A festa
Ana Martins Marques
Procuramos um lugar
à parte.
Como se estivéssemos
em uma festa
e buscássemos um lugar
afastado
onde pudéssemos
secretamente
nos beijar.
Procuramos um lugar
a salvo
das palavras.
Mas esse
lugar
não há.
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"Um dia vou aprender a partir
vou partir
como quem fica
Um dia vou aprender a ficar
vou ficar
como quem parte"
"falamos sobre essa casa
implantada nas falésias
aberta
aos gritos do mar
falamos
dessa casa
cada vez mais improvável
onde nenhum de nós vai morar
voltamos em silêncio
eu pensando em certos bichos
que só se acasalam
com dificuldade"
"Faca
Sua fria elegância
não escamoteia
o fato:
é ela que melhor se presta
ao assassinato"
Presentes no livro de poemas "Da arte das armadilhas" (Companhia das Letras, 2011), de Ana Martins Marques, páginas 22, 35, 45, 41 e 75, respectivamente, além dos trechos dos poemas "Três postais" (p. 61), "Falésias" (p. 33) e "Talheres" (p. 16), presentes na mesma obra.
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